Hypocrisis By Luiz Afonso Alencastre Escosteguy / Share 0 Tweet Provavelmente alguns milhares de psicólogos e psiquiatras se deparem, cotidianamente, com pessoas questionando sua sexualidade. Não importa a razão, pois a dúvida é da natureza humana. Não fora assim, a espécie humana não teria inventado os deuses. A todo e a qualquer momento temos dúvidas, sejam elas quais forem. Talvez o comportamento “não normal” seja o de pessoas que afirmam ter certeza. Inclusive sobre a sua sexualidade. Há uma confusão, propositadamente propagandeada pela mídia, entre questões de natureza absolutamente diversas: homossexualidade, homoafetividade, gênero e orientação religiosa. O que não está sendo dito é que a ação foi proposta por pessoa de confissão religiosa e com argumentos tão somente religiosos. Veja-se o teor do que disse: “pessoas têm atração pelo mesmo sexo “porque foram abusadas na infância e na adolescência e sentiram prazer nisso”. Também afirmou que “o movimento pró-homossexualismo tem feito alianças com conselhos de psicologia e quer implantar a ditadura gay no país”. Por fim admitiu: “Tenho minha experiência religiosa que eu não nego. Tudo que faço fora do consultório é permeado pelo religioso. Sinto-me direcionada por Deus para ajudar as pessoas que estão homossexuais”. Repetindo: “Sinto-me direcionada por Deus para ajudar as pessoas que estão homossexuais”. A frase é lapidar e define todo o caso: atua em nome de Deus e considera que pessoas “estão” homossexuais. Ou seja, parte do princípio de que homossexuais apenas atravessam “uma fase” que poderá ser “curada” e que a cura é desígnio de Deus dado a uns poucos. A pessoa fala em “ditadura gay”, mas não fala que ela própria é ferramenta nas mãos dos que pretendem impor um ditadura religiosa. Resumindo: estamos nas mãos de fanáticos que usam do Poder Judiciário para fazer valer seu fundamentalismo. O caso não tem sido único, a ver a recente tentativa de proibir peça teatral em Porto Alegre, por Cristo ser representado por pessoa diversa do modelo que a autora julga que deva ser o modelo de todo mundo. O que não foi explicitado até agora pelas manchetes é que estamos enfrentando o mais forte ataque já patrocinado pelos radicais fundamentalistas (perdoem a redundância) que se dizem religiosos. Que voltem para dentro dos seus “templos”. Lá, e somente lá, é o lugar onde podem fazer a pregação que bem entenderem e para quem os queira seguir. Que não queiram impor para a sociedade suas “visões de mundo e de Deus”. Aprendam, antes, a respeitar os demais. Aprendam, antes, a respeitar a sociedade onde vivem. A questão não é científica ou jurídica (apesar de o juiz ter se deixado levar pela conversa científica…), a questão é de barrar ou não a crescente dominância de cultos ou religiões sobre os destinos de uma sociedade.