Eu tive aulas de Moral e Cívica

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E tive também de OSPB e de EPB (I e II). Para a galera do “aê bro, to purfa”- ops,”purfa” é gíria do mesmo tempo – OSPB signifca Organização Social e Política Brasileira e EPB Estudos de Problemas Brasileiros (era o maior orgulho: entrar na universidade e ser considerado um adulto capaz de ser preparado para entender os problemas do país e, a um passo apenas, poder apresentar as grandes soluções).

O tema veio à baila em uma conversa no Twitter com a @DeniseSQ (também aqui -Tecedora). Não o tema do post em si, mas apenas a lembrança da falta que nos faz a formação em, ou na, cidadania.

Por uma questão histórica, vivemos a era dos direitos (qualquer semelhança foi proposital). Fora eu professor – e só não fui por uma questão de anjo da guarda (Afonso, me dizia ele, não segue carreira. Daqui a trinta anos tua vida será desfilar da Esquina Democrática até o Gigantinho, e vive versa) – minha aula teria a seguinte ementa:

– 90% sobre deveres;

– 8% sobre direitos;

– 2% sobre trabalhos e provas.

A presença, por mais óbvio que poderia parecer, não seria obrigatória. À exceção da primeira aula, onde daria uma primeira e única lição. Rápida e sem rodeios (na verdade, já estaria escrita no quadro): “NÃO EXISTE LIBERDADE SEM RESPONSABILIDADE”.

A frase é de uma singeleza científica bárbara: a toda ação corresponde uma reação! O problema, hoje em dia, é que esquecemos de analisar o que é a causa (responsabilidade) e nos fixamos apenas na consequência (a liberdade).

Queremos liberdade a todo custo. Qualquer liberdade. Por sinal, liberdade virou palavra da moda, insuflada que é pela mídia, insistente em defender a tão propalada “liberdade de imprensa”. Pena, pois trata-se apenas de mais um grupo social que esquece as suas responsabildades.

Passados uns dez minutos, tempo que imagino suficiente para os alunos – estupefatos – se recomporem da surpresa, escreveria no quadro, bem lentamente:

“Tema para próxima aula: NA SUA OPPINIÃO, O QUE É TER RESPONSABILIDADE?” (estão dispensados)

À época, não tinha a menor condição de julgar se aulas de “Moral e Cívica”, “OSPG” e “EPB” eram realmente necessárias. Lembro apenas que, como bom universitário, era contra tudo. Era, inclusive, contra aquilo que me ensinavam da minha futura profissão.”Eu não preciso estudar Física básica”, pensava. Eu já era maior que o Einstein apenas por ter entrado na Faculdade de Física.

E assim somos nós como cidadãos: eu não preciso aprender a ser cidadão. Eu nasci e basta! Sou um cidadão! Tá lá na constituição, ainda digo, me defendo!

Concordo! A forma esvaziou o conteúdo! Mas verdade seja dita: setores sociais poderosos não querem ver oconteúdo da cidadania retornar. E por uma razão muito simples: o dia em que comerçarmos a ser responsáveis, também passaremos a cobrar a responsabildade! E ninguém quer ser cobrado pelas responsabilidades. Só querem saber dos direitos.

Chegaremos ao dia em que a frase “Não existe liberdade sem responsabilidade” será dita da forma como as leis da natureza a escreveram:

“QUEM TEM RESPONSABILIDADE, TERÁ LIBERDADE!”

Deveres antes, direitos depois!