A Vitória em 2008 foi do PMDB ou do carlismo?


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Os resultados eleitorais podem mascarar o real sentido das urnas. Para tanto, segue neste artigo as possibilidades de uma leitura de caráter verdadeiro sobre as eleições da Bahia: quem venceu foram os carlistas que estão muitos com o atual governo eleito para sucumbir esta forma de agir/pensar na política e outros com a oposição também formada por carlistas. No final das contas sobra ,dentre outros, um partido que foi eleito para mudar com tudo isso: o PT. Que assiste o crescimento do PMDB com a composição majoritária de que segmento ideológico, advinha?

As próximas considerações que empreenderemos acerca da política na atualidade não se rebaixarão aos fatos por si só, aparentes, como uma foto aérea de um presídio. ou um programa televisivo que espremendo-o sai “sangue”. Muitos analistas e setores da mídia prestam-se a ler as disputas eleitorais como um momento regido apenas por um pragmatismo difuso. Alianças exóticas, programas de governo genéricos, personalismo dos projetos políticos em xeque, ou seja, um verdadeiro reino de cálculos que buscam delimitar a política como um grande “negócio”. O que muitos vêm a identificar através de estudos da Ciência Política é a supremacia de um mercado político. As idéias e valores ainda contam e, não obstante, é a ele que muitos se perguntam neste momento com o atua lpapel político cumprido pelo PMDB na Bahia, chancelado pela vitória nas eleições municipais em Salvador, reelegendo o ex-pedetista João Henrique Carneiro, filho do ex-governador João Durval, dissidente do grupo político do falecido Senador Antônio Carlos Magalhães. Segue abaixo três interpretações essenciais para se perceber a atual situação do carlismo na Bahia., entenderndo-o enquanto um movimento que envolve práticas políticas além de uma dimensão ideológica.

Em primeiro lugar, a derrota do carlismo nas eleições de 2006 ante a vitória do petista Jacques Wagner no primeiro turno com o apoio do PMDB de Geddel Vieira Lima, remonta a discussão se aquele seria o fim de linha para os que prevaleciam no cenário baiano desde a década de 60, aglutinado pela figura do jovem Antônio Carlos Magalhães. A vitória da oposição levou centenas de prefeitos do grupo carlista a mudarem para as bandas do governo sucessor. O partido escolhido pelos “novos governistas” foi o PMDB, que os acolhe de portas abertas. Antes que se imagine que ganha eleição quem tem mais prefeitos o apoiando, vale o exemplo do último escrutínio citado: Jacques Wagner venceu com pouco mais de 50 prefeitos ao seu lado. Sabemos que a política toma para si o elo discursivo como um elemento constitutivo. Mas, afinal quantos novos prefeitos “ex-carlistas” haveriam mudado de percepção acerca de temas como representação, reforma política, democracia, valores, opiniões, etc.? Ou seja, mudaram de lado mudando suas convicções? Independente da resposta supõe-se a possibilidade de se manter um ethos carlista fora daquele núcleo original, sob uma constante erosão, como aponta as recentes análises do professor e cientista político Paulo Fábio Dantas Neto, principal estudioso do carlismo no Brasil. A pergunta derivada seria em que medida haveria um modo carlista de governar mantido sob as hostes do PMDB. Haveria, portanto, uma forte confluência entre as perspectivas do PMDB e o carlismo? Talvez sim, vide a aliança no segundo turno em Salvador.

Em segundo lugar, é notória a aproximação do PMDB de setores carlistas em quase toda a Bahia. Os valores, percepções do mundo e práticas não sucumbiram por uma ordem decretada pelas urnas. Elas mais parecem ter se remodelado para novas conjunturas de setores que estreitam laços entre o “novo” e o “velho”. Em outras palavras, a vitória dos petistas em 2006 representaria a tênue diferença do primeiro sobre o segundo pelo fato de setores da política baiana não saberem ao certo que tipo de ruptura deve-se levar à cabo. Na verdade, sempre se falou pelos ares baianos que as divergências ao grupo carlista se situariam mais na esfera pessoal, o que Antonio Gramsci identificara de certa forma como “futriquinhas de corredor”. O projeto do atual governo do estado (PT-PMDB, et. al.) não estabeleceria elos homogêneos de diferenciação com relação à política “velha”. Para uma parcela do eleitorado isso vai se explicitando principalmente nas decisões veladas sob o manto da tecnocracia. O PMDB se apresenta com os carlistas em alguns municípios, quando não incorporou a si setores inteiros em diversas cidades. É comum alguém indagar que aquele político ou liderança é carlista no modus operandi e modus vivendi, apesar de não estar em partidos ora identificados enquanto tal. Seria crível a argumentação de que o carlismo se tornou a algum tempo suprapartidário. Ademais, ficaria em aberto, o que seria a principal força da política baiana (PMDB) senão formada por fileiras carlistas. Sendo assim, o carlismo não sai derrotado das eleições, mas fortalecido, principalmente numa quadra histórica de conciliação entre um projeto da esquerda com agendas de setores hegemônicos da sociedade.

Por último, apesar de não nos sentirmos confortáveis em exprimir o balanço das atuais estratégias da esquerda ao longo dos últimos anos, enfatizada pela chegada ao poder do Presidente Luis Inácio Lula da Silva, podemos inferir que as coalizões estabelecidas com setores de centro e até de direita antes de impulsionarem uma agenda transformadora, apresentam-se de uma hibridez levada ao cúmulo pelo esvaecimento das fronteiras entre esquerda e direita. Em vez dos interesses se estabelecerem com um caráter clivado, parte das experiências apresentadas pela emergência de projetos de centro-esquerda confundem a percepção dos cidadãos sobre as diferenças políticas quando, por exemplo, colocam-se lado a lado setores que até pouco tempo eram considerados antagônicos. O que os une? O que há em comum entre ambos? Percebemos que antes do eleitor oferecer descrédito a uma aliança desta natureza, deposita-se a falta de legitimidade dos que antes apresentavam um capital político diferenciado. Por que pensamos isso? É simples: Se 80% da população aprova um governo o que leva os mesmos a não serem eleitos em 80% dos municípios? Inúmeros fatores devem vir à tona, contudo, há um que nos interessa: o fato de que a identificação dos eleitores com os partidos se dá de forma difusa principalmente em função de um rebaixamento paradigmático da esquerda em nível mundial, com rebatimento no Brasil. A fundação do PT na década de 80 é resultado disso. Somos chamados à fala quando ouvimos que partidos são todos iguais. Será que todos os partidos têm os mesmos interesses e ideais? Ou será que os “diferentes” parecem iguais aos “iguais”? Os antagonismos ficam cobertos pelas ambiguidades. Há um oceano de suposições sobre que papel a esquerda tende a cumprir em diversas sociedades, todavia, é nítido que a estratégia adotada é de promoção de um discurso atraente, que visa pacificar conflitos que até hoje ninguém conseguiu apresentar além de soluções imediatistas. Em geral, o voto na esquerda não seria de esquerda. Sendo assim, o que impede os interesses do PT de não confluir com os do PMDB, por exemplo?

O papel da política nas sociedades democráticas sugere serenidade, bem como a leitura acerca dos (des) caminhos que a política baiana pretende seguir. Um ornitorrinco seria o totem de maior significação para os dias de hoje. O PMDB foi eleito por alguns para negar um "agir e pensar político" o que confronta com o “casamento” com os carlistas. O PT quer um governo que avance para uma agenda mais transformadora e para fazer isso deve se aliar aos mesmos. Na cabeça de um cidadão comum parece tudo muito estranho. Não sei por que, mas quando olhamos para os paradigmas de ontem e hoje, soa que para muitos será positivo perder os dedos em vez do anel que um dia pode não se sabe como levá-los a regenerar-se. Enfim, na Bahia o certo é que o carlismo como uma forma de se fazer/pensar política vai bem. Somando-se inicialmente só as prefeituras do PMDB com as do DEM quantas teriam um “DNA” carlista? Em suma, quem venceu as eleições deste ano, o PMDB ou o carlismo?

* * Cláudio André de Souza é concluinte do Bacharelado em Ciências Sociais (Ciência Política) pela UFBA. Pesquisador de iniciação científica (2006-2008) e professor de sociologia da rede particular de ensino básico.

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Cláudio André de Souza