Duboc e Dusek – notas sobre o esquecimento e a memória eletrônica.


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O que é esquecer? É não lembrar. E porque você não se lembra? Há vários motivos pelos quais você deixa de se lembrar de algo. A lembrança humana é produto de nossa mente, de nossa memória (córtex – lobo límbico). Mas com a mercantilização de tudo, até nossa memória foi vendida, sendo submetida aos desígnios da mass media. É a chamada “memória eletrônica” – e não me refiro ao Google não, esse serve mais como um inconsciente coletivo (não no sentido junguiano). A memória eletrônica a que me refiro, é a aquela que diz a nós o que devemos lembrar e quando. Ela manda e os lacaios obedecem. Não há muita escolha, pois o progresso vem tingido pelo número de cores que seu monitor é capaz de emitir. Com informações por todos os lados – comerciais, jingles, adesivos, outdoors – nossa retina é bombardeada, isso faz com que não nos esqueçamos – daquilo que eles querem que não esqueçamos. Aí eu te pergunto, onde estão nomes como Justin Bieber, Lady Gaga e Beyoncé? Por todas as partes. São usados e usam a mídia num processo onde todos ganham, menos os consumidores [ou não] – compradores de ilusões baratas. Aí eu pergunto a vocês, onde estão Jane Duboc e Eduardo Dusek? – Um longo silencio se ouviu [Skylab]. Ninguém sabe, pois não estão em canto nenhum. Existem ainda, mas já foram usados o suficiente para serem lembrados. Isso até a hora em que forem interessantes novamente. São favas contadas, eu já cansei de dizer a mesma coisa. A indústria fonográfica é assim mesmo – segue a lógica do capital, valoriza aquilo que no momento gera lucro, a partir do momento que não dá mais, condena ao ostracismo. E qualquer tentativa de independência – as portas se fecham como as pálpebras na hora do sono. Eduardo Dusek surgiu no cenário nacional no final dos anos 70, mas foi na década seguinte que conheceu seu “auge” – se é que houve um. Desde criança eu sempre ouvia seu nome, isso ocorreu até meados de 95, depois disso nunca mais. Tanto é que minha memória não se recordava de nenhuma de suas músicas ou até de sua fisionomia. Dusek tornou-se tão invisível, que mesmo hoje como ator na Globo (a maior vitrine nacional), não é falado.

 

 

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Considero Dusek um grande compositor – com letras inteligentes e comicamente bem construídas, seria hoje um cruzamento entre Zeca Baleiro e Rogério Skylab. Sonoramente faz um pop tipicamente oitentista, flertando com o rock, com o samba, marcha e outros ritmos típicos brasileiros, tudo dentro de um caldeirão de deboche brega com clima de churrascaria. Ouvi-lo hoje responde muito sobre o rock nacional – de Barão Vermelho à Ultraje a Rigor. Não precisa-se de boa vontade para reconhecer o talento de Dusek e sua capacidade quase moskiana – referência a Paulinho Moska – de compor de forma intrincada e hábil. O disco “Olhar Brasileiro” de 1981 é o primeiro de sua carreira solo. Disco interessantemente bom – permeado por um clima decadente e ao mesmo tempo psicodélico, mas cheio de harmonias interessantes e bem exploradas, além de um instrumental refinado. Já Jane Duboc é egressa da MPB mais tradicional – apesar de vir de uma cena muito peculiar, Belém do Pará. Possui uma voz única – algo escorregadia, mas de um encanto incomum. Alcançou grande sucesso nacional também nos anos 80 – dialogando tanto com Quarteto em Cy quanto com Clube da Esquina.Duboc têm uma voz doce, por onde as palavras encontram uma pronuncia clara e alta – o ouvinte do outro lado vai se envolvendo com esse clima todo – da voz e dos instrumentais – vide a canção “Minha Arte”. O disco “Todos os Caminhos” é de 1998 – caminha entre a tradição, o experimental e o momento. Há bossa-nova, jazz, samba, tudo sob uma leitura muito própria, de uma artista madura pelo tempo – nota-se isso pelas escolhas feitas: Lenine, Itamar Assumpção, Dominguinhos, Jay Vaquer (seu filho), entre outros. Ao contrário de Eduardo Dusek, Jane Duboc continua com uma carreira ativa – mas onde ela está? Recentemente eu estava numa loja de discos apenas olhando os títulos, quando me veio à mente a ideia de procurar discos desses dois artistas. Não encontrei nada – nem coletâneas. Logo supus que estavam fora de catálogo – e justamente como não há nenhum interesse da mídia neles, ninguém os lança – não dá lucro. 

 

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Os nascidos a partir de 95 – que hoje têm 15 anos, sequer ouviram falar de Duboc ou Dusek, e mesmo os que gostam de Jay Vaquer não sabem que ela é sua mãe, e mesmo os que assistem seriados e novelas da Globo sabem que Dusek é ator dessa emissora. Isso é um trabalho de memória. Eles foram apagados sumariamente da memória, assim como serão muitos que hoje possuem algum misero espaço – assim como foi com muitos que vieram depois de Duboc e Dusek – onde estão Patrícia Marx, Adriana e a Rapaziada, Vinny, Lairton dos Teclados, e outros? Embora ainda apareçam de vez em quando, já não possuem o mesmo espaço de antes, das épocas áureas em que davam audiência e dinheiro à máquina. Voltando a memória eletrônica, é graças a ela também que esses “artistas” continuam existindo – pois é graças ao Googlee ao Youtube que continuamos “podendo” não esquecê-los, pois lembrar, quem é que lembra não é?

 

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About the author

Marlon Marques Da Silva

Humano, falho, cético e apenas tentando... Sou tio, fã de Engenheiros do Hawaii, torço pro Santos F.C. e não me iludo com políticos e religiosos e qualquer discurso de salvação. Estudei História, Filosofia, Arte, Política, Teologia e mais um monte de coisas. Tenho minha opinião e embora possa mudar, costumo ser aguerrido (muito) sobre ela e geralmente costumo ir na contra-mão da doxa.