Apresentação

Primeiro texto da coluna é sempre aquela coisa: apresenta o autor, explica a coluna, fala de meia dúzia de banalidades… Confesso que não sou eu que vou fugir dessa regra! Meu nome é Caio Cezar Mayer e sou cozinheiro vegan. Cozinheiro é aquele cara que transforma um punhado de coisas duras e insossas em um punhado de coisas…

Primeira texto da coluna é sempre aquela coisa: apresenta o autor, explica a coluna, fala de meia dúzia de banalidades… Confesso que não sou eu que vou fugir dessa regra! Meu nome é Caio Cezar Mayer e sou cozinheiro vegan. Cozinheiro é aquele cara que transforma um punhado de coisas duras e insossas em um punhado de coisas macias e coloridas, nem sempre de sabor agradável, é verdade. Mas todos buscam o sabor agradável, com sucesso ou não. Vegan é aquele seu amigo meio chato e estranho que não consome, nem tão pouco aprova eticamente, absolutamente nada que provenha da exploração animal. Trocando em miúdos: carnes, ovos, leite, laticínios, mel e demais produtos que se utilizem de componentes animais (como muitos produtos de limpeza ou cosméticos), que realizem testes em animais ou que utilizem do trabalho animal, como circos e rodeios. Juntando os dois, o cozinheiro vegan é o mago. O cara que cozinha sem carne, sem leite e sem ovos. O cientista maluco!

 

O objetivo dessa coluna é simples: divulgar as idéias e preceitos do veganismo – sempre na esperança de que essa prática possa se difundir e, por conseqüência, gradativamente liberar nossos camaradas do mundo animal do inferno que eles vivem atualmente – e ajudar os velhos e novos vegans, veganos, vegetarianos, ovo-lacto-vegetarianos e curiosos em geral a se embrenhar pelo supostamente tortuoso (e certamente delicioso) mundo da culinária vegan, assim como trocar experiências e aprimorar meus próprios conhecimentos na arte. Formar e reformar cientistas malucos.

 

“Hummm, entendi. Mas afinal, quem é esse cara para me falar sobre política, ideologia e culinária?”.

 

Confesso que acho meio sacal essa coisa de se apresentar, mas um professor meu dizia, com muita propriedade, que é preciso ter um mínimo de legitimidade para ser ouvido. Não sei se meu passado curto e simples me confere tal legitimidade, mas não custa tentar! Sou vegetariano há cerca de dois anos, virei vegan mais ou menos três meses depois, mas confesso que até me firmar de verdade como tal tive uma série de recaídas em relação ao queijo e ao sorvete (Os vegans mais exigentes chamariam isso de ovo-lacto-acomodados. Concordo com eles, mas devo deixar claro que essa não é uma coluna de militância radical. Ou é, não sei. O fato é que é preciso respeitar e incentivar a transição de cada um, assim como seduzir a oposição. Não há porque segregar, mas desculpem, vivo me perdendo em digressões). Continuando, já estudei um pouco de filosofia e um pouquinho mais de jornalismo, mas deixei pra trás, em ambas faculdades, um currículo, digamos, não muito louvável. Trabalhei em algumas coisas também, por muito tempo estive ao lado de meus pais na microempresa deles, fiz alguns estágios na área de jornalismo (mais precisamente, na área de assessoria de imprensa, como são muitos dos estágios de jornalismo!), mas nada que me prendesse de verdade. Nesse meio tempo, casei com minha atual mulher e sócia, que conheci na faculdade de jornalismo (pra não dizer que o local não me serviu de nada), fato muito importante na minha virada rumo ao veganismo. Eu já tinha duas irmãs vegetarianas, mas é preciso entender que eu era um grande comedor de carne! Eu realmente adorava um pedacinho de boi mal passado, acompanhado de um pão com manteiga banhado no sangue. Apesar disso, a convivência (esporádica) com minhas irmãs já me colocava na cabeça inúmeras questões indigestas pra quem adorava uma costela cheia de gordura. Mas foi quando casei que vi que minha opinião já não condizia com minha prática há tempos, e então decidi parar. Confesso que não foi tão fácil, mas consegui, e, além de não me arrepender de nada, hoje em dia não sinto mais tesão nenhum por um pedacinho de tecido animal.

 

O fato é que eu sempre fui, antes de tudo isso aí, um grande comilão. Desde criança tenho gosto pela cozinha, e então percebi que, se não cozinhasse eu mesmo, dada minha precária condição social de endividado, não conseguiria mais comer nenhuma delicia diferente de arroz, feijão, salada e PVT (proteína vegetal texturizada, geralmente de soja). Então comecei a cozinhar, cozinhar, cozinhar. Dos elogios que não paravam e das cada vez mais freqüentes frases como “é verdade que não tem carne mesmo nisso aqui?”, não demorou muito para que nascesse a vontade de viver disso, de trabalhar éticamente, ganhando o pão de cada dia com uma causa tão nobre. Com o malfado de nosso negócio, eu e minha mulher decidimos montar nossa pequena empresa de comida congelada e festas vegan, e assim, no início desse ano, nasceu a Vovó Vegan, empresa que cultivamos com carinho e que, lentamente, está crescendo cada vez mais, para nossa felicidade e alívio de nossos inúmeros cobradores. Além disso tudo, sou poeta e contista, tendo três poesias publicadas em antologias baratas, e divulgo meus trabalhos no blog Sindicato dos Escritores Baratos, junto com outros amigos de prosa e coração.

 

Acho que é isso. Na próxima coluna falo um pouco sobre a história do veganismo e sobre vegans e cozinheiros vegans famosos. No final de todas as colunas, sempre deliciosas receitas e dicas de culinária vegan. Vamos às panelas!

 

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Quibe Vegan

 

Você vai precisar de:

 

– 2 xícaras de triguilho (trigo para quibe)

– 2 xícaras de PVT *(Proteína Vegetal Texturizada)

– 1 maço de hortelãs fresco

– Suco de 2 ou 3 limões (depende do gosto pessoal, eu particularmente prefiro três)

– ¼ de xícara de azeite

– ¼ a ½ xícara de farinha de trigo branca

– Sal e Zhatar a gosto.

 

Primeiro, hidrate a PVT e o triguilho com água quente. Use água suficiente para cobrir o PVT e o trigo. Deixe-os hidratando até que o triguilho absorva toda a água e dobre de tamanho. Depois, separe as folhas de hortelã do caule, lave-as e pique-as. Reserve. O caule não será usado porque ficará indigesto, mas você sempre pode guardar para outras receitas. Escorra a PVT em um escorredor de macarrão, apertando bem para que solte todo o líquido. Em uma tigela grande, misture bem a PVT com o trigo pra quibe, acrescentando a mistura o hortelã, o suco de limão, o azeite, o sal e o zhatar. Amasse tudo bem para que fique homogêneo. Despeje um pouco mais de um terço dessa mistura no copo do liquidificador e bata, com ajuda da colher se for preciso, até que vire um patê bem grosso. Devolva esse patê à tigela com o quibe e sove, acrescentando a farinha de trigo aos poucos até que fique uma massa homogênea. Modele quibes do tamanho que lhe convir e frite em óleo quente (sempre aos poucos, ou de um em um para quibes grandes, pois muitos quibes na panela esfriam o óleo e fazem o quibe se desmanchar) ou então coloque toda a massa em uma forma refrataria e leve ao forno baixo, já pré-aquecido, por cerca de 45 minutos.

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Caio Cezar Mayer