Esperteza ou expertise?


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O historiador Sérgio Buarque de Holanda, em Raizes do Brasil, discorreu sobre dois tipos e atitudes presentes na formação do Brasil: o “aventureiro” e o “trabalhador”, o primeiro pode ser representado pela esperteza e o segundo pela expertise.

 

Esperteza ou expertise são duas maneiras de tratar os problemas mais comezinhos do dia a dia ou dos problemas mais gerais da Nação. Esperteza é uma característica mais encontrada no aventureiro e expertise mais própria do trabalhador. Vejamos as definições do dicionário Aurélio para as palavras que formam o título deste artigo:

Esperteza =  ação, modos ou dito de pessoa esperta; malícia, manha, astúcia.
Esperto = acordado, desperto; arguto; espertalhão.
Expertise = perícia, avaliação ou comprovação realizada por experto.
Experto = pessoa que adquiriu conhecimento ou habilidade graças à experiência, à prática.

De fato, a esperteza é um primeiro passo para a degeneração social e a corrupção. O mal profissional ou o corrupto é um esperto. O esperto é um egoísta. De maneira mais ampla, podemos dizer que o esperto é aquele que se servi de um propósito ou instituição. Ao contrário o experto é contra a corrupção. O experto é altruísta. O experto serve a um propósito, a uma instituição e a uma nação.

Em geral, a esperteza (“malícia, manha, astúcia, ardil, malandragem”) traz frutos mais rápidos e requer menos esforço e trabalho, enquanto a expertise  (“competência ou qualidade de especialista”) exige determinação, ânimo e resistência no longo prazo.

Por exemplo, o aluno que cola do colega ou plagia um trabalho na Internet pode ser muito esperto, enganando o professor. O professor que não cria ou transmite conhecimentos e finge dar aulas, pode ser muito esperto ao enganar os alunos, abusando da sua autoridade. A inexistência de um ambiente acadêmico e científico, com o aluno fingindo que aprende e o professor fingindo que ensina é uma esperteza chamada de “Pacto da mediocridade”, ou seja, um acordo tácito entre as partes para fugir das exigências intrínsecas do processo educativo. Ao fim e ao cabo todos perdem: alunos, professores e a população do país que não vê retorno dos investimentos em educação e em ciência e teconologia.

São espertos: o reitor que faz política na reitoria ao invés de fazer política educacional de excelência; os ministros (ou secretários) do trabalho, da saúde, etc, que fazem política clientelista em seus ministérios (ou secretarias) ao invés de criar melhores condições de emprego e saúde; os sindicalistas (ou diretores de associações) que ao invés de defender o interesse geral, fazem política partidária e aparelham suas diretorias.

Os espertos vivem do “circulo vicioso” da auto-comiseração e da auto-piedade. Geralmente colocam toda a culpa dos seus próprios fracassos no “sistema” e em determinações externas, se desculpando pela falta de empenho individual. Do campo oposto, os expertos fortalecem o “círculo virtuoso” e trabalham em sinergia para o bem geral da coletividade. O expertos, em geral, não utilizam desculpas globais para encobrir suas dificuldades individuais.

Uma troca do s do Esperto pelo x do Experto pode dar um outro rumo ao país, deixando de lado o ardil e a astúcia dos aventureiros para dar valor à competência do especialista, que é o indivíduo que constrói o saber, através do estudo e do trabalho. Os expertos investem em habilidades ou conhecimentos especiais ou excepcionais em determinada prática, atividade, ramo do saber, ocupação ou profissão. Criar um ambiente institucional que favoreça os expertos em detrimento dos espertos não é nada fácil, mas, como sempre, é premente.

Uma troca de letra, com seu respectivo conteúdo, pode representar um grande salto para uma necessária revolução cultural. Como dizia o escritor Lima Barreto, ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil. O s da saúva é o mesmo s do esperto. Para que o pais supere o atraso e a ignorância é preciso trocar o s do esperto e da esperteza pelo x do experto e da expertise. 

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José Eustáquio Diniz Alves