El callejero: Pedro Juan Gutierrez


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A literatura cubana pós-revolução viveu uma larga pausa produtiva. Quer dizer, ainda que o regime de Fidel Castro proporcionasse inúmeros concursos de poesia e novela, os textos quase que invariavelmente se perdiam numa excessiva carga ideológica que anulava o literário a favor da exaltação histórica e social. As obras que fugiam a isso, como sabemos bem, pertenciam a escritores em situação de exílio.

 

 

 

Porém, nos anos 90, ocorre os que os estudiosos vêm chamando de novo boom da literatura cubana. Dentre os escritores que se destacam estão Leonardo Padura Fuentes, Daína Chaviano, Abílio Estevez e Pedro Juan Gutiérrez de quem falo a seguir. Antes, é preciso dizer que o que se destaca entre os narradores dos anos 90 e alguns anteriores é, sem dúvida, o contexto histórico e social. A partir da última década do século XX, o modelo cubano defendido pela Revolução se deteriorou. Alguns escritores cujo trabalho literário começou ou atingiu o auge na década de 80 ou 90, viajaram mais e muitos se decidiram pelo exterior. Isso em absoluto os fez contrários a seu país. Todos, exceto, em parte, Daína Chaviano, seguem escrevendo sobre seu país, entre a denúncia e a nostalgia, às vezes os dois, como foi o caso de Cabrera Infante. Porém, em geral, a voz poética da literatura contemporânea em Cuba está mais individual, o ato de escrever mais presente, o poeta mais desnudado.

Gutiérrez é conhecido principalmente por sua Trilogia suja de Havana. Aliás, a “sujeira” parece estar sempre mais ou menos anexada à obra de Gutiérrez. Um dos poucos escritores relevantes de Cuba que não saiu do país, ele prefere dar vazão à descrição aguda da miséria social e política, chegando às vezes à escatologia. Sua escritura é Cuba/Havana. Em linguagem sem freios, aberta e cortante, não deixa pedra sobre pedra ao falar dos vícios humanos e da sua cidade. Seus personagens podem variar, mas estão longe da beleza ou da grandiosidade. Por outro lado, também é inegável a delicadeza – palavra seguramente equivocada – com que descreve as putas e os suados trabalhadores de rua. É uma ternura dura que olha sem preconceito ou concessão. A Gutierrez não interessa ser agradável ao leitor mais sensível. É a sua Havana sem véus, o seu realismo sujo que, graças a inegável literariedade, seduz talvez mais do que a imagem de uma idílica ilha de mar limpo e farto.

Pouco a pouco, Gutiérrez se torna conhecido no Brasil. Sua presença em congressos e feiras de livro vem garantindo um público interessado neste autor de obra irregular. Irregular porque a insistência aguda num mesmo tema cansa um pouco. Discípulo inegável de Bukowski, não possui a profundidade de seu mestre. Mas Gutierrez vai longe. O submundo urbano de Cuba parece inesgotável nesta rumba de uma nota só. Nas suas falas, Gutierrez insiste em dizer que busca penetrar na pele da cada personagem. Talvez ninguém consiga fazê-lo tão bem quanto ele: desde garoto tem feito de tudo na vida para sobreviver, de sorveteiro a infrator. Atualmente vive entre a literatura e a pintura. Ser muitos parece fazer parte dele. A única coisa que creio ter consistência única é a própria La Habana. Dali não sai nem literariamente.

 

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Rosane Cardoso: 200 anos de Poe