Oscar Wilde

A minha vida de leitora, como a de todos que lêem, está repleta de historietas. Bobas algumas, é verdade, mas sempre aventuras. Com o tempo e com o acúmulo de “leituras necessárias”, às vezes é bom lembrar os primeiros deslumbramentos literários, as decepções narrativas (superadas), ou a curiosidade suplantando o texto. Estes foram, respectivamente, meus encontros com Os doze trabalhos de Hércules, de Monteiro Lobato; “a história que não levava a nada” Dom Casmurro, de Machado; e uma introdução a O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde. Esta introdução em particular me interessou muito por uma razão simples: o crítico que felizmente não lembro o nome, fazia tantas referencias ao “Caso Oscar Wilde” sem dizer a que vinha que quase tive uma urticária de curiosidade. Por que o julgaram e que comportamento indecoroso teria impetrado este escritor?
Pesquisei em vários livros – que não foram tantos assim – e nada ou sempre essa coisa de meias palavras para falar de Wilde. Só estava claro que eram perversões sexuais, tema incrivelmente aliciante para uma adolescente curiosa. E não havia internet. Porém, havia muita outra coisa a fazer e precisei adiar minha pesquisa wildeana. Mais tarde, quando um livro de poemas de Wilde caiu em minhas mãos, sua sexualidade já não me importava mais. Estava adulta e infelizmente menos curiosa, mas, felizmente, menos preconceituosa.
Não quero justificar Wilde como maldito. Aliás, não pretendo mais fazer isso, a menos que seja absolutamente necessário. Depois de tantos artigos, isso está explícito nos autores deste espaço. Deve bastar falar de literatura…
Poeta, prosador, ensaísta, Oscar Wilde (1854-1900) frequenta as altas esferas sociais, torna-se nome requisitado tanto em festas quanto em estritas rodas artísticas, professor requisitado, literato de grande acuidade. Tanta visibilidade pode ser glória e decadência na moralista Inglaterra vitoriana. Wilde conhece os dois lados desta moeda.
A decadência, porém, continua dando fôlego a ele. Na prisão, nascem A balada do Cárcere de Reading e De profundis. Salomé, uma das peças importantes de sua carreira dramática, também é dessa época. Contudo, Wilde é, sobretudo, um esteticista.
O esteticismo, surgido como nova concepção do belo artístico no século XIX, encontra, em Oscar Wilde, a legitimação e o apuro. Em Dorian Gray, o autor canoniza o belo ao mesmo tempo em que vaticina a impossibilidade de atingir-se a perfeição estética. Ao ler contos como A rosa e o rouxinol, O príncipe feliz ou O aniversário da infanta, por exemplo, não chego a ver um contista excepcional, mas ao longo desses mesmos textos, outra vez emerge a discussão sobre o conceito do belo, agora de maneira menos centrada que em Dorian Gray, porém mais próximo à idéia de belo como modo de vida. E mais uma vez, no entanto, o belo se esboroa…
Coerentemente, o dandismo é a obra e o próprio Wilde: a sofisticação ao vestir, a boêmia, o mal, o “pecado”. Como chegar ao belo – absoluto, talvez – sem experimentar tudo isso?
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PSs:
Recomendo a leitura de A verdade sobre as máscaras – apontamentos sobre a ilusão, instigante ensaio de Wilde sobre Shakespeare, texto fácil de encontrar e que nos faz chegar perto do conceito de belo de Wilde.
Recentemente, obras de Wilde foram adaptadas para o cinema: A liga extraordinária, A importância de se chamar Ernest, e O marido ideal, sendo o primeiro uma péssima idéia hollywoodiana e os outros, duas deliciosas comédias inglesas. A primeira adaptação de A importância… é dos anos 50.

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Rosane Cardoso: 200 anos de Poe