Apresentação


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No texto de apresentação da nova seção "Matabicho Lingüístico", dedicada às ciências da linguagem, descubra que a linguagem também pode ser objeto de estudo científico. Descubra que professores de português não passam a vida corrigindo erros dos outros. Descubra o que você pode esperar desta seção (e também o que você NÃO vai encontrar aqui). E também descubra o que é "matabicho".

Olá, leitores e leitoras,

Por sugestão minha e anuência do Rafael, abrimos uma nova seção n’O Pensador Selvagem, dedicada a textos sobre a linguagem. O nome, "Matabicho Lingüístico", significa que é para ela ser lida enquanto você matabicha calmamente em sua casa, antes de ir para o trabalho…

Você não matabicha? Eu matabicho todos os dias, é uma prática muito saudável. É importante matabichar de maneira reforçada, para ter um dia de trabalho ou estudo com mais disposição. Então, enquanto você vai matabichando aí, eu vou explicando qual é a idéia desta seção.

Muitas pessoas têm a idéia de que estudar a linguagem de maneira científica tem a ver com ficar estudando a forma "correta" de falar, a forma que é considerada a "melhor". Isso eu sinto todos os dias, quando me perguntam minha profissão: "Professor de português? Ih, agora vou ter que falar certinho perto de você!" (Como se os professores de português não tivessem mais nada para fazer do que ficar corrigindo os outros…).

Embora nenhum estudioso sério negue a necessidade de se conhecer a forma "correta", a linguagem é muito mais rica do que isso. Dessa forma, eu já começo dizendo o que essa seção NÃO é: aqui não é o espaço para se tirar dúvidas de português ou para saber se "bering/jela" é com j ou com g. Para isso existem outros sites/sítios muito melhores e mais confiáveis, com profissionais mais gabaritados do que eu, para tirar suas dúvidas. Recomendo um deles: o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Ou melhor ainda: perca a preguiça, termine de matabichar e pegue o dicionário ou o livro de gramática que você tem guardado em algum lugar da sua estante.
É possível que em alguns textos desta seção eu realmente toque em assuntos como ortografia e coisas do tipo, mas isso não será o foco. Então, o que afinal você vai encontrar por aqui? Bom, já que eu mencionei ali em cima que os professores de português têm muito mais o que fazer do que ficar corrigindo os outros, você deve estar se perguntando, enquanto termina de matabichar, "o que mais além disso faz um professor de português?" Eu entendo, caros/as leitores/as, que realmente pode parecer absurdo para os matemáticos e químicos dentre vocês aí, mas é possível estudar a linguagem do ponto de vista científico. Sim, eu disse CIENTÍFICO.

(Um parêntese: eu nunca deixo de rir ao me lembrar de quando dois amigos estudantes de Física me encontraram lendo um livro de Semântica Formal no ônibus. Depois de pegarem o livro e folhearem um pouco, olharam para mim com cara de assustados e disseram: "Nossa, esse livro é de gramática? Uau, a gramática também é uma ciência!")

Sim, existem estudos científicos sobre a linguagem, e são tão complexos quanto qualquer outra ciência. Por acaso, a ciência que estuda a linguagem se chama "Lingüística".

Para ilustrar um pouco, vou fazer um paralelo com outra ciência que é indiscutivelmente científica: a Química. Mas como não sou químico, se houver leitores químicos por aí, por favor, me corrijam.

A Química, da forma como eu a entendo, tem como um de seus objetivos principais descrever as substâncias que compõem o universo conhecido e explicar como elas se organizam para formar outras substâncias. Para isso, os químicos organizam os elementos conhecidos sob a forma de uma tabela, a famosa "Tabela Periódica dos Elementos", que conta com pouco mais de 100 elementos. Vocês já pararam para pensar como isso é fascinante? Pouco mais de 100 elementos formam nada menos que todas (eu disse TODAS) as substâncias existentes no planeta e no universo até onde nós conhecemos. Como isso é possível? Como é que apenas 100 elementos, que podem ser listados numa tabela que ocupa uma página do seu livro do Ensino Médio, são capazes de formar toda a riqueza e diversidade de substâncias, inclusive as do nosso próprio corpo? Pois é, é essa pergunta que os químicos se fazem, e é ao procurar respondê-la que eles vão construindo teorias, modelos, desenvolvendo experimentos e descobrindo tecnologias.

Agora, talvez você nunca tenha se dado conta, mas na linguagem nós temos um dado tão ou mais fascinante do que este. Vocês já pararam para pensar quantos sons diferentes nós utilizamos em nossa fala quotidiana? Vocês talvez não, mas os lingüistas já: embora o aparelho fonador (laringe, boca, narinas etc.) tenha capacidade para produzir um número talvez infinito de sons diferentes, nós empregamos no nosso dia-a-dia apenas algumas dezenas deles. O português brasileiro emprega perto de 30 sons diferentes. O inglês emprega um pouco mais, o espanhol um pouco menos, e as línguas com maior variedade de sons não empregam mais do que 50 sons diferentes. Menos ainda que os elementos da tabela periódica. Mas com apenas essas poucas dezenas de sons, você consegue criar uma quantidade infinita de frases e textos diferentes, como este que estou criando agora. Não é tão fascinante quanto a Química?

Como isso é possível? Como é que com apenas 30 sons diferentes nós somos capazes de nos comunicar diariamente de forma a nunca repetir a mesma frase duas vezes? Esse é o tipo de pergunta que os cientistas da linguagem fazem.

Bom, a essa altura você já deve ter terminado de matabichar. Espero que não tenha tido nenhuma indigestão. E espero que eu tenha conseguido despertar em você um pouco de curiosidade para entender melhor como é o estudo científico da linguagem. Se você tiver algum questionamento, tiver vontade de entender algum aspecto do funcionamento desse mecanismo cognitivo fascinante (e desde que não seja algo do tipo "É errado falar assim?"), pode perguntar que, na medida do possível, eu procurarei responder.

Até a próxima semana, e não se esqueça, os nutricionistas recomendam um matabicho rico em frutas!

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Bruno Maroneze