Perseguição divina e promessa não cumprida

Eu sempre fui uma pessoa muito azarada. Tudo bem, sei que na vida de todo mundo acontece coisas ruins, mas me parece que as coisas ruins me perseguem mais do que a média. Sempre foi assim e, aparentemente, sempre será.

Para começar, eu estou fora de Praga, no sul da região Bohêmia e, portanto, este texto sairá meio de improviso. A Bohêmia possui é um dos mais belos cartões postais da República Tcheca quando se trata de paisagens interioranas. Chegamos aqui na sexta-feira à noite, e eu volto para Praga na segunda-feira pela manhã.

Sul da região Bohêmia

E aí começam os problemas. Semana passada eu enviei emails para todos os meus conhecidos dizendo que eu não mais iria avisá-los sobre novas postagens, já que eu funciono como um relógio suíço. Mas aparentemente o relógio suíço foi comprado no Paraguai e a postagem não irá ao ar no dia devido! Isto porque ninguém sabe a senha da internet na casa em que eu estou hospedado e, portanto, eu estou sem contato com o resto do mundo.

Até aí, tudo bem. Sei que todos irão me perdoar, que tal atraso de apenas um dia não irá matar ninguém. Mas as coisas não param por aí. O clima aqui estava ruim quando chegamos, muito chuvoso. No sábado o clima deu uma melhorada e então nós caminhamos muito nas florestas da região e subimos nas montanhas próximas à Áustria. Na volta, um cervo gigantesco decide cruzar a estrada bem no nosso caminho e, ao ver o carro, pensa que este não é grande coisa. O animal atingiu a porta do passageiro dianteiro, que por sinal era eu, e se não fosse pela extrema habilidade do meu amigo dirigindo a história poderia ser bem diferente. O resultado foi alguns arranhões no carro e nenhum sinal do pobre cervo, que correu de volta para a floresta. Apenas um susto muito grande.

Para o domingo, eu previ um clima ruim, já que haviam muitas nuvens se formando na noite do sábado. Eu então decidi tirar o dia para trabalhar pois estou com uma composição inacabada que está se tornando uma pedra no meu sapato e a qual preciso terminar urgentemente. O que acontece então? Um clima perfeito, digno de praias brasileiras. Sol, céu de brigadeiro, e então todos foram para um lago nadar. Para finalizar com um toque artístico, as forças divinas ainda me fizeram ficar doente, de forma que eu mal consigo escrever este texto, quanto mais compor.

Eu estou começando a ficar com fama de mentiroso por aqui já que ninguém acredita nas minhas histórias. ‘Como pode alguém ser tão azarado, Gilberto?’. E eu lá vou saber?!

* * *

Acabamos de descobrir a senha da internet, então o relógio suiço não era falsificado, apenas contrabandeado. Também quase me esqueci de contar sobre a segunda-feira de Páscoa. Pois bem, eu poderia mentir e dizer que foi tudo sensacional, mas eu irei contar-lhes a verdade. Eu acordei tarde, perdi a hora, e esqueci que de tarde as garotas tem o direito de jogar um balde d’água na cabeça dos meninos. Então, queridas amigas que reclamaram da tradição, o espancamento é só até meio-dia. Aí não tem problema, né?

Ao menos eu ganhei um ovo de chocolate de um amigo. Ele ficou com pena de mim, já que eu não tive o prazer de desejar boa saúde para as garotas, e me deu o ovo que ele ganhou dando chicotadas na sua bisavó. Acredite que quiser.

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Gilberto Agostinho