Pólis By Cláudio André de Souza / Share 0 Tweet Muito confete e serpentina se joga na grande imprensa quando se trata de informar (ou desinformar?) algo sobre o governo Lula. Não foi diferente com o anúncio reiterado por vozes especialistas de ploantão que davam conta dos 84% de apoio ao Presidente Lula. Mas afinal, como pode-se traçar friamente elementos para se entender não 84% mas que conteúdo emerge de apoio ao governo nete momento. Abaixo veremos rascunhos despretenciosos que visam retomar elementos perdidos quando se trata de perceber como um governante beira o consenso. Uma vez ouvi dentro de uma das organizações de juventude da esquerda brasileira pós-ditadura que as votações deveriam valorizar o consenso e, portanto, buscar o máximo de satisfação comum dos seus membros. Parece interessante se nós não estivéssemos atualmente vivendo num profundo simulacro dos interesses básicos de reprodução da vida social. Em outras palavras, se valoriza muito as diferenças, mas os principais atores da sociedade não abrem mão de repartir o “bolo”, responsável maior por forjar uma vida melhor para boa parcela da população. Marx afirmara um dia, grosso modo, que o sonho do proletário é ser burguês. Se pensarmos como necessário valorizarmos a democracia e a construção de uma sociedade mais justa é importante indagarmos, indubitavelmente, se há uma satisfação com os rumos que os governantes estão levando o país e o sentido do futuro: a política nem sempre se pauta apenas pelo presente, mas pelo futuro, o horizonte, responsável pela papel do político nas sociedades contemporâneas. Fomos invadidos pela famigerada telinha (estão cada dia maiores, inversamente proporcional aos apartamentos feitos para a classe média) no tocante a um dado que a grande imprensa trata como assustador ou fruto doméstico de raízes da crise internacional: a popularidade do Presidente Lula, de 84%. A grande imprensa parece que não deu a devida explicação ao processo político que vivemos ficou na superficialidade que beira a omissão, prevaricação do fato, mediocridade ou as três combinadas. Pensa-se que o êxito do presidente Lula se deve a alguns fatores que a grande mídia tem medo de “feder” como as grandes reformas, os papel de algumas políticas governamentais, dentre outros. Dentre muitas conjecturas e incertezas podemos destacar que o governo conseguiu imprimir em parte dos movimentos sociais, inclusive os que o partido dirige, um discurso de que tudo que está sendo feito é o possível e vale muito perante a herança maldita do anos neoliberais de FHC à frente do executivo brasileiro. Neste ínterim, há um vácuo analítico: pra onde vai o governo quando constroi um arco de aliança para 2010 que inclui setores à direita do PT que já vêm ocupando espaços institucionais no executivo e em vários estados? Há uma diferença entre as contingências da coalizão e as convicções de um projeto político, do contrário sobra para os cidadãos comuns um simulacro perigoso: acreditar que um certo setor político é, mas não é. A política se pauta pelas ações dos grupos e indivíduos e, sendo assim, o governo Lula surfa numa popularidade assentada por um projeto de Estado limitado ao centro e por um projeto de sociedade á esquerda? Este enigma na grande imprensa pode ser herdado pela ciência política capaz de se debruçar no entendimento dos projetos políticos em jogo para 2010. No mais, Lula não é conflito, é consenso. Não propõe agendas à esquerda porque não foi eleito para isso. Ele é literalmente o representante de uma sociedade em grande parte conservadora e credora de que o melhor caminho para o país é se deleitar nos valores do liberalismo e no regime de mercado que funda a pior crise econômica desde 1929. Lula abriu mão de construir um projeto transformador da sociedade e vai levar para 2010 o que é possível conciliar com o status quo das elites econômicas do país? Que tipo de cultura política o governo do PT ajudou a forjar com a sua estadia nos maiores postos institucionais do país? Em resumo, podemos imaginar que os 84% de apoio dado a Lula espelha os valores de que “ele está certo”, mas de quê? Decerto, de um capitalismo que vai bem, de uma situação econômica de crescimento, de programas sociais de assistência que chegaram à vida dos mais necessitados e da robustez de um governo que não mede esforços. Talvez a melhor imagem para pensar os 84% do presidente canarinho é de um marinheiro de mares revoltos, um abnegado num mundo de contingências sociais, políticas e econômicas. Se deslocando do objeto, podemos abstrair a nossa existência e voar pelos traços do tempo, tentando compreender que o projeto político do presidente das adversidades pode se tornar refém da contingência da centro-direita caso não se introduza no jogo uma peça que pode virar a situação do jogo. Mas que peça é essa? Provocações à parte, que ator político pode forçar uma nova configuração do jogo? Quem tem uma agenda e mobilização suficiente para tal? Porém há uma perspectiva de grande constatação: De fato, são poucos os descontentes com o governo Lula. Tirando os setores da esquerda do cenário, sobra-nos a ululante realidade de que governo agrada os dois lados do muro dos interesses, isso está longe de se supor que há em jogo uma total simbiose de interesses sociais. Ao contrário, o país fornece um cardápio de resultados não palatáveis: brutal concentração de renda, meio ambiente tragado pelo capital, educação de qualidade concentrada na rede privada, saúde aquém do necessário, maiores índices de corrupção e uma carga tributária que faz com que o trabalhador que ganhe menos pague mais. Encerramos com uma pergunta, é o governo Lula um agente de pacificação de conflitos? Qual a tática de cunho teleológico que o PT e Lula buscam empreender ao se lançar ao poder rumo a buscar avanços de menor alcance com vista à condição social da classe trabalhadora? Estes elementos de análise passam ao largo das redações e estúdios, mas nos fazem supor que os 84% não explicam nada, a não ser o fato de que é Lula um ente de prestígio na política brasileira, daí a transferir voto ou tirar de alguém é outra história.