É proibido fumar?

O dia primeiro de janeiro marcou oficialmente a proibição do uso de tabaco em estabelecimentos gastronômicos. Agora, além de edifícios públicos e universidades, o cigarro deve ser banido de restaurantes, lanchonetes e bares em toda a Alemanha. Mas vários estados ainda insistem em manter exceções à regra.

Quem assistiu ao filme “Obrigado por Fumar” (2005) de Jason Reitman sabe que a indústria do tabaco faz o impossível para proteger seu produto das más línguas. Afinal, temos a liberdade de escolher nossos vícios, e a indústria só quer garantir que possamos usufruir nossa liberdade de “fumar”, uma opção que deve a todo custo continuar disponível no mercado, ao alcance de todos.E é nesse ponto que o lobby do tabaco entra em conflito direto com o ministério da saúde alemão.

Na Alemanha fumar já é proibido em edifícios públicos. Nas universidades a proibição chegou sorrateiramente, debatendo-se por anos com os fumantes que insistiam em ignorá-la, até que no fim de 2006 a oficialização da lei anti-tabaco foi mais forte e acabou por banir as chaminés ambulantes para o lado de fora, seja no verão ou no inverno gelado.

Quem não vive na Alemanha pode até pensar que bani-los dos edifícios quentinhos é uma crueldade, mas a verdadeira crueldade seria deixá-los dentro. Explico. Aqui toda edificação é construída para ser isolada a fim de evitar a entrada de ar frio no inverno e a conseqüente perda do caríssimo ar quente, conseguido através de aquecedores. Agora, imagine-se num bar ou restaurante lacrado, aquecido, com uns 50 fumantes liberando fumaça de pelo menos um cigarro por hora. Entrar num ambiente desses é o mesmo que entrar numa câmera de gás, com a diferença de que o veneno dos cigarros e charutos tortura muitos e mata a longo prazo.

Enquanto a fumaça densa flutua como nuvens nesses ambientes fechados, qualquer um que passe pelo menos uma hora ali acaba inalando uma quantidade preocupante de substâncias tóxicas. Além disso, o acúmulo de fumaça aflige não só clientes, mas principalmente a saúde dos atendentes, que se sujeitam à tal poluição todos os dias do ano por horas a fio.

A fim de proteger a saúde tanto de atendentes como de clientes que não fumam, a lei anti-tabaco se apresenta também como uma solução para a grande sujeira causada pelos cigarros. Os resíduos da fumaça que se acumulam visivelmente nas paredes e móveis de qualquer estabelecimento e mantém o odor até quando não há fumantes por perto, pode se tornar um inconveniente do passado. Contanto que as exceções exigidas por alguns dos estados federais alemães – e apoiadas por lobistas do tabaco – não extrapolem os limites do aceitável.

A lei anti-tabaco exige que o fumo seja banido em estabelecimentos gastronômicos, com exceção daqueles que possam oferecer uma sala devidamente separada e lacrada, exclusiva para fumantes. Dentre as exceções propostas por alguns estados está a de dar total liberdade aos proprietários para que decidam sozinhos se querem ou não aderir à proibição. Como um quarto da população do país fuma, a tentação em ignorar a nova lei pode até triunfar. Mas tenho certeza que os outros ¾ da clientela dará preferência aos ambientes livres de qualquer poluição.

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Ariadne Rengstl