A máquina de Turing

Alan Mathison Turing, (1919-1954), matemático inglês, foi considerado o idealizador de um computador por ter definido os conceitos básicos de uma máquina destinada a operar em grande velocidade conjuntos numéricos finitos muito extensos. Esses conjuntos deviam ser elaborados em programas de acordo com a estrutura da máquina de modo a poderem entrar em um “estado passivo” onde todas as suas funções estariam prontas para serem acionadas em “estados ativos”. Portanto com Turing teve início a construção dos computadores eletrônicos, as máquinas do nosso tempo, que se tornam cada vez mais sofisticadas numa evolução irreversível. A propósito cito a opinião do físico e matemático Roger Penrose vemcedor com Sephen Hawking do Prémio Wolf, no seu livro “Emperor’s New Mind”, (traduzido para o português em 1993 pela editora Campus, Rio de Janeiro, sob o título “A Mente Nova do Rei”): ‘Há alguma coisa quase aterrorizadora nesse ritmo de desenvolvimento. Os computadores já são capazes de realizar numerosas tarefas que, antes, eram província exclusiva do pensamento humano, com velocidade e precisão que ultrapassam, muito, qualquer coisa que um ser humano possa realizar”. Partilho da mesma opinião e reconheço que os computadores, atualmente, comandam as nossas vidas e de certo modo tornamo-nos escravos dessas máquinas criadas por nós. Apenas como exemplo vejamos a última novidade dos computadores, o “touch screen” que integra sensores na tela e softwares para interpretar os comandos do usuário. O computador touch screen não tem teclado e os comandos são realizados tocando na tela com o dedo, os pontos do programa desejado ao objetivo do registro. Mas voltemos à máquina de Turing. Na Segunda Grande Guerra de 1939 a 1945, Turing trabalhava no serviço secreto britânico, encarregado da escuta das ordens do alto comando alemão aos comandantes dos submarinos para os ataques, no Atlântico, aos comboios de navios mercantes destinados ao abastecimento da Inglaterra. Essas informações obtidas pela aviação alemã das posições dos navios mercantes era fornecida pelo radio em código válido apenas por 24 horas através de um sistema sofisticado chamado “enigma”. Esse equipamento era semelhante a uma máquina de escrever com um teclado comandando quatro bobinas intercambiáveis. Todos os dias o comando alemão dava a posição das bobinas e emitia uma sequência finita de 0’s e 1’s que representavam, em números binários, as ordens do comando alemão. De fato se admitirmos que digitando um 0 o dígito avança ama “casa” e digitando 1 o dígito recua uma “casa” fazemos com que cada quantidade de 0’s e 1’s represente uma posição final do código binário, ou seja, uma letra diferente do alfabeto alemão. Os alemães tinham tanta confiança na inviolabilidade do seu código que não se importavam com a escuta que os ingleses realizavam. Mas estavam enganados pois o sistema tinha uma falha. Todas as vezes que iniciavam as ordens repetiam sempre a mesma saudação nazista dando chance a Turing de ir decifrando gradualmente, por tentativa e erro, o código alemão. Finalmente o código foi inteiramente decifrado representando uma grande vitória para os aliados pois os comboios dos navios mercantes passaram a navegar com segurança. Mas a história de Turing não acaba aqui. Ele era homossexual e teve um encontro com um homem que lhe roubou umas bugigangas que ele gostava muito. Queixou-se à polícia e o serviço secreto britânico ficou sabendo do caso. Temendo que os segredos militares fossem revelados demitiu-o do serviço secreto. Humilhado e ressentido Turing suicidou-se. Assim terminou de uma forma trágica um matemático de gênio a quem devemos os conceitos fundamentais dos computadores eletrônicos que tanto participam de nossas vidas.

Fico por aqui. Até à próxima.            
     

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Henrique Cruz