Ao Sul de Lugar Nenhum By Diogo Brunner / Share 0 Tweet Entre discursos de filósofos como o esloveno Slavoj Zizek, até falas de Naomi Klein, surgiu o melhor conceito – retomando um pouco da ideia de Revolução Permanente de Leon Trotsky – acerca dessa retomada muito bem-vinda das manifestações políticas que ocupam espaços públicos. Pensando em Estados Unidos a coisa fica um pouco mais interessante, visto o histórico recente de conservadorismo exacerbado nesse país tão cioso de democracia e liberdade, mesmo que essas palavras normalmente tenham conotações diferentes lá e no resto do mundo. Provavelmente desde a explosiva década de 60, com suas experimentações psicodélicas comportamentais, passando pelos Panteras Negras e Martin Luther King, a ocupação em Wall Street é algo não como um mero sopro de ar fresco, mas talvez uma grande ventania. E por uma característica bem específica. Na também recente “Primavera Árabe” – como ficaram conhecidas as diversas manifestações em países Árabes contra governos totalitários – principalmente jovens, e sobretudo organizados através da internet, tomaram de assalto o espaço público da cidade. E não qualquer espaço público, mas sim o mítico espaço da praça, lugar político por excelência. No caso das manifestações Árabes havia um objetivo final e específico a ser conquistado, dessa forma, “naturalmente”, como movimentos pós-modernos que surgem e se vão velozmente, assim que tal objetivo fosse conquistado as praças voltariam a ser o ambiente dos pombos. É nesse ponto que chegamos à perspectiva da Ocupação Permanente. Em Wall Street as reinvindicações são amplas, de macroestrutura, o que pode pressupor-se uma longa luta, constante, diária, que não se acaba com a concessão de migalhas. Os altos executivos que passeiam pela Times Square terão sempre que olhar os acampados, os 99% que não fazem parte do jogo quase virtual deles, mas que meche com a humanidade de uma forma ampla. Irreal pensar em uma ocupação permanente no coração do centro econômico da maior potência (?) do mundo? Talvez, mas as condições concretas estão dadas. Trotsky, como dissemos acima, já falava em Revolução Permanente, aquela que não se esgota com pequenas conquistas, e a ideia da permanência é a ideia do não efêmero, daquilo que finca raízes, que risca como tatuagem, a luta constante contra as proibições do “você não pode” até às raias da especulação financeira, essa espécie de videogame espetacularizado. Parece que algo acorda lá do fundo. Em tempos de Facebook as pessoas tomam as ruas. Toda força aos acampados, seja Nova Iorque, Roma, Síria ou Atenas. A falsa polêmica Rafinha Bastos. Para além da discussão sobre a piada propriamente dita, a questão é que a repercussão só se deu por envolver a classe que detém o capital. O que preocupa na censura da emissora, pressionada obviamente por esse capital, é a abertura de mais um precedente das proibições. Quem dita o que pode ou não pode ser dito? O marido da Vanessa Camargo? Preocupante. Os precedentes abertos ultimamente são vários e perigosos, começam com inocentes leis para fechar bares mais cedo, proibição do fumo, lei do silêncio. Novamente, quem deve ditar as regras que devemos seguir? Se o Rafinha Bastos incita o racismo, a violência contra mulheres, é porque alguém assiste aquele programa, é porque alguém permitiu que ele sentasse naquela bancada, que aliás conta com mais dois imbecis, um dos quais defende a violência policial contra manifestações estudantis (o “jornalista” Marcelo Tas declarou “polícia nesses vagabundos” na última greve da usp). Agora, quem defende a censura contra ele, não poderá reclamar quando esses mesmos detentores do capital começarem a dizer que horas temos que sair do bar (coisa que na verdade já fazem), a que filmes podemos e não podemos assistir. A falsa polêmica está em venderem para o público que o problema foi a piada. A lógica é bem mais cruel.