Vyšehrad e os ecos de uma época antiga

Vyšehrad é uma fortaleza medieval situada na parte sul de Praga, numa colina sobre o Rio Vlatava. A beleza deste lugar é indiscutível e é um dos meus lugares favoritos para visitar em dias ensolarados.

Não existe como visitar Vyšehrad e não se lembrar de Bedřich Smetana. Este foi certamente o maior compositor tcheco e sua obra mais notável é uma série de poemas sinfônicos entitulada ‘Má vlast’, ou ‘Minha Pátria’. Cada um dos seis poemas sinfônicos têm como título um local ou um fato importante da história da República Tcheca, e o primeiro movimento é entitulado Vyšehrad. A música se inicia com quatro acordes tocados por uma harpa, como um eco de tempos antigos, e então prossegue grandiosamente, fazendo justiça a este local.

 

Existem muitos mitos em torno da história de Vyšehrad. Pelo que se consta, este foi uma fortaleza construída no século X. Outras fontes dizem que foi erguido no século VIII, quando servia de lar para a mitológica princesa Libuše, fundadora da cidade de Praga. De acordo com a lenda, a princesa teve uma visão profética sobre o futuro das terras que cercavam o seu castelo e disse: "Eu posso ver uma grande cidade cuja fama irá alcançar as estrelas". O que se sabe de concreto é que Vyšehrad e o famoso Castelo de Praga foram rivais durante muitos tempo mas acabaram se unificando e formando um único reino. No século XI foi coroado o primeiro Rei da Boêmia, Vratislav II, que residia em Vyšehrad. Os seus sucessores se mudaram para o Castelo de Praga, mas todos os reis deviam retornar a Vyšehrad um dia antes de sua coroação para prestar as devidas homenagens a este local.

O rei Carlos IV, que foi o grande monarca boêmio responsável por patrocinar as artes e as ciências e quem tornou Praga uma das maiores cidades européias no século XIV, ordenou a construção de uma catedral dentro da fortaleza. O resultado é a impressionante Catedral de São Pedro e Paulo, uma construção gótica de proporções gigantescas. Além desta construção, o cemitério é um local de visita obrigatória. Nele descansam os compositores Bedřich Smetana e Antonín Dvořák, além do escritor Karel Čapek e do pintor Alfons Mucha. Meus amigos gostam muito de fazer uma piada fúnebre comigo pois um dos poucos locais não ocupados neste cemitério é um espaço ao lado do túmulo de Smetana. Mas, de acordo com eles, eu preciso compor algo ‘nacionalista’ para ter a honra de descansar em tal local. Nacionalista, no caso, deve ser entendido como nacionalista tcheco, óbviamente. Ah, este humor tcheco.

Vyšehrad aparentemente não é um dos locais favoritos dos turistas, e eu simplesmente não consigo entender porquê. Existe uma estação de metrô com o mesmo nome e vários bondes conectando o centro à fortaleza, mas eu acredito que os turistas pensem que este local seja afastado demais dos seus hotéis no coração da cidade. Bem, em Praga nada é afastado demais, ainda mais para um paulistano, mas falando sinceramente, é possível chegar do centro a Vyšehrad em apenas quinze minutos!

A vista de cima da fortaleza é realmente bela, e não existe um lugar melhor para assistir a um pôr-do-sol. Os parques de Vyšehrad são belíssimos e muito bem cuidados e convidam os visitantes a fazer um piquenique. Existem também, é claro, dois ‘Beer gardens’, locais ao ar livre aonde se pode tomar a boa cerveja nacional com preços justos. Tudo isto faz de Vyšehrad um local tipicamente tcheco e um favorito entre os moradores de Praga.

vista de Vyšehrad
Vista de Vyšehrad

Vocês já perceberam pelo tom dos meus textos que eu fujo das atividades tipicamente turísticas. Eu não tenho nada contra estes locais, eles todos têm o seu valor, mas eu sinceramente prefiro um passeio tranquilo sozinho, sem uma multidão me empurrando. Eu prometo escrever em breve sobre os locais mais famosos de Praga, como o castelo citado aqui nesta coluna várias vezes, ou a Ponte do Rei Carlos e o centro antigo, mas por enquanto vou falando sobre o que mais me interessa. E ninguém poderá reclamar de nada pois o contrato que eu assinei com o OPS! me dá o direito de escolher meus temas. Então fica a dica para os visitantes: quem vier para cá e não visitar Vyšehrad merece não um, mas vários puxões de orelha.
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Gilberto Agostinho