Em defesa da família


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Desfamilização não significa o fim da família, mas sim o fortalecimento de relações mais equitativas entre cônjuges, assim como maior compromisso mútuo entre ascendentes, descendentes e demais parentes.

A maioria absoluta das pessoas é a favor da família. Mas de qual família?

Alguns, provavelmente, são a favor da família hierarquizada e fundada na dominação de um chefe patriarcal que subjuga sua esposa e filhos. Estes acham normais as desigualdades de gênero e geração que estão por detrás da ideologia do familismo.

Familismo é a subordinação dos interesses pessoais e das prerrogativas individuais aos valores e demandas da família:

The term familism refers to a model of social organization, based on the prevalence of the family group and its well-being placed against the interests and necessities of each one of its members. It is part of a traditional view of society that highlights loyalty, trust, and cooperative attitudes within the family group. Although its origin is in the traditional family institution, it is also used as an analogy for characterizing different forms of organization and social relationships—those that are guided by group interest and well-being instead of the general interest and well-being. From a psychological point of view, familism is a cluster of attitudes that emphasizes the relevance of the family for personal and social life, the development of a feeling of duty among the members of the family group, and the belief that to have children is a requirement for personal and social realization” (Marriage and Family Encyclopedia, Familism, disponível em: http://family.jrank.org/pages/485/Familism.html)

Discutir a questão do familismo é importante, pois seria simplismo achar que a família seja exclusivamente uma instituição harmônica e destinada a atender, igualitariamente, às necessidades básicas e emocionais, dos seus membros. De maneira dual, podemos dizer que, por um lado, a família é um espaço de cooperação e de afeto e, por outro, pode ser definida como o “berço da loucura” e o “locus de violência”:

Nos anos 60 e 70, a psiquiatria, a psicologia e, em geral, a cultura criticavam a família como berço da loucura. Em 68, o primeiro filme de Ken Loach, ‘Family Life’, foi um verdadeiro ato de acusação contra a família. Em 1970, Laing e Esterson publicaram "Sanity, Madness and the Family" (saúde mental, loucura e a família). A família era a grande responsável pela repetição dolorosa do mesmo e da mesmice, uma jaula em que se debatiam os anseios e os desejos de mudança, em particular os dos jovens. Durante os anos 70, historiadores e sociólogos, inspirados no ensino de Michel Foucault, descreveram a família como um refinado instrumento de domínio: o ‘sistema’ se reproduzia delegando a tarefa de subjugar os corpos e as almas à família, única instituição capaz de controlar a vida cotidiana (‘La Politique des Familles’, de Jacques Donzelot, é de 77)” (Calligaris, FSP, 2004)

En relación con esto, la familia es un espacio paradójico: es el lugar del afecto y la intimidad. Pero es también el lugar privilegiado para el ejercicio de la violencia. Sin embargo, la violencia entre miembros de la misma familia es algo de lo que no se habla. Es secreto y vergonzoso, y escapa al conocimiento público” (Jelin, Cepal, 2007, p.110).

Assim, se não existe uma família perfeita, nem por isto é impossível haver uma família com maior equidade de gênero e de geração onde cada membro colabora com os demais, no espírito daquela velha máxima: “um por todos e todos por um”. Desta forma, o indivíduo não é sufocado pela família e esta não é abandonada pelo processo de individuação das pessoas. Pode existir uma sinergia entre os indivíduos autônomos e o coletivo familiar, assim como entre as famílias autônomas e a sociedade. Neste caso, o coletivo não sufoca o potencial individual, mas, ao contrário, potencializa o desenvolvimento de cada um. O todo passa a ser maior do que a soma das partes.

A família tradicional tinha como base uma rígida divisão sexual do trabalho, que era reforçada por uma rígida divisão social do trabalho. A segregação ocupacional e a discriminação salarial contra as mulheres geralmente coincide com a falta de compromisso dos homens com os tarefas da reprodução e as atividades domiciliares. Mas, felizmente, a sociedade está se modificando.

A família também está se transformando e se diversificando. Cresce o percentual de casais sem filhos, aumenta a presença de arranjos monoparentais femininos, avança o número de famílias reconstituídas, amplia-se o reconhecimento de uniões do mesmo sexo, etc. É importante compreender este fenômeno já que a dinâmica familiar influi no bem-estar dos indivíduos, como mostrou a demógrafa Julieta Quilodrán:

Para terminar, quisiera decir que el logro del bienestar social pasa indiscutiblemente por el desempeño familiar, pero no necesariamente por aquél que revindica la familia tradicional y estigmatiza su insestabilidad actual. Convencer de que el modelo de familia patriarcal ya no responde a la realidad y aportar conocimiento sobre las razones de los comportamientos imperantes, me parece, son cometidos de nuestro quehacer como investigadores sociales” (Quilodrán, Córdoba, 2006, p. 46)

Portanto, não cabe fazer uma defesa da família em geral, muito menos daquela com forte traço tradicional e patriarcal. Cabe, sim, defender as famílias inseridas em uma ordem de direitos individuais com equidade entre os cônjuges (vivendo unidos ou separados) e com respeito e compromisso mútuo entre pais, filhos e demais parentes.

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José Eustáquio Diniz Alves