A morte dos travestis

Travesti

TravestiEm pouco mais de uma hora, dois travestis foram mortos no Rio de Janeiro no dia de ontem. Até agora, os responsáveis pelas mortes não foram encontrados. Homofobia, vingança, crime passional, violência gratuita, uso de drogas… As possíveis explicações são várias…

Travesti Em pouco mais de uma hora, dois travestis foram mortos no Rio de Janeiro no dia de ontem. Até agora, os responsáveis pelas mortes não foram encontrados. Homofobia, vingança, crime passional, violência gratuita, uso de drogas… As possíveis explicações são várias…

Somos contemporâneos de uma sociedade – da qual não podemos nos dissociar – que imprime violência em grande parte de seus atos. Entenda-se por violência não só aquela realizada por jovens de classe média-alta contra o índio pataxó Galdino e também contra a empregada que foi confundida com uma prostituta. Falo também dos interesses comerciais postos à frente da ética, da ecologia e do respeito à vida humana. Muitas vezes, a corrupção a ganância conseguem infligir mais dano através da assinatura de um contrato – legal ou fraudulento – do que um jovem com metralhadora em punho.

Notícias de jovens com metralhadoras chegam freqüentemente ao nosso conhecimento, vindas do Norte da América. Aqui, os métodos usados para causar mal são diferentes.

Gostaria de me sentar em uma mesa de boteco, pedir uma cerveja gelada e trocar uns “plá” com esses “magros” que atiraram nos dois travestis. A conversa ia ser mais ou menos assim:

  • E aí, firmeza?

  • Qual é? Vai encarar?

  • Encarar? Não, calma, só quero fazer umas perguntas a vocês. Garçom, baixa uma gelada aí…

  • Qual é a tua mermão? Tá zoando com nóis? Te arranca daqui ô vai ver o que tem guardado pra ti.

  • Espera lá, eu escrevo em um site, e…

  • Raspa fora cara! E deixa a carteira aí. E o relógio também que tu tá atrasado. Não precisa ver as horas pra saber disso. Rala!

 

Resumo da ópera: não há diálogo possível com alguns exemplares da espécie Homo sapiens. Daqui, podemos partir para a gênese do problema: faltou educação? Estímulos afetivos familiares? Resultado das más influências no período de formação da identidade? Programação genética? Uma mistura destes aspectos?

As Ciências Sociais, a Filosofia, a Psicologia, a Biologia e as Religiões têm, há milênios, tentado entender o comportamento humano e, até nossos dias, não podem cantar vitória. O desafio acaba sendo deixado para o Direito e para a Política, que precisam definir o que será feito nos casos em que o direito de um é invadido pelo desejo (ir)racional de outro.

É triste perceber que caminhamos cada vez mais para uma sociedade parecida com a descrita por George Orwell em 1984, onde câmeras e microfones captam tudo o que é feito pela humanidade. Acontecimentos como este assassinato aparentemente injustificado só dão mais razão àqueles que defendem este tipo de controle da vida privada pelo olho público. A restrição da liberdade e da privacidade seriam justificadas pela maior segurança trazida pelo acompanhamento contínuo dos passos de cada indivíduo. A tecnologia, em pouco tempo, capacitará as forças repressivas a realizarem tal tarefa com mínimo esforço.

Quem diria? Um evento simples gerando implicações distantes e, muitas vezes de difícil previsão. Teoria do Caos.

Apontar soluções. Eu bem que gostaria de ter uma, ao menos uma para indicar, entretanto, meus bolsos estão vazios. Alguém com um tostão?

Rafael Reinehr

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