Deixem o bispo pra lá!


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O bispo de Barra, Dom Luiz Cappio, encontrou em uma greve de fome a maneira de expressar sua contrariedade quanto à transposição do rio São Francisco. É justo o método escolhido pelo bispo para conseguir a atenção de sua causa? É razoável que o governo abra mão de suas atribuições ante um ato solitário e, por que não dizer, de chantagem emocional?

O programa de governo de Lula para o período 2007-2010 foi lançado em 29 de agosto do ano passado, durante a campanha eleitoral. Entre as propostas, a transposição do São Francisco:

“Aperfeiçoar e acelerar a implantação (…) do Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste e do Projeto São Francisco (Revitalização do Rio São Francisco e Interligação de Bacias).”

Ademais, é inegável que não se trata de proposta perdida em meio a um calhamaço de papéis; o próprio Lula abordou o tema em inúmeras oportunidades, ainda que para muitos se tratasse apenas e tão somente de mais uma daquelas promessas de campanha feitas por políticos e jamais executadas.

Como todos sabem, Lula foi reeleito em outubro do ano passado. Teve 58 milhões de votos, 20 milhões a mais que o segundo colocado. Sua votação no Nordeste foi expressiva, proporcionalmente mais alta que em outras regiões do país.

Escudado por sabe lá Deus que estudos, ou quiçá por mandato divino, o bispo de Barra, Dom Luiz Cappio, inventou de fazer uma greve de fome, em oposição às obras de transposição do São Francisco. Na verdade, sua segunda greve de fome, a primeira datando de 2005.

Existem ótimos argumentos em favor da transposição, do mesmo modo que existem excelentes argumentos contrários. Porém, fica a questão: é correto que se interrompa uma obra pública, que se constitui em uma das principais propostas do candidato eleito por 60% da população do país, pela determinação de uma pessoa, que se vale de uma greve de fome para impor suas idéias na marra?

Cada um com sua opinião quanto ao caso, mas considero mera chantagem a atitude do bispo de Barra. Seria infantil, não fosse também antidemocrático: um homem faz uma greve de fome para impor uma vontade pessoal ante a Nação. Melhor não pensar, mas… E se essas greves de fome virarem moda?

A pretensão de Dom Luiz pode até não ser descabida, mas seu método é. Que volte a se alimentar e que tente conseguir o apoio popular às suas idéias, é isso o que eu espero. Mesmo porque a coisa pública deve ser gerida com o uso da razão; não podemos nos curvar ao emocionalismo barato de uma chantagem.

Mais que satisfações ao bispo, Lula deve satisfações a seus eleitores.Pelo bem da democracia: se o bispo quiser mesmo se suicidar em praça pública, em oposição não apenas à transposição, mas também aos ensinamentos de sua própria igreja, paciência. Afinal, o melhor a fazer é deixar o bispo pra lá!

 

Foto: rio São Francisco, nas proximidades de Neópolis-SE. Arquivo do autor.

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Ricardo Montero