Artigos By Bruno Cardoso / Share 0 Tweet "Blogosfera", essa palavra tão utilizada para se referir ao grande e emergente universo dos blogs, foi cunhada em 1999 como uma piada. Dois anos depois, o termo foi forjado novamente, dessa vez com mais seriedade, mas muitos preferiram continuar achando graça da coisa. Derivado de "logosfera", que se refere ao mundo da língua, da palavra, e já bem consolidado entre os blogs, o termo ainda é capaz de arrancar sorrisos dos mais atentos. "Blogosfera", essa palavra tão utilizada para se referir ao grande e emergente universo dos blogs, foi cunhada em 1999 como uma piada. Dois anos depois, o termo foi forjado novamente, dessa vez com mais seriedade, mas muitos preferiram continuar achando graça da coisa. Derivado de logosfera, que se refere ao mundo da língua, da palavra, e já bem consolidado entre os blogs, o termo ainda é capaz de arrancar sorrisos dos mais atentos. Primeiro, porque a blogosfera, como entidade, não existe. Pode-se dizer que existem diversos, até incontáveis, aglomerados de blogs que se relacionam entre si com links, comentários e referências cruzadas, mas é fato notável que muitos desses pequenos grupos interagem pouco com outros. Em outras palavras, é raro que haja citações ou trocas entre blogs que não façam parte de um mesmo conjunto — o que é absolutamente natural — e a união ou coesão que se supõe existir da pretensão do famigerado termo não passa de metáfora. Segundo, o blog é apenas um meio de comunicação e não algo com valor próprio. É importante salientar que os blogs não passam de sites como quaisquer outros, mas que possuem certas características em comum, como, por exemplo, periodicidade nas atualizações e espaço para os comentários dos leitores. Nesse sentido, a "blogosfera" não seria um apanhado de blogs, mas de pessoas que os escrevem. No entanto, seria ainda uma generalização vaga, pois os autores são independentes, falam de assuntos diversos com pontos de vista antagônicos e cuja única semelhança é o tipo de ferramenta que usam para propagar suas opiniões. Terceiro, é impossível unir blogs de lugares diferentes em uma mesma esfera. Cada país tem a "blogosfera" que merece e a nossa, na acepção popular do termo, ainda preserva as raízes cômicas de sua gênese. Há alguns meses teve certa repercussão o Mapa da Blogosfera Brasileira, criado pelo desenhista André Dahmer, que (mesmo com seus 26 erros de omissão, localização e lógica) ilustra muito bem a relação entre os mais conhecidos blogs nacionais e realça que a nossa blogosfera está mais para um punhado arquipélagos do que para um grande universo interconectado. Aliás, creio que a coisa não deva ser muito diferente em outros lugares do globo, pois é normal que aqueles com mais afinidades interajam melhor entre si. A parte engraçada, como já adiantei, é que o desejo por uma blogosfera nacional parece existir mais pela vaidade do que pela real integração. Há, pelo menos por parte de muitos que adoram repetir essa palavra, a necessidade de legitimar e engrandecer o próprio espaço pessoal por meio dessa "entidade" que, em teoria, é bastante expressiva, mas na prática existe aos frangalhos. Existem diversos blogs que, sim, têm sua importância e relevância, outros tantos que possuem conteúdo original e de qualidade, com menos visibilidade do que seria desejável, mas cuja presença é essencial na internet brasileira. No entanto, clamar por uma blogosfera como um conceito, entidade, rede de compartilhamento é, senão megalomania ou orgulho, um delírio.