O que é um próspero ano novo?


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Em festinhas regadas a coisas que só se come na última semana do ano o que mais ouvimos é que ano novo seja próspero, de quê? Em geral o que se vê é um monte de indivíduo que festeja o queijo e não se sabe quem será o dono da faca, o poderoso…

Para tanto, esperamos contribuir neste breve artigo com uma problemática o que esperar do ano que vem, quais serão as preocupações essenciais que deve ocupar nossas mentes? O que é ser próspero? Pra quem? Seguem dez provocações que devem ocupar as nossas vidas em 2009 com um pano de fundo: devemos desejar e necessitar de um projeto de sociedade que seja mais justo e igualitário, pois talvez o mundos e torne tão perigoso como ler livrosd e filosofia. Como produtor deste ato há um projetod e humanidade que um dia quis crer que havia bens comuns entre nós, os mortais.

É recorrente que nos cerquemos de misticismo, superstições e de um desejo púrpuro que o ano novo tem tudo para colher êxitos em prol de sucesso e reconhecimento para indivíduos dignos de tamanho apreço. Contudo, é raro vermos se tornar um debate público vigoroso que tipo de cidadão queremos ser no ano que se iniciará. E mais: como fomos durante o ano que se finda. Qualquer sociedade democrática não pode prescindir indivíduos que internalizem o fato da sua existência está diretamente ligada a uma vida social. A indagação do quão temos uma vida pública vigorosa se mostra tão pusilânime nas sociedades capitalistas contemporâneas quanto o interesse que os cidadãos demonstram com a política. Numa sociedade que considera que cada indivíduo tem uma viga mestra singular, a discussão de temas de interesse público acabam por ser “privatizados” pela crença de que não é mais possível identificarmos “bens comuns”, aliado a uma negatividade da política. O desprezo da política traduz o desinteresse em conceber que é através desta que podemos consolidar os nossos interesses pactuando com demais “interessados”. A sociedade é um grande mercado de interesses, se assim quisermos aproximar a política das verborragias que perfazem a economia e os “noticiários shampoo” da grande imprensa: nunca se sabe se aquilo que diz a TV é verdade ou uma “mentira sincera”. O caminho talvez seja repensarmos que modelo de sociedade queremos e a densidade em nossas vidas de uma constatação irrevogável: ainda vivemos em sociedade e os problemas que nos afetam terão eficácia caso sejam fruto de resoluções em escala social. Transporte, trânsito, desemprego, aquecimento global, representação política, qualidade da saúde, etc. São todos pontos cruciais em nossas vidas e imprescindíveis de serem gestados em conjunto com os nossos pares. Abaixo, seguem dez provocações que se arrastarão pelo ano vindouro:

1) Podemos considerar que a democracia brasileira ainda carece de enfrentar de verdade uma série de desafios, um deles é que tipo de relação estabeleceremos com os nossos governantes. Uma boa democracia é aquela que engendra bons representantes, para tanto, devemos ser bons representados. Fiscalizar, acompanhar, propor alternativas que contemplem as demandas de grupos sociais e se organizando na sociedade civil. Associações, ONGs, sindicatos, partidos políticos, grupos culturais. Se isto ganhar corpo, sugere-se que passamos a revalorizar a política, isto ocorre se mudarmos a nossa cultura política e passarmos a participar ativamente na sociedade, saindo de uma inércia que concebe a lógica de que há “cidadãos comuns” e “profissionais da política” sem o estabelecimento de um intercâmbio sendo que um dos lados é determinante da existência do outro e vice-versa.

2) A discussão sobre o trânsito nas grandes metrópoles não irá provocar em grande medida uma proposição ácida aos individualistas de plantão: por que não se faz um controle da venda de carros, assim como faz a China com a política de planejamento familiar e demográfico? Independente do tipo de sociedade que a China constrói, a venda de carros ocorrendo livremente compromete a mobilidade urbana. Para tanto, alternativas devem ser construídas: menos carro, mais transportes públicos eficientes e confortáveis. Se conseguirmos diminuir a quantidade de carros que servem a poucas pessoas e a supremacia do transporte público significa que vencemos a briga contra o capital que não emana um imaginário nas pessoas de uma vida em grupo, mas ao contrário, para poucos indivíduos a possibilidade de um universo particular, para outros tantos um universo particular de miséria, exploração, saúde inacessível, desemprego, falta de saneamento e moradia digna.

3) A crise global dominará as redações da grande imprensa e da televisão. Irão apresentar a versão de que todos nós temos culpa pela quebra de empresas que promoveram um cassino no mercado financeiro de ações. A mídia se ocupará de afirmar como nós devemos reajustar o nosso modo de consumir à luz de contingências, tudo em prol de um capitalismo que saia com poucos arranhões. Contudo, o fato é que todos os cidadãos comuns continuarão pagando a fatura da crise em mais intensidade do que os ricos que andam de jatinho e comem caviar. A desigualdade social será mantida. Ficam em aberto como os movimentos sociais se comportarão no embate público de como a crise reflete uma forma de sociedade que mantém o mesmo espírito predatório ora identificado por Marx no século XIX.

4) As eleições de 2010 farão um 2009 chato, depressivo, com a mídia cobrindo as movimentações de presidenciáveis que talvez articulam apoios com barganhas, troca de favores e governos de aparência fazendo tudo que não é na essência: eficaz, comunicativo, menos burocrático e preocupado com os mais pobres. Independente se é a mídia que rebaixa a política ou se ela reflete esta como ela é, ficamos com as duas opções, até por que há setores da imprensa que de fato provocarão reflexões importantes na sociedade: as idéias, o programa partidário, como resolver algumas questões essenciais e que tipo de relação os governos estabelecerão com a sociedade civil.

5) O governo federal e os demais na esfera estadual vêm se preocupando com a educação enquanto mecanismo de construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A educação vem melhorando, contudo, ao contextualizarmos com um modelo de sociedade chegaremos à constatação de que a educação pública esbarra numa sociedade privatizada. A educação melhora em parte e ratifica a estratégia do “menos pior”. A esquerda se apresenta á sociedade na busca de uma sociedade do “menos pior”. A supremacia dos “desiguais” continua, mas com diferenças em gradação menor?

6) O esporte anda em maus lençóis. De paixão e orgulho extasiantes de um indivíduo carente de uma vida pública ativa encontram agora um futebol racional, voltado como uma empresa à vitória e êxito enquanto uma empresa que visa lucrar por lucrar. Os esportes estão reféns do capital. A criatividade e as ações não-econômicas cedem ao cálculo frio e racional da empresa moderna voltada para o acúmulo de riqueza. A sociedade desigual do lucro necessita colonizar elementos da tradição e situados nas questões não-econômicas. O casamento, por exemplo, ruem pelas dificuldades financeiras de ordem material ou já nascem baseados numa estratégia baseada num cálculo.

7) Veremos na sociedade uma vitória do capitalismo. A sua supremacia é evidenciada pela atuação dos setores considerados de esquerda. De contestatórios de uma sociedade capitalista que supostamente explorava o homem através de outros homens e privatizava o cidadão, buscou-se uma estratégia de confrontar o sistema por dentro, porém, em muitos países a esquerda não tem obtido sucesso no fluxo do sucesso de uma contra-hegemonia transposta. Talvez a alternativa para 2009 seja o maior aparecimento dos setores de esquerda, haja vista a possibilidade do status quo ser descredenciado por promessas não-cumpridas pelo capitalismo. A questão essencial é que parte da esquerda, decerto, optou por um socialismo com capitalismo. Perante uma era neoliberal o que é ser de esquerda?

8) O evento que mais poderá apontar alternativas á sociedade estabelecida deve ser o Fórum Social Mundial que será sediado no Pará. Lá haverá uma sinergia em discutir estratégias de um 2009 que revele caminhos e possibilidades para uma sociedade mais democrática, participativa, onde se compartilhe bens em comum e se pense nos fins não-econômicos. A esquerda será posta em questão e o quanto há elementos em comum com o projeto de sociedade da direita. Enfim, continuamos a esperar que propostas a esquerda vai apresentar para os desafios da atualidade, ajustando o passo das idéias e as ações postas prática. Que há elementos que o capitalismo apresenta como virtudes suas e que podem se combinar com uma sociedade de cunho socialista parece haver consenso, mas e quanto ás ações que devem enfrentar o capital?

9) A defesa de uma sociedade mais justa e humana irá ganhar força na agenda política no passo em que a sociedade civil identificar erros e limitações da sociedade capitalista. A condenação da sociedade atual só poderá obter êxito em medida significativa quando houver através da esfera pública uma alternativa posta. Neste processo, pensemos: quem é Lula na cabeça do eleitorado? De esquerda, socialista, democrático, revolucionário? A crise econômica suscitará reflexões e julgamentos nas sociedades onde ela fincar-se em grande escala, mas, para o sucesso de outra lógica deve-se se diferenciar em termos discursivos combinados com uma proposta efetiva de atuação na esfera estatal. As eleições presidenciais de 2010 podem refletir uma mistura das peças no tabuleiro ou uma demarcação de espaço. Escolhas serão tomadas e práticas beberão desta fonte, ou não.

10) Em termos gerais, espraia-se no cotidiano uma indagação presente na pós-modernidade: até quando as sociedades agüentarão “super-indivíduos” em detrimento de uma super-sociedade? Achamos que o ano que vem deveria ser batizado como o ano que o a sociedade vai rever a sua atuação na/com a política. Mais direitos combinados com mais deveres. Óbvio que não podemos nos furtar do fato de que os indivíduos são jogados na vida privada do trabalho e largam a política para alguns que devem representá-los. De qualquer forma revalorizar a política é revalorizá-la com intermédio de conquistas: do lixo jogado ao chão ao direito de ter acesso à bens materiais e simbólicos.A política em 2009 deve ser aquela figurinha que todo mundo quer ter no seu álbum, com grande poder de troca. O imbróglio jocoso reside em alguns só ficarem com as repetidas e se “acomodarem” (ou serem acomodados?) em ter um álbum, mas incompleto e sem valor. Esta analogia lembra o quê?

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Cláudio André de Souza