População, Ambiente e Pegada Ecológica

O modelo econômico mundial está destruindo a capacidade regenerativa da terra, dos rios e dos oceanos e o consumo global da humanidade já superou em mais de 30% a capacidade de sustentabilidade ambiental. A Conferência de Compenhague, em dezembro de 2009, necessita fechar um acordo mundial para mudar o rumo da intervenção humana no Planeta.

Existem diferentes modelos para avaliar a relação entre população e meio ambiente. A mais simples e difundida fórmula que define a relação entre população e ambiente foi elaborado nos anos 70, por Paul Ehrlich e J. Holdren, sintetizada na seguinte equação:

                                                      I = PAT
onde:
I = Impacto ambiental
P = População (tamanho e estrutura etária)
A = Afluência (renda per capita da população e nível de consumo)
T = Tecnologia (medida da eficiência no uso de matérias-primas e energia)

Embora muito citada e utilizada, esta fórmula tem sido bastante criticada devido ao simplismo de sua concepção, pois diferentes fatores no lado direito da equação contribuem para diferentes impactos no lado esquerdo da mesma. Por exemplo, os fatores que danificam a camada de ozônio não são os mesmos que contribuem para o desmatamento e a perda de biodiversidade. A fórmula considera o ambiente como uma variável independente que sofre o efeito das atividades humanas, mas não considera a complexidade que existe na relação recíproca de interdependência entre ambas.

A relação entre as atividades antropogênicas e o meio ambiente deve levar em consideração distinções como ajuste versus persistência e homeostase versus resiliência. Ou seja, os sistemas vivos possuem capacidade para absorver mudanças e para criar novas estabilidades e absorver perturbações ao longo do tempo, sendo que a resiliência expressa o potencial de recuperação. Outras duas observações referem-se à diferença entre impacto local ou regional e impacto global. O aquecimento global, por exemplo, pode colocar em risco diversas experiências locais bem sucedidas de harmonização entre atividades humanas e o meio ambiente.

As limitações da fórmula citada (I = PAT) levaram ao surgimento de novos conceitos que buscaram levar em consideração a noção da territorialidade na tentativa de integrar a dinâmica demográfica ao espaço físico e ao desenvolvimento econômico, social e institucional, tais como “capacidade de carga” e “pegada ecológica”.

O conceito de capacidade de carga (ou suporte) indica o quanto determinado ambiente tolera a atividade humana ou de outra espécie viva. Ou seja, é a capacidade máxima de extração de recursos que pode ser suportado por um habitat (ou pelo planeta), sem comprometer de forma negativa e permanente o seu futuro. Abaixo da capacidade de carga, uma população geralmente cresce, enquanto tende a decrescer se a excede.

Essa definição, contudo, não é fácil de ser operacionalizada, pois não captura os processos multifacetados da relação demografia-ambiente. Além disso, o ser humano muda conscientemente o tipo e o grau do seu impacto sobre a natureza, tornando difícil estabelecer uma capacidade máxima de carga ou um ótimo populacional. A crítica a este conceito já estava presente nos argumentos de Boserup sobre os efeitos do aumento da densidade populacional sobre o aumento da produtividade agrícola.

Uma outra metodologia utilizada para medir os efeitos das ações humanas sobre o meio ambiente, e que tem uma visão crítica da utilização atual dos recursos naturais do planeta, é o Índice Planeta Vivo e a Pegada Ecológica (Ecological Footprints), divulgada pelo  WWF-Brasil. O Relatório descreve as condições da biodiversidade global e o nível de pressão na biosfera provocado pelo consumo humano de recursos naturais. O Índice Planeta Vivo reflete a saúde dos ecossistemas do planeta.

O Índice Planeta Vivo acompanha 1.313 espécies vertebradas de todo o mundo – peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos. Mesmo considerando que as espécies vertebradas representem apenas parte das espécies conhecidas, presume-se que representem a biodiversidade em nível global. Entre 1970 e 2003, o índice perdeu cerca de 30%. Estes dados sugerem que os ecossistemas naturais estão se deteriorando a um ritmo nunca visto na história da humanidade. A biodiversidade sofre sempre que a produtividade da biosfera não consegue acompanhar o consumo humano e a produção de resíduos.

Já a Pegada Ecológica mede o impacto humano sobre as áreas terrestres e aquáticas, biologicamente produtivas, necessárias para a disponibilização de recursos ecológicos e serviços: alimentos, fibras, madeira, terreno para construção e para a absorção do dióxido de carbono (CO2) emitido pela combustão de combustíveis fósseis etc. A biocapacidade da Terra constitui, assim, a quantidade de área biologicamente produtiva – zona de cultivo, pasto, floresta e pesca – disponível para responder às necessidades da humanidade. Segundo o Relatório Planeta Vivo, desde os últimos anos da década de 1980 que a Pegada Ecológica ultrapassa a biocapacidade da Terra.

O consumo global da humanidade superou, em 2005, cerca de 30% a capacidade regenerativa da Terra. Ou seja, a população mundial está transformando os recursos em resíduos mais rapidamente do que a natureza consegue regenerá-los. O modelo econômico atual é insustentável. Para a própria sobrevivencia, população e economia precisam respeitar o meio ambiente ou todos perecerão juntos.

A vitória de Obama, nas eleições presidencias dos Estados Unidos, possibilitou a superação das visões unilateralistas e anti-ecológicas do governo Bush. O novo presidente dos EUA tem se mostrado consciente dos problemas ambientais e atuante na busca de soluções. A Conferencia de Copenhague, a ser realizada em dezembro de 2009, precisa fechar um acordo com metas para reduzir as emissões de gases-estufa após 2012, quando expira o Protocolo de Kyoto. Além disto é preciso redirecionar o modelo de desenvolvimento econômico predatório do meio ambiente. O crescimento verde e o fim do consumismo são alternativas para os problemas climáticos e para uma qualidade de vida sustentável no longo prazo.

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José Eustáquio Diniz Alves