Ronda Noturna 2.0 By Marcos Schmidt / Share 0 Tweet Warning: array_rand(): Array is empty in /home/opensador/public_html/wp-content/themes/performag/inc/helpers/views.php on line 280 Notice: Undefined index: in /home/opensador/public_html/wp-content/themes/performag/inc/helpers/views.php on line 281 Leio na revista New Scientist que o tigre de Sumatra está a caminho de extinguir-se. De 2000 até 2012, a população caiu 16,6%, e as florestas onde habitam encolheram 37% no mesmo período. Há 70 anos havia 12 populações viáveis, isto é, com pelo menos 25 fêmeas por grupo. Restam apenas duas. A situação das outras subespécies de tigre não é melhor. Estima-se que em pouco mais de cem anos a população diminuiu em 97%. Com alguma constância, penso que o Universo existiu para gerar o tigre. Ou a onça pintada. Tudo mais é efeito colateral. Inclusive o homo sapiens sapiens. Mas não irei seguir por essa trilha para não parecer um plagiador de Borges. Na notícia da New Scientist o que me chama a atenção é o espectro da ausência. Animal furtivo e solitário, o tigre em breve deixará de existir. Restará apenas a imagem, essa sim, preservada em filmes e livros, algo como “As baleias”, da canção do Roberto Carlos. A imagem de um ausente. Um curioso poderá ler em alguma versão dos anos 60s da Enciclopédia Britânica que o tigre era definido como “uma praga que assola o subcontinente asiático”. O outro ausente é exibido e gregário, e conta-se na casa dos bilhões. Claro que me refiro a nós mesmos, a glória da criação divina, a se crer nos religiosos. O tigre está em via de extinguir-se por causa da destruição e fragmentação do seu habitat e, não menos impactante, por causa da caça ilegal (essa sim, executada por animais furtivos e vagamente solitários). Somos nós que causamos a sua extinção. Uso o tigre como símbolo, como imagem. Poderia usar outro tanto de animais como exemplo: a própria onça, em situação tão precária quanto. Animais grandes devem nos temer. Pequenos também. Todos, a bem da verdade. Apenas ratos e baratas serão exceções, talvez. Destruímos sem nem mesmo perceber. E racionalizamos essa nossa destruição. Arthur Koestler, em “Tempo de Quimeras”, coloca estas palavras na boca de um Cristo açoitado que segue para a crucificação: “De que outra maneira poderia explicar a mim próprio que consentisses no que se passava, que no teu amor, na tua omnisciência, na tua omnipotência, permitisses que os homens se tornassem piores do que feras, piores do que tudo quanto rasteja e se arrasta, que consentisse que o hálito soprado por ti nas narinas de Adão se transformasse num fedor de dragões e a sua semente numa poluição da Terra?” O tigre, que em breve não mais existirá, é imagem. Nós, por outro lado, somos a poluição da Terra.