(Nossa) Língua Inglesa… na França

A anglofobia dos franceses é de conhecimento público, no news. Mas também é parte de uma das esquizofrenias desse país, que adota palavras estrangeiras no vernáculo, mas é incapaz de pronunciá-las de forma inteligível para british ou american people. Brazilian people também sofrem o pênalti, por tabela…

“Download” não existe, aqui a gente “télécharge” os arquivos. “Delete” também não consta no teclado; é “supprimer”, onde se lê na tecla “Suppr”. E, até você ligar o nome à pessoa, sempre dá aquele cagaço de apertar justamente o botão que vai implodir o arquivo, enviar os escombros pra lixeira, eliminá-los e perdê-los para sempre nos confins “numériques”.
Mais oui, digital aqui é "numérique". Quê diabos são essas fotos ‘numéricas’, pensava eu? Digitais, fotos digitais. Ah, bom.Entrementes, algumas expressões na língua da rainha são de uso corrente. Por exemplo: fim de semana é “week-end” na França, sem pudor, e todo mundo diz. No Canadá é “fin de semaine”… Quando algo é bacana, é “cool”, daí começam nossos problemas. Não é cul, é cull, a ponta da língua lá no céu da boca, à francesa.

 

Fora os sons, que repertoriam cada idioma, e que me exasperaram um ano, até eu conseguir pronunciar (aproximadamente) corretamente “accueil”, por exemplo, o inglês passa pelo crivo da pronúncia local. Mesmo. Não é questão de dificuldade, french sotaque, não. As palavras são lidas conforme a fonética do francofalante.

No rádio, martelaram uma notícia sobre os grandes supermercados-magasins “hard discount” domingo inteiro. E como se pronunciava? Magasins arr discunt. Eu passei o dia achando que eles andavam se ensaiando pro alemão. É como se no Brasil disséssemos ard discon. No que, é mais fácil ser compreendido falando o inglês como ele é. Mesmo que isso acabe em registros de nascimento do tipo Maicou. Bom….Pois o capítulo nomes próprios é à parte. E não há condescedência. Minha amiga americana Rachel se apresentou e foi corrigida. Ficou meio que interdito chamá-la de Reitchel, aqui é Rachéll, a língua lá no céu da boca e tal. Becám, e é quem? O do futebol: David Beckham. Elementar. E tem a Juliá Robérrts, o Spilbérr, o Arrison Fórr… E vai adivinhar se radioéd é de comer… Não, é a banda: Radiohead.

Ouvir tudo isso fica entre o bizarro, o insólito e o divertido. Mas, e experimente falar. Mesmo se sentindo completamente idiota, pra ser entendido, é preciso aderir. Daí que a primeira vez que eu entrei numa loja de CDs sozinha pra predir o último do Ben Harper, o cara me olhou: Quem? Raciocinei rápido, escrevi mentalmente e ataquei: Ben Arrpér? Mais, oui!

 

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larissa bueno ambrosini