“Mediocrentretenimento”: uma razão de princípio


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Num momento histórico marcado pelo achatamento do público pelo privado, como podemos repensar a tradição republicana à luz de desafios próprios ao Brasil? A televisão está neste bojo: repensar a res publica na contemporaneidade. O desafio é enorme, contudo, trataremos do valor de tratar a televisão como um espaço que deve ser regido por uma lógica subordinada ao bem comum.

 

A designação res publica classicamente falando seria o trato, o zelo pela coisa pública. O regime do bem comum não seria a coroação das vontades individuais de todos e todas, mas antes disso, instituições, símbolos e narrativas fundamentais para a vida em sociedade, seja na expressão material ou imaterial. Pois então: a que ponto chegará a vida em sociedade com o esfacelamento de elementos comuns que curvem todos nós a pensar em uma vida pública, ou seja, questões fundamentais a vida de todos? Para Norbert Elias, o indivíduo inexoravelmente reinará a sua individualidade em certo grau a partir da sua dependência a outros indivíduos estruturados em sociedade. Daí decorre o conceito de configuração para o sociólogo alemão. Sendo assim, como pode esboçar-se a constituição de espaços públicos fortes com o poder paralelo conferido às telecomunicações no Brasil, na verdade, um fenômeno mundial? Em destaque, as televisões brasileiras que se voltam diariamente à vida privada insula debates fecundos para a república brasileira, cedendo lugar a uma série de programações que dão vazão a um entretenimento de baixa estirpe e muitas vezes recaindo na baixaria. A argumentação das corporações é a "insígnia" do lucro: programas que pensem a vida do ponto de vista da tradução do social em político não deixam televisores e telespectadores ligados. O argumento é válido, mas não é aceitável se partirmos do pressuposto que uma república tem o papel de educar os cidadãos, portanto, a regência dos meios de comunicação em massa, em suma, deve seguir uma lógica voltada para a questão pública justaposta à lógica de regulação estatal, se nas sociedades complexas, como as atuais, a defesa do que é "público" partir predominantemente do Estado. Sendo redundante, é claro e evidente a mediocridade promovida pela televisão brasileira que coroa de um lado as novelas, reinos de amores e intrigas, pelo outro, o futebol, lócus cabal de etnocentrismo e espasmos do culto à superioridade, seja em campo ou nos campos de batalha criados a cada apitar do final dos noventa minutos. Qual a saída? Não sabemos por completo, contudo, aplaudamos a criação da TV Brasil e às TVs educativas que resistem a entrar para o clube dos receituários comerciais e pensemos em intervir nas esferas apropriadas que pensem em como regulamentar o que deve conta majoritariamente aos interesses públicos. Do contrário, continuemos a substituir regozijos pela frustração ao alvorecer de programas que parecem querer esquecer do Brasil dos Dantas, do STF, da estrutura militar autoritária, da fome, da corrupção, do capitalismo selvagem anti-amazônico, dentre outras questões essenciais a todos os alfabetizados políticos e impossíveis de serem compiladas em teleprompters.

* Estudante de Ciências Sociais, bacharelando em Ciência Política pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), pesquisador de iniciação científica (2006-2008) e professor de sociologia da rede particular de ensino.

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Cláudio André de Souza