Lula e o SUS. Ou, não se é presidente por acaso!

Construímos uma civilização que achou por bem diferenciar certas atividades. Dentre elas, as atividades desenvolvidas por “líderes”. A civilização também desenvolveu o conceito de que à liderança cabia um conjunto de valores diferenciado, não necessariamente pelas qualidades pessoais de quem exerce a liderança, mas pelo entendimento básico de que necessitamos dessa liderança. Se somarmos a essa necessidade a capacidade pessoal do líder, ótimo.

A presidência de um país é um caso. Atribuimos valor de liderança a esse conjunto de atividades e a ele associamos valores diferenciados. Por outro lado, não se é presidente por acaso. É preciso demonstrar a posse de valores no mímino correspondentes ao conjunto diferenciado que a sociedade elegeu como sendo valores de um líder.

Uma vez adotados, esses valores tornam-se tácitos, crescemos com eles da mesma forma como crescemos com o valor da higiene, por exemplo. E aqui há algo, também tácito, aparentemente esquecido por tantos quantos levantam a questão do tratamento do Lula: todos, tenham votado nele ou não, concordam que o conjunto de valores associado a um presidente ou ex-presidente é um conjunto de valores diferente do nosso.

E não é porque seja o Lula. Valereia até para o Collor, houvesse ele se mantido… Guardamos em nós a máxima de que “uma vez rei, sempre majestade”. Não há diferenciação entre presidente e ex-presidente.

Dentre os inúmeros valores eleitos – para, e atribuídos à liderança – um dos mais caros é a segurança. Não sei se digo milhões, ou bilhões, mas muito dinheiro é gasto no mundo todo para garantir a segurança dos líderes, em especial dos presidentes (e similares no gênero). E falar em segurança é falar em saúde.

A saúde é o bem maior que um ser humano tem e pode/deve preservar. E é também o bem maior a que a sociedade deve lutar para ter.  Mas daí a querer que o valor líder, por nós eleito como um valor diferenciado, tenha o mesmo tratamento que temos, é muita hipocrisia. Assinamos um contrato com essa cláusula. Rompê-lo é mais do que fazer uma revolução. É trair os valores em que assentamos nossa sociedade. Valores que. lembrando, são do líder, não do Lula, do FHC ou de quem quer que seja que ocupe o cargo.

Não se é presidente por acaso. Tendo votado ou não, num ou noutro, alguém só é presidente (e ex) pela competência de ter demonstrado comunhão dos valores pessoais com os valores que a maioria adota como valores de um líder. E não podemos jogar nossos valores fora como se descartáveis fossem.

O SUS é um desses valores. Há que corrigir caminhos? Sim! Mas não pela exigência de que um ex-presidente se trate por ele. E bem poderia, pois no caso o SUS é referência.

Só me resta agradecer ao Lula, mesmo que por um motivo triste, que tenha nos dado mais essa oportunidade: a oportunidade de que as pessoas mostrem seu mais alto grau de hipocrisia: a hipocrisia de quem sequer dignidade humana tem. E também de ver muita gente com dignidade, mesmo não sendo partidário.

#ForçaLula

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Luiz Afonso Alencastre Escosteguy

Apenas o que hoje chamam de um idoso. Parodiando Einstein, só uma coisa é infinita: a hipocrisia. E se você precisou saber meu "currículo" para gostar ou não do que eu escrevo, pense bem, você é sério candidato a ser mais um hipócrita!