Taliban de meia-tijela na Uniban


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Na última semana de outubro, a aluna Geyse Arruda, de 20 anos, foi para a universidade Uniban, em São Bernardo do Campo (SP), onde está matriculada no curso de turismo, como um vestido rosa curto, no estilo minissaia.

Segundo relatos, quando subia uma rampa do prédio, alguns alunos começaram a assobiar e cantá-la. Diversos rapazes filmaram com o celular e houve tentativa de se expor as partes mais intimas da jovem. Porém, aos poucos, os gracejos deram lugar a ofensas, insultos, palavrões e até ameaças de estupro. Vídeos disponibilizados no YouTube mostram o tumulto e a chegada da Polícia Militar, que abriu caminho entre a “turba” escoltando a moça.

Por que tudo isto aconteceu em pleno século XXI quando existe um processo mundial de empoderamento das mulheres?

Será que os alunos (e funcionários) da Uniban estão querendo plagiar o regime Taliban e impor regras rígidas sobre o comportamento e a educação feminina? Será que o novo uniforme da Uniban será a burca? Para quem não sabe, a burca é uma versão radical do xador, sendo uma vestimenta exclusiva das mulheres que cobre todo o corpo, incluindo o rosto e os olhos. Será que a burca resolveria o problema da “inadequação da roupa da colega”?

Infelizmente não, pois o “buraco é mais em baixo”. O tulmuto da Uniban reflete uma cultura mais ampla de desvalorização do desejo da mulher, como mostrou o psicanalista Contardo Calligaris, em artigo da Folha (5/11/2009): “A turba da Uniban”.

Para Calligaris xingar uma mulher de puta não é simplismente desvalorizar as profissionais do sexo. Trata-se do “ódio do feminino – não das mulheres como gênero, mas do feminino, ou seja, da ideia de que as mulheres tenham ou possam ter um desejo próprio. O estupro é, para essas turbas, o grande remédio: punitivo e corretivo. Como assim? Simples: uma mulher se aventura a desejar? Ela tem a impudência de querer? Pois vamos lhe lembrar que sexo, para ela, deve permanecer um sofrimento imposto, uma violência sofrida -nunca uma iniciativa ou um prazer. A violência e o desprezo aplicados coletivamente pelo grupo só servem para esconder a insuficiência de cada um, se ele tivesse que responder ao desejo e às expectativas de uma parceira, em vez de lhe impor uma transa forçada”.

A direção da Uniban necessita dar uma resposta adequada ao lamentável fato ocorrido e evitar a repetição de acontecimentos semelhantes. Que os erros deste tumulto sejam uma lição e que o respeito ao ser humano, à dignidade e à liberdade façam parte do ensino diário da universidade, mostrando que a sexualidade deve ser conjugada com o verbo prazer e não o verbo punir.

De qualquer forma – a despeito das atitudes obscurantistas e dos danos morais infringidos – a repercussão do caso mostrou que a aluna Geyse Arruda saiu do episódio de cabeça erguida e houve uma condenação geral aos aprendizes de Taliban de meia-tijela.

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José Eustáquio Diniz Alves