O Poço, coronavírus e inércia social


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Confesso que desisti. Essa pandemia e o isolamento social por ela imposto fazem ver, aos que se dispõem a um exercício de análise da vida, que passamos a maior parte do tempo em uma inércia social: fazemos o que fazemos e da forma que fazemos simplesmente porque é o socialmente aceito e desejado como comportamento para minimamente pertencer a um grupo.

Somos socialmente educados a acreditar que nossa vida é uma luta contra moinhos, tal qual quixotes, mesmo sabendo – ou pensando saber – que a quase totalidade desses moinhos não nos dizem respeito.

Convivemos com pessoas no trabalho, na família, em grupos sociais e nos metemos em empreitadas, muitas das quais conduzidos por essas mesmas pessoas, que não precisaríamos no meter, tudo em nome da inércia social ou de uma crença que fazendo a nossa parte estamos ajudando a salvar o mundo.

O filme O Poço trata, dentre as 354.762 interpretações possíveis, desses moinhos que resolvemos criar ou que resolvemos aceitar como luta. Ao terminar de ver o filme, podemos ser levados a uma luta contra o egoísmo, a injustiça; a lutar contra um mundo que privilegia uns poucos dos andares de cima, enquanto a maioria, nos andares abaixo, mal e porcamente sobrevive, literalmente falando. Lutar contra tudo o que a inércia social nos ensina. A mesma inércia que ensina, aos que estão nos andares que comem, a pesarem que nada é mais natural que se aproveitarem primeiro e dane-se o resto. É o símbolo do mérito.

Moinhos e mais moinhos. O Poço é o Brasil de hoje. Na verdade, é o Brasil que sempre tivemos, agora escancarado.

O coronavírus tem, a meu ver, outro efeito. É a seleção contra a inércia social. É a oportunidade de escolhermos: escolher quem realmente importa que esteja junto; de escolhermos os moinhos que realmente darão sentido na nossa vida e pelos quais valerá a pena uma luta. Da luta que o coronavírus trouxe ao Brasil espero que resulte um Brasil menos poço.

Desisti. Desisti dos inúmeros moinhos que, inclusive, me faziam acreditar que estava vivo, que ainda era socialmente útil. Se ser socialmente útil já tinha um significado diferente, agora, então, cristalizou de vez.

Estou abandonando a luta contra moinhos e poços que não são meus. Talvez nunca tenham sido, mas me fizeram acreditar que eram. Seleção social, a grande lição do coronavírus.

Agradeço profundamente ao COVID-19.

Só não consegui, ainda, me livrar da profunda tristeza que sinto quando vejo que em nossa sociedade ainda existem pessoas que não entendem a importância do isolamento social.

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Luiz Afonso Alencastre Escosteguy

Apenas o que hoje chamam de um idoso. Parodiando Einstein, só uma coisa é infinita: a hipocrisia. E se você precisou saber meu "currículo" para gostar ou não do que eu escrevo, pense bem, você é sério candidato a ser mais um hipócrita!

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