A Linguagem da Análise do Comportamento

Os analistas do comportamento entendem as pessoas como os seres mais belos e complicados do planeta. O maior expoente da abordagem, B. F. Skinner, escreveu longamente sobre como melhorar o mundo dos homens. Ele tinha uma preocupação humanista que foi adotada por todos os que perceberam o potencial das suas idéias.

Quando o Marcus me pediu para escrever textos de Psicologia para um portal que envolve diversas especialidades, eu antevi a oportunidade de divulgar e explicar, pouco a pouco, o que é a análise do comportamento. O público vai ser grande, pensei, e quanto mais pessoas tiverem contato com o que verdadeiramente é a análise do comportamento, mais ferramentas elas terão para compreender as suas relações com o mundo e agir de forma mais efetiva na busca de uma vida com qualidade. A minha confiança na abordagem deriva da experiência prática, minha e de colegas: a simplicidade de aplicação e rapidez dos resultados. A falta de conhecimento do grande público sobre a análise do comportamento é conseqüência de um fator, que é ao mesmo tempo a maior qualidade e o maior defeito da área: sua linguagem.

Os analistas do comportamento preocupam-se com todos os aspectos da vida humana: pensamentos, sentimentos, linguagem, relações de amor, relações familiares, relações sociais em geral, educação, ambiente empresarial, ambiente hospitalar, etc, etc, etc. Os analistas do comportamento entendem as pessoas como os seres mais belos e complicados do planeta. O maior expoente da abordagem, B. F. Skinner, escreveu longamente sobre como melhorar o mundo dos homens. Ele tinha uma preocupação humanista que foi adotada por todos os que perceberam o potencial das suas idéias. Idéias essas não criadas do nada, mas extraídas de pesquisas científicas rigorosas. Foi essa fonte de criação, as pesquisas, que moldaram a prática e a linguagem da análise do comportamento em uma forma considerada "fria" por seus críticos, uma forma que, segundo os estudiosos de outras abordagens psicológicas, "diminui o homem" porque não fala de "sua multiplicidade" e utiliza "pesquisas simples” para tratar de assuntos “muito complexos".

Uma análise rápida e superficial da linguagem utilizada pela abordagem comportamental pode erroneamente conduzir ao tipo de afirmações feitas pelos críticos. No entanto, um estudo mais aprofundado da abordagem revela que a linguagem científica e objetiva serve à função de permitir uma comunicação precisa entre diferentes profissionais, além de servir como um quadro de referência para a análise e interpretação do comportamento humano em todas as situações em que ocorre.

Vamos usar como exemplo o termo “reforço” que, cientificamente falando, refere-se a estímulos que quando aparecem logo após um comportamento tem a propriedade de aumentar a probabilidade futura de emissão deste comportamento. Em palavras comuns, são aquelas coisas “boas” que lutamos para obter. Quando utilizamos o termo "reforçador", não estamos dizendo que os homens são impelidos apenas por prazer; na verdade, estamos manifestando o que vimos em laboratório: as pessoas tendem a repetir certas ações, aquelas que foram seguidas de algo apetitivo (o reforçador). Além disso, por "reforçador" não estamos nos referindo apenas a eventos bem marcados, como o recebimento de dinheiro, um doce preferido ou um abraço carinhoso; estamos nos referindo a quaisquer eventos que aumentam a chance de a resposta voltar a ocorrer, seja esse evento o recebimento de um doce, a voz da pessoa amada do outro lado do telefone ou o contato da mão com a caneta, quando ela está sendo procurada no escuro. O "reforçador" é um nome dado ao que observamos acontecer no cotidiano das pessoas. É um nome útil porque não faz referência a nenhum objeto específico, mas a uma relação constatada entre as pessoas e o mundo.

Da mesma forma, não nos referimos a termos como "mente", "eventos mentais", "processos inconscientes", "cognição", etc, quando explicamos o comportamento. Não utilizamos tais termos porque acreditamos que eles desviam a nossa atenção do que está realmente acontecendo. Uma pessoa não vai pegar água porque está "com vontade" de pegar água. Explicar assim, por meio de uma força interna chamada "vontade", pode nos impedir de ver o evento realmente importante que conduziu ao comportamento de pegar água: ter ficado muito tempo sem beber nada, ter comido alguma coisa salgada ou o súbito aumento da temperatura. De maneira similar, quando dizemos que um garoto bateu em seu irmão porque estava com "raiva" dele, perdemos o foco do evento que produziu esse sentimento: por exemplo, podemos descobrir que o garoto que ficou com "raiva" teve seu brinquedo favorito destruído pelo irmão. Ao invés dos termos da mente, preferimos falar sobre o comportamento descrevendo todos os eventos relacionados a ele. Infelizmente, a linguagem que utilizamos é tratada como “muito básica” por quem não estudou seus benefícios.

O assunto da linguagem poderia se estender por um livro inteiro. Não quero ir mais longe nesse momento. Quero apenas atestar que os analistas do comportamento ocupam-se de comportamentos complexos, incluindo sentimentos, pensamentos e linguagem. Ocupam-se de tudo aquilo que é importante para o humano. A aparente “frieza” da nossa linguagem deixa de ser um problema quando é conhecida. E é isso que vou fazer aqui: apresentá-la e explicá-la. No próximo texto vou narrar o caso clínico atendido por uma colega e utilizar suas características para ilustrar as afirmações feitas neste texto. Até lá.

Agradeço a Marcela Ortolan pela ajuda no texto.

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Robson Faggiani