Praguejando By Gilberto Agostinho / Share 0 Tweet Antes de mais nada, este post é dedicado aos meu amigos Danilo Pereira e Milton Ribeiro, Os tchecos são os maiores consumidores de cerveja em todo o mundo e a sua cerveja é internacionalmente conhecida. Além disto, aqui na República Tcheca se produz uma boa variedade de bebidas praticamente desconhecidas no Novo Mundo, como a Slivovice e a Becherovka. Eu convido vocês, então, a explorar mais este lado da alma tcheca. Quando eu iniciei esta coluna eu me deparei com uma grande questão: quais seriam os primeiros temas a serem abordados? Acho que as minhas escolhas anteriores foram lógicas, já que funcionaram como uma introdução para os próximos textos. Mas falar sobre Praga e a República Tcheca sem falar sobre bebidas alcóolicas seria um grande pecado, e eu não quero conhecer o inferno tcheco. Começemos então com a mais importante bebida tcheca: a cerveja. Sim, esta aqui é consumida em quantidades colossais, com uma média absurda de meio litro por habitante por dia. Se lembrarmos então que existem padres, abstêmios e crianças, chegaremos facilmente a conclusão de que o tcheco bebe muito. Na verdade, os fatos ainda vão além disto pois esta é a nação que mais consome cerveja per capita em todo mundo, deixando os alemães comendo poeira. A cerveja tcheca é absolutamente diferente do que os brasileiros estão acostumados. É uma cerveja forte, saborosa, servida gelada ma non troppo, ao contrário das nossas servidas a -2oC e que descem redondo, mas sem sabor (ou pior ainda, com sabor ruim). Aqui se diz que uma cerveja forte não é aquela com o maior teor alcóolico mas sim a que tem a maior taxa de graus, uma medida que eu não conhecia antes. Eu não sei exatamente como funciona esta taxa, mas o princípio por trás é que quanto maior esta taxa, mais espessa e com sabor mais acentuado esta será, não importando o seu teor alcóolico. Então uma cerveja de 12° tem uma coloração mais forte do que uma de 10°, que é a graduação mínima que eu encontrei por aqui. Entre as de 10°, sobressaem-se a Staropramen e a Budvar (fórmula depois usada pela Budweiser). Já entre as de 12°, temos uma vencedora unânime: Pilsner Urquell. Esta é a favorita de dez entre dez tchecos. Os tchecos são muito tendenciosos quando se trata da sua produção nacional de cerveja. Todos dizem que a melhor cerveja do mundo é produzida aqui, algo um tanto contestável. Todos estes nomes citados acimas são produzidos por grandes indústrias, e a produção artesanal é rara nas maiores cidades. É óbvio que uma cerveja alemã artesanal será muito mais saborosa, mas aí vem a questão: de que maneira devemos beber cerveja? Se a sua resposta é a apreciação da mais extrema qualidade em doses homeopáticas, então vá atrás destas cervejas alemãs. Elas são caras, mas valem cada centavo. Mesmo no Brasil eu pude encontrar marcas muito boas por preços razoavelmente aceitáveis (uns R$20 por meio litro no mínimo). Mas se você respondeu que a cerveja é algo excencial à vida, algo a ser consumido diariamente, como arroz e feijão, e que ela deve ser boa sim mas ainda manter um ótimo custo-benefício, então a República Tcheca é o seu lugar. A Pilsner Urquell bate qualquer outra produzida em grande escala que eu já experimentei, e custa míseros R$3, ou até menos, por meio litro. Aqui é mais barato tomar cerveja do que tomar refrigerantes ou mesmo água mineral. Mas nem só de cerveja se vive na República Tcheca. Existem três grandes bebidas que dominam o cenário por aqui. A primeira delas, chamada Becherovka (pronuncia-se Berreróvca), é uma especialidade tcheca. É uma bebida forte, com 38% de teor alcóolico, que me lembra um pouco o rum. Tem um sabor levemente doce, e é normalmente servida após as refeições. É claro que os jovens tchecos aproveitaram a bebida nacional para fazer um cocktail. O resultado é uma versão da ‘Cuba Libre’ nacional, normalmente vendida sob o nome ‘Žižkov Libre’. É uma boa combinação, diga-se de passagem. A outra bebida que merece mênção honrosa aqui é a Slivovice (pronuncia-se Islivovitsé). Esta bebida é típica em todo o leste europeu, e nada mais é do que um licor de ameixas. Sua graduação típica é de 45%, mas existem muitos fabricantes artesanais que as vendem com teor mais alto. um grande amigo comprou uma garrafa com absurdos 80% de teor alcóolico. Quando eu perguntei para ele sobre qual foi a sua sensação ao tomá-la, ele me disse que pensou que iria morrer. E olhem que ele é tcheco. Por último, mas não por menos, temos o Absinto, é claro. O absinto é a bebida que os turistas mais gostam e isto é facilmente explicado pelo fato de a República Tcheca ser um dos únicos países que vendem esta bebida sem um limite de teor alcóolico. Então o ‘verdadeiro absinto’, com seus quase 80% de teor alcóolico, só pode ser comprado e consumido aqui, dentro destas fronteiras. Eu, pessoalmente, não gosto muito do absinto do por causa do seu sabor, normalmente anis. Beber é normal e saudável por aqui. Não existe nada mais comum do que encontrar uma velhinha almoçando sozinha em algum pub com seu meio litro de Pilsner à sua frente (muitas vezes já o segundo ou o terceiro meio litro). Todas as vezes que vou visitar a casa de algum amigo, sua mãe me prepara uma boa comida típica e abre garrafas e mais garrafas de cerveja. Se tenho aula na casa dos meus professores ao invés de ir ao Conservatório, eles me oferecem uma dose de Becherovka antes de começarmos. Este é o jeito tcheco de se viver. Para finalizar, cito uma sábia frase proferida pelo meu professor de regência: "Gilberto, existem três itens exenciais para uma aula de música: lápis, borracha e abridor de garrafas."