tati, tautou e o affaire cigarette

semana passada jaques tati foi privado de seu cachimbo. essa semana audrey tautou foi rejeitada, quem mandou fumar?

nesse país bem civilizado que é, a lei évin baniu a publicidade direta e indireta de tabacos e assemelhados lá em 1991. jacques tati é um diretor de cinema para quem o cachimbo era une sorte de marca. gabrielle, ou coco, chanel inventou uma nova forma de vestir, casualmente – ou não, ela fumava – cigarros, cigarrilhas e assemelhados. 

o affaire: nesse momento a cinemateca de paris consagra uma exposição ao universo imaginário de jacques tati. o cartaz publicitário – do evento, utiliza a foto de uma cena do filme ‘mon oncle’. lá aparece tati de bicicleta, dando carona pro sobrinho e pra sua pipe, quer dizer seu cachimbo. voilà que nos cartazes do metrô de paris o cachimbo foi ‘maquiado’ e substituído por um ridículo catavento… a justificativa, la loi c’est la loi – lei é lei, não convenceu nem o évin, o autor da lei, que achou o trucagem déplacée.

coco avant chanel estreiou ontem, e no metrô de paris – vejam tudo  que se passa num metrô, a publicidade do filme foi recusada. no cartaz a atriz audrey tautou, quem interpreta coco, figura com um olhar muito chanel e uma cigarette muito contingente. a ratp (a companhia de transporte público da região metropolitana parisiense), antes de talvez-quem-nunca-se- sabe ser acusada de incitar o consumo, julga que muita e toda cautela fazem um caldo de galinha… e não dá nem pra dizer que eles sejam incoerentes, nem vendidos. afinal, la loi c’est la loi e etc.

não é a primeira vez que ocorre. o selo em homanegem à malraux é uma foto retocada, o cigarro sumiu. a biblioteca nacional, quando de uma exposição em homenagem à gainsbourg, retirou o mégot do homem antes dele ir pra capa do catálogo fumando…

ironia é que o túmulo de gainsbourg no cemitério de montparnasse é pleno de cigarros e rolinhos de tabaco… que os fãs preferem às flores. ironia maior é que tati nunca acendeu seu cachimbo. em nenhum de seus filmes. ironia menor é o mesmo affaire reunir em uma semana dois franceses que, na opinião dessa que vos fala, simbolizam juntas a frança.

a frança do vaudeville, onde, como dizia zeca baleiro – se referindo aliás a uma situação e a um lugar distintos, até os automóveis dão bom dia. onde todo momento é bom pra tomar um aperitivo com vizinho no bistrô do coin. onde todo mundo quer saber o que se passa e tem uma opinião a respeito. enfim, esse côté village que é frança d’en bas, verdadeira, e que consta nas películas de tati. e, pour cause, o reverso da moeda de exportação são os salões e a sofisticação. o bom gosto, o requinte da frança d’en haut, do corte perfeito e da figura glamour que embala as futlilidades dos mortais par tout ailleurs. e até por aqui. e que todo mundo conhece sem nunca nem ter posto os pés na place vendôme.

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larissa bueno ambrosini