Pois bem, várias “Usinas de Itaipu” vão ser “construídas” anualmente no mundo até 2020, não por meio do aproveitamento da força das águas, mas sim da ventilação atmosférica. Em 2007, o mundo possuía uma capacidade instalada de energia eólica de 93,8 GW e passou para 120,8 GW em 2008, atingindo 157,9 GW em 2009 (aumento de 31% em um ano de crise mundial). Portanto, já existem mais de “11 Itaipus” produzindo energia dos ventos e, apenas no ano passado, o mundo colocou em funcionamento o equivalente a mais de duas hidrelétricas de Itaipu em energia eólica. No Brasil, o crescimento relativo foi de 77,7% em 2009 (acima da média mundial), mas o crescimento absoluto ainda foi pequeno, pois a capacidade instalada do país chegou a 606 megawatts (MW), contra os baixos 341 MW de 2008.
Somente Europa, Estados Unidos e China, no ano de 2009, aumentaram a capacidade instalada de energia eólica em cerca de 10 GW cada. A Europa já possuía uma capacidade instalada de 65 GW em 2008 (quase 5 Itaipus), o que evitava a emissão de 91 milhões de toneladas de CO2. A partir de 2010, Europa, China e EUA – individualmente – vão aumentar anualmente a capacidade de geração de energia eólica acima de 14 GW (que é a potência de Itaipu). Assim, nos próximos anos, em várias partes do mundo, diversos “cataventos” serão instaladas com potência maior do que a capacidade da usina de Itaipu.
Para 2020, unicamente a Europa (EU) está projetando uma capacidade instalada de energia eólica de 230 GW, equivalente a 17% da demanda total de eletricidade da EU, o que evitará a emissão de 333 milhões de toneladas de CO2 por ano, contribuindo para mitigar a emissão de gases de efeito estufa. A Europa, a China e os EUA, pressionados pela ampla mobilização dos movimentos ambientalistas, estão caminhando no mesmo sentido de buscar o aproveitamento da riqueza dos ventos como fonte limpa e renovável de energia.
Vários outros países do mundo, como a Índia, estão investindo no aproveitamento das suas imensas correntes de ar. O avanço da energia eólica tem um enorme potencial de geração de empregos decentes e verdes, sendo que a inovação tecnológica para a substituição dos combustíveis fósseis deverá gerar novas oportunidades e efeitos positivos para toda a economia. A despeito da competitividade e das disputas entre nações para o melhor posicionamento no comércio internacional, a contribuição para reduzir os danos do aquecimento global e criar novas fronteiras energéticas pode ser quase incomensurável. Para isto a energia eólica precisa se consolidar em um arcabouço de desenvolvimento que privilegia o bem-estar e não o simples acúmulo de bens materiais.
O aumento da produção de energia renovável e limpa não quer dizer que se deve abandonar os esforços para se reduzir os desperdícios, o consumo per capita e a melhora da eficiência do seu uso. A energia eólica, como fonte renovável, é útil para acelerar o fim da era do petróleo e do carvão e não para ser uma alternativa de viabilizar o elevado consumo conspícuo que predomina nas sociedades afluentes e nas camadas ricas do mundo em desenvolvimento. A energia eólica será principalmente útil para uma futura sociedade do conhecimento que terá como base a produção de bens e serviços imateriais.
Neste sentido, a produção de energia eólica, especialmente aquela sob controle das comunidades locais, pode ser uma das respostas mais adequadas para se garantir o desenvolvimento humano e sustentável no século XXI. Mesmo os pessimistas e os descrentes podem concordar, em grande medida, com os versos de Bob Dylan:
The answer is blowin’ in the wind”.
Referencias:
GWEC – Global Installed Wind Power Capacity
http://www.ewea.org/fileadmin/ewea_documents/documents/press_releases/2009/GWEC_Press_Release_-_tables_and_statistics_2008.pdf
China Challenging the United States for World Wind Leadership – J. Matthew Roney –
http://www.earth-policy.org/index.php?/indicators/C49/