Subversões do Tempo: Escritores Malditos By Rosane Cardoso: 200 anos de Poe / Share 0 Tweet Os chamados escritores malditos são sempre uma pedra no sapato. Extemporâneos, incomodam quem vive no seu tempo. Contemporâneos – sempre – vivem incomodados por citações nem sempre interessantes sobre suas biografias que desavisados insistem em fazer mais importantes que suas obras. Armadilha inescapável. Talvez a maldição se situe justo no desejo de ser ficção. Nesse espaço, espero trocar idéias sobre alguns escritores que inverteram os papéis ao se tornarem personagens, ao fugirem de qualquer tipificação para ser, algumas vezes, o protótipo de si mesmo, ou seja, de uma imagem que é perseguida por muitos que buscam a originalidade. Pensar esses autores, analisando o impacto de suas obras para além da criação literária e discutindo o conceito de escritura maldita na contemporaneidade é um desafio incessante. É recorrente pensar-se em Baudelaire quando se pensa em literatura e subversão. Ou nos românticos, notadamente os chamados góticos, que construíram uma maldição sobre si, cuidadosamente alinhavada. Também a geração beat é o motor da arte que se faz pela transgressão absoluta. Assim, por um lado, sabemos que gente como Rimbaud, Poe, Kerouac, Bukowski são pra lá de pós-modernos. Porém, como entender literatura maldita na contemporaneidade? Considerar Philip Roth, por exemplo, como um escritor maldito talvez seja excessivo. Afinal – e outra vez –, como ser outsider numa época que supostamente aceita tudo? A transgressão de temas e a crueza com que Roth analisa o homem contemporâneo talvez não sejam suficientes para colocá-lo entre escritores que estão na contramão de tudo. Inclusive porque antes dele há Bukowski e Kerouac. Contudo, os tempos baudelaireanos vão longe. E se Roth balança como escritor maldito, seguramente suas personagens desfilam sempre sobre o vão da ponte mais alta. Mas esta é uma conversa sem fim, espero. E sem resposta definitiva, meu desejo mais ardente. Porque falamos, sobretudo, de literatura. E, se é verdade que a literatura exige fruição que foge do simplismo e está no desassossego, os escritores malditos são a fruição encarnada. Isso significa que a porta está aberta e o caminho insinuado. E, nós, espero, estamos na estrada.