Uma nota sobre violência

Violência: (substantivo feminino) qualidade do que é violento, ação ou efeito de violentar, de empregar força física (contra alguém ou algo) ou intimidação moral contra (alguém); ato violento, crueldade, força, exercício injusto ou discricionário, ger. ilegal, de força ou de poder, cerceamento da justiça e do direito; coação, opressão, tirania, força súbita que se faz sentir com intensidade; fúria, veemência, dano causado por uma distorção ou alteração não autorizada, o gênio irascível de quem se encoleriza facilmente, e o demonstra com palavras e/ou ações, constrangimento físico ou moral exercido sobre alguém, para obrigá-lo a submeter-se à vontade de outrem; coação.

Essas são as definições da palavra violência que encontramos no Houaiss.

Talvez mais do que as militâncias exacerbadas e intolerantes com que temos que nos haver nos dias que correm, tanto à direita quanto à esquerda, deveríamos discutir a violência, que ela também é pauta.

E indo diretamente ao ponto que me interessa, eu me pergunto: poderíamos abdicar da violência? Há tantos que respeito (e outros que não) que a defendem, ou ao menos a toleram como inevitável, que fico surpreso. Claro que minha surpresa é sinônimo de ingenuidade.

Darwinistas riem dessa minha pergunta: a violência é inerente à própria vida, dizem. Vida é dor, sem dúvida.

Revolucionários à esquerda afirmam que a violência revolucionária é justificável para a destruição de superestrutura capitalista.

Reacionários, por sua vez, usam de violência desde que o homem passou a caminhar sobre duas pernas. É parte do seu estilo quebrar tudo.

Dois amigos tomam umas cervejas, comem uns torresminhos, discutem futebol, corintiano e palmeirense que são, e acaba que saem na porrada, coléricos que estão. Troque-se futebol por política e vai dar no mesmo. Tem sido assim. Em pleno século XXI.

Curioso que dentre as formas de se pensar as nossas contingências deixe-se de lado a abdicação completa, total, absoluta, do recurso à violência para resolver impasses. O recurso a ela está sempre latente nos embates dos polarizados contemporâneos. É a arma final, senão a primeira, que se guarda para eventual uso. Afirmar-se, assim parece, é demonstrar estar armado para a briga. Um “não mexa comigo senão você leva porrada” generalizado.

Talvez os darwinistas estejam corretos: impossível estar vivo e não recorrer à violência quando ameaçado. E é sintomático que a glória da criação, a espécie “criada à imagem e semelhança de deus” seja incapaz de não fazer uso dela.

Somos uma espécie muito estranha. Uma espécie muito perigosa.

About the author

Marcos Schmidt

Marcos Schmidt é designer gráfico e ilustrador. Vive e trabalha na irremediável cidade de São Paulo.