Quiáltera By newton lobo / Share 0 Tweet Esse negócio de assistencialismo tem lá seu lado obscuro, ora se tem! Creches, por exemplo, geralmente conveniadas com prefeituras, estados e até governo federal, são, na sua avassaladora maioria, dirigidas por sujeitos sem a menor noção do que significa sequer o vocábulo assistir, quando verbo transitivo direto. Sem a menor propensão ao desempenho da Arte/Ciência da educação e sem o mínimo necessário de “elevação espiritual”, critério indispensável no trato com seres, digamos, indefesos, para que tão nobre mister seja levado a bom termo. Elevação espiritual? A maioria sequer conhece os princípios básicos da convivência humana, muitos nem sabem se existem tais princípios. Têm-nos dado, esses sujeitos, exemplos diários do descaso e maltrato com que, dissimuladamente, assistem nossas crianças. E as famigeradas Ongs? (terrível até na pronúncia) não estão absolutamente fora desse esquema. Se não amealham recursos diretamente dos cofres públicos, de alguém o fazem, utilizando-se sempre de criativos artifícios, tão diversificados como esdrúxulos, na maneira como desenvolvem seus programas de gastança do dinheiro alheio. Entretanto, os meios corriqueiros de prestação de serviços que oferecem, são bem pouco criativos, geralmente na forma das tradicionais escolinhas de futebol, de teatro, de música, de artesanato e etc. sempre com a desculpa muito esfarrapada, mas nobilíssima de estarem tirando das ruas e da marginalidade, crianças, jovens e adolescentes. Substituindo-lhes a dura realidade de uma existência miserável, por “uma outra coisa qualquer”, mesmo que seja esse arremedo mal acabado de futebol, de teatro ou de música, “qualquer coisa é melhor que as ruas”. Quase sempre é só o que têm a oferecer aos seus tutelados. No mais profundo âmago de suas ambiciosas aspirações, entretanto, o que grande parte dessas entidades quer, é unicamente locupletar-se com as generosas e dadivosas verbas a elas destinadas, geralmente por outra classe igualmente letárgica no agir honesto, mas, célere e prestimosa no dividir o saldo da desonestidade, do ganho espúrio, da abastança corrompida, adulterada e contrafeita, com seus iguais: a classe política brasileira, verdadeiro conluio de Luciferes, mal comparando, é claro, com esses seres infernais, pois não quero aqui, absolutamente, denegrir nem um deles, sequer o tal queridinho do Príncipe das trevas, segundo Gil Vicente (pela arte de mentir com graça e com ar), deslustrando-lhes em seus dotes, digamos, políticos. Bem, caro leitor, não é que este lobão que vos fala esteja meio amargo hoje (…) não, absolutamente. É que me provocam ânsia de vômito algumas reportagens cretinas que vejo através da mídia, geralmente construídas à base de discursos laudatórios pré-fabricados recheados de apologéticos ludíbrios ao público, e que versam, amiúde, sobre aquelas entidades assistenciais tão nossas conhecidas, através, inclusive, de shows televisivos. Por que tamanho asco? Ora, só como exemplo: um sujeito mantém uma ong qualquer, destinada, digamos, ao amparo à infância e juventude, enche suas dependências de crianças entre dez e quinze anos, dá a cada uma delas uma lata, um pedaço de pau e um maestro, (opa! Quero dizer um maestro apenas, para todas), que passa a ministrar-lhes aulas diárias de Rítmica, bem, na verdade é apenas ritmo, aquilo que possuímos naturalmente, através do ato de respirar, de caminhar, através do pulsar do sangue em nossas artérias, enfim, coisa que não carece de escola para aprendermos, pois já temos nascido com essa informação, pertinente àquele acervo maior que nos foi legado graciosamente, quando nos soprou nas ventas o sopro cósmico do conhecimento, o grande Compositor. Mero espelho do grande ballet estelar das cósmicas amplitudes. Estou meio poético hoje… Pois bem, vamos direto ao assunto, e que me perdoem os amigos músicos e educadores aos quais, passo agora a contradizer. Arte e Esporte são, a meu ver, figurinhas de somenos importância, quando o alvo dessas atividades são crianças e adolescentes de rua. Ora veja, pegue-se aquela turma de meninos aos quais me referi acima, façam-na passar boas quatro horas diárias batendo em latas com pedaços de paus, sob a desculpa que estão aprendendo Música (…), o que se deve passar na cabecinha dessas crianças? Que serão músicos talentosos, aparecerão no domingão do faustão etc. e etc., somente quimeras que jamais alimentarão sua parte mais necessitada: O estômago. Acaso bater em latas é profissão? (…) E que dizer das escolinhas de futebol? Aí os sonhos certamente são muito mais pungentes: Serei um Pelé! Pelé que nada, serei o Ronaldinho. Outras tantas quimeras improfícuas como improficuo é o bater em latas. Tenho um colega há mais de trinta anos, gente muito boa, que incorre neste grave erro, talvez inconscientemente e no fundo, com muita boa vontade. Dá aulas, por pura devoção caritativa, a alunos carentes de grupos de risco e de rua, mantendo uma orquestra, Orquestra de Latas. O que o estimado amigo maestro da referida orquestra de latas parece não saber é que o mais importante, por imprescindível, é: Primeiro – A barriguinha cheia de boa comida. Alimento calórico, protéico e abundante, (dificilmente uma criança de rua será obesa) no mínimo cinco refeições ao dia. Segundo – Letrinhas na cabeça, muitas letrinhas, 36 para ser mais exato, e a prática diária da alfabetização, diária! Para que aprendam a ler e cresçam com saúde. É pouco? É pouquíssimo, e, no entanto é basicamente isso que precisa nossa juventude: A crença na realidade e a convicção que triunfarão na peleja contra a miséria através do uso da inteligência e da capacidade de desenvolvê-la através do gozo pleno da saúde física e intelectual (moral). Depois, muito depois, vem a Música, o futebol, o domingão do faustão… Antes das contestações, vou logo esclarecendo que existem, é claro, muitas e nobres exceções no assistencialismo de iniciativa caritativa privada, mas, são exceções, quando deveriam ser regra geral. E, se é tão pouco o que necessitam nossas crianças: Pão e Educação, ao invés de Pão e Circo, (este secular e infame binômio manipulador das massas por excelência), por que tão difícil é supri-las? Lembram-se do segundo parágrafo? Do conluio de Lucíferes? É isso aí… Como pretendo continuar esse assunto, devo dizer: até a próxima, se Deus quiser! Forte abraço.