Psicoterapia infantil em contexto: quem é o cliente?


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Por que muitas vezes os pais procuram terapia para seus filhos? Esse fato parece estar relacionado a uma maior aceitação dos trabalhos de psicologia em geral, pela divulgação de termos psicológicos no âmbito leigo e principalmente pelas dificuldades que inúmeras famílias têm encontrado em educar seus filhos em um ambiente tão distintos do qual foram educados.

Geralmente a iniciativa de procurar atendimento não parte das crianças, pois muitas vezes elas são encaminhadas pela escola, médicos, levadas por iniciativa dos pais que identificam algo que consideram problemático, ou ainda para prevenir dificuldades futuras (p. ex. “meu filho é muito tímido”). Independente do motivo, geralmente busca-se solução para algo na criança, raramente nos contextos sociais.

A sociedade costuma oferecer modelos de normalidade e adequação, que são criados a partir das características mais comuns ao grupo; os indivíduos e comportamentos que se diferenciam dessa média são considerados anormais (ver texto 1 Robson). Tanto os comportamentos normais (aceitos pelo grupo) quanto os anormais (indesejáveis), tem os mesmos processos de aprendizagem e segundo a análise do comportamento, podem ser produzidos pelo mesmo grupo social.

O aprendizado de novos comportamentos pode ocorrer de três formas: através de regras (um indivíduo diz como o outro deve se comportar), pela experiência (o indivíduo se comporta ao acaso e experimenta as conseqüências de seu comportamento, sendo que seu comportamento é modificado por essas mesmas conseqüências) e pela modelação (imitar o comportamento de outro membro do grupo). A aceitação de que os repertórios comportamentais são aprendidos vai contra a idéia de imutabilidade, de que se um indivíduo nasceu de uma forma, assim permanecerá sem maiores mudanças.

A psicologia comportamental enfatizando a noção de aprendizagem tirou a psicologia clínica do modelo médico propondo um modelo psicológico, comportamental. Colocou-a ao lado da educação, mostrando que a função de ensinar novos repertórios comportamentais não aprendidos é necessária para uma melhor adaptação das pessoas aos contextos de dificuldade e sofrimento.

O fato de um novo comportamento ser aprendido não garante que ele vá ocorrer novamente, isso vai depender dos antecedentes envolvidos e das conseqüências produzidas no ambiente. Partindo-se do pressuposto de que não existe comportamento anormal, mas sim comportamentos aprendidos que tem ou que tiveram uma determinada função em um contexto específico, e de que a mesma sociedade produz tanto o normal quanto o “anormal, é imprescindível a análise cuidadosa dos comportamentos familiares no atendimento infantil.

A família geralmente leva a criança para a terapia acreditando que irá resolver o “problema”, muitas vezes sem saber qual deve ser sua participação no processo, podendo imaginar que isso se restringe a levar o filho(a) até a clínica psicológica. É bastante comum alegações de problemas “vindos do berço”, ou seja, os pais explicam os problemas de comportamento do filho como sendo inerentes a sua genética, por isso não passíveis de mudança ou responsabilidade familiar. Aqui abundam diagnósticos errôneos de Transtorno de Hiperatividade e Déficit de Atenção (TDAH), onde infelizmente, observa-se o fenômeno da medicalização, entendida como a prescrição não criteriosa de medicamentos, a exemplo da tão conhecida Ritalina.

A decisão de quem é o cliente (ou os clientes) é feita após uma criteriosa avaliação funcional. É importante ressaltar que embora se trate de um processo contínuo durante toda terapia, essa é a melhor forma de explicitar quem será o cliente, quais são seus comportamentos-problema e quais são os fatores que ainda os mantêm em repertório. Dada avaliação é importante pois possibilita o desenvolvimento das estratégias de tratamento que serão utilizadas. Em alguns casos se o problema central for um ambiente familiar ou escolar perturbador, ou que não possibilite o desenvolvimento saudável da criança, o foco pode ser voltado para os membros da família ou para outros grupos de interesse. De outro modo, se o problema for algum déficit de habilidades, o foco da psicoterapia pode ser a criança.

Por esses motivos existem várias formas de se trabalhar em psicoterapia infantil dentro da análise comportamental clínica. Pode-se trabalhar somente com a criança, desenvolvendo uma série de habilidades que possam tornar seu comportamento mais adaptado às suas necessidades. Outra possibilidade é o trabalho com ênfase no atendimento aos pais. Nesse tipo de atuação é realizado um trabalho de orientação com os responsáveis quando é avaliada maior inadequação nas práticas educativas. A opção por esse tipo de modalidade ocorre também caso a criança seja ainda muito nova, não tendo ainda um repertório verbal suficiente para um trabalho efetivo.

A terceira opção seria atender a criança e a família em um trabalho conjunto. A criança é a cliente, mas realizam-se atendimentos de orientação com os pais em paralelo. Essa opção atinge melhores resultados, pois a criança pode ampliar seu repertório e a família, ao se reconhecer como mantenedora do comportamento inadequado, pode mudar o contexto relacional. Com isso os familiares tornam-se mais sensíveis ao novo repertório da criança.

A pergunta que fica é como a família ou a escola, os possíveis mantenedores dos comportamentos-problema da criança, podem atuar como modificadores destes mesmos comportamentos? Uma análise cuidadosa mostrará que é justamente o fato de serem mantenedores que dá sustentação a essa proposta, pois mudanças em seus comportamentos refletirão em mudança no comportamento da criança.

Terapia infantil não é sinônimo de criança problemática! Muitas vezes o curso da terapia comportamental contextual evolui a ponto de deslocar o trabalho psicoterapêutico infantil para o trabalho com a família, ou até mesmo para o trabalho com o casal. Essa particularidade pode ser vista como um grande impeditivo da colaboração familiar. Os pais podem insistir em canalizar uma suposta “culpa” para a criança tida como “problemática”. Felizmente a mesma família pode vir ser a grande aliada para o sucesso do trabalho.

 

Agradeço a colaboração da psicóloga Juliana Helena Silvério.

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Paulo Abreu