A descoberta da América, parte 2: São Paulo-Washington-Dallas


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Antes da Califórnia, uma visita aos amigos do no Texas. No caminho, os indesejados empecilhos de um vôo muito atrasado e de vários furacões e tempestades tropicais que assolam o Caribe e a costa leste dos Estados Unidos.

Antes da ida para a Califórnia, aproveitaríamos para passar pelo Texas e rever amigos. Com a milhagem da Tam, emitimos as passagens pela associada United. A vantagem da companhia americana sobre a brasileira são as conexões incluídas no bilhete. Assim, enquanto a Tam se limita a alcançar somente Miami e Nova York, a United oferece a opção de vários outros destinos.

Em uma noite de sexta-feira, voaríamos para Washington, de onde faríamos uma conexão para Dallas. Como um único senão, teríamos nove horas de intervalos entre os dois vôos. O jeito era fazer do limão uma limonada: ainda que existisse dúvida sobre a possibilidade de sair do aeroporto no intervalo entre vôos, reservei um carro e programei para o sábado um passeio pela capital norte-americana. Como a reserva de carro para locação é gratuita e não gera ônus em caso de desistência, não custava tentar.

A não ser nesse primeiro trecho, eu já havia marcado bons lugares em todos os vôos, inclusive para a ida e volta à Califórnia, com o auxílio do Seat Guru. Trata-se de um site que traz plantas detalhadas de aviões de várias companhias aéreas, indicando os lugares bons, os ruins, e o porquê da classificação. Nossa partida estava marcada para as dez da noite. Queria a todo custo evitar as poltronas ruins do avião – as que não reclinam, ou ainda aquelas onde todos esbarram por estarem próximas de gargalos do corredor. Por isso, em uma tentativa de antecipar o check-in, preferimos evitar o rush do início da noite de sexta e saímos de casa às cinco.

Chegamos em Cumbica às seis. O balcão da United já estava muito lotado. Fomos para a fila e ficamos ali parados. O atendimento era dos mais demorados. O tempo foi passando, as pessoas começaram a sentar sobre as malas ou mesmo sobre o chão. Após muita espera, ficamos sabendo pelo luminoso do aeroporto que nosso vôo tinha a previsão de sair com duas horas e meia de atraso – ou seja, meia noite e meia.

Às dez, após quatro horas de fila, conseguimos efetuar o check-in. Aparentemente, o sistema de computador da United estava em pane. O atendimento oferecido foi bastante cortês; o sujeito do balcão estava em seu primeiro dia de trabalho e já precisou lidar com vários passageiros enfurecidos. Eu e minha mulher mantivemos a esportiva; ficamos sabendo que o avião que faz essa rota havia tido problemas técnicos durante a semana, e que apenas em alguns dias, aos poucos, o atraso acumulado poderia ser recuperado. Sendo assim, enorme a falha da United, que bem poderia ter avisado o atraso aos passageiros com antecedência, por telefone.

A outra surpresa foi a respeito dos assentos. Eu já tinha em mãos o mapa do Boeing 777 fornecido pelo Seat Guru quando soube que nossos lugares não poderiam ser marcados no check-in, mas sim apenas durante o embarque, a não ser que eu pagasse por um upgrade. A tal da “Economy Plus” é a mesma econômica, em um lugarzinho melhor do avião e com cinco polegadas a mais de espaço para as pernas. Custava R$180 a mais por cabeça. Ante o receio de um eventual overbooking, paguei a diferença e ainda consegui excelentes poltronas junto à janela.

Tickets na mão, houve o tempo para uma janta no Pizza Hut ainda em terra firme. O embarque foi rápido; muito me impressionou o tamanho do jato por dentro, com fileiras para nove pessoas e dois corredores, e não as de seis pessoas separadas por um único corredor dos meus vôos domésticos. Segundo o Seat Guru, a econômica do 777 da United é das mais espaçosas mesmo nas poltronas sem as providenciais cinco polegadas a mais, contando ainda com monitores de TV individuais no encosto das poltronas. Por ser um Boeing dos mais modernos, o nível de umidade da cabine do 777 é bem maior que o observado em outros aviões como o 767. Detalhes pequenos, mas que podem fazer muita diferença em uma viagem longa.

Como previsto, decolamos no novo horário da meia noite e meia. Logo atrasei o relógio em uma hora para já me adequar ao fuso do destino. O serviço de bordo pareceu dos mais antipáticos que já vi. Todos os comissários falavam inglês, exceto um que falava português enroladíssimo com sotaque luso. Ainda que apenas para escolher cardápio e bebidas, hora de começar a usar o inglês.

O vôo transcorreu sem maiores problemas. Logo descobri que não consigo dormir em avião, mesmo em um longo vôo noturno. De olhos fechados, consegui ficar semi-desperto por quase uma hora, um pouco antes do café da manhã. Lá fora, o sol permitia que eu visse a paisagem do interior da Geórgia: tudo muito espalhado, inúmeras e largas as estradas, os bairros muito afastados uns dos outros. Mais um pouco e o avião fez um pouso suave em Atlanta.

Atlanta? Sim. Nosso vôo foi desviado para Atlanta por conta da tempestade tropical Hanna. O avião seria reabastecido e seguiria depois para Washington em uma rota diferente da original, passando ao largo do tempestuoso Atlântico. Não deixava de ser desanimador estar a apenas uma hora e meia de Dallas e precisar seguir para o sentido contrário para só depois chegar a meu destino.

Durante a mais de uma hora em que o jato ficou no chão, notei o sumiço dos comissários; só voltaria a vê-los ao descer do avião… Em contraste com o sol de Atlanta, chegamos a Washington, sob chuva intensa. Estávamos muito atrasados em relação ao plano original e por certo não haveria razão em sair do aeroporto. Por outro lado, ao contrário de quase todos os outros passageiros, não perdemos nossa conexão.

Como não tínhamos pressa alguma – apesar do atraso ainda estávamos bastante adiantados – fomos os últimos na fila da imigração. Tratamento algo ríspido pela sisudez; querem saber o que você vem fazer no país e onde vai ficar. “We´ll visit friends in Dallas. Old friends.” Passaporte carimbado, malas despachadas (sim, curiosamente foi necessário pegar as malas na esteira para despachá-las novamente) e enfim estávamos livres para conhecer o aeroporto.

Nos corredores, lojas de lembranças, de revistas, restaurantes. Acabamos almoçando no Wendy´s, uma das inúmeras redes de fast food que existem no país. Notei que toda a equipe da lanchonete tinha feições latiníssimas e forte sotaque espanhol.

Em uma loja de souvenirs, metade do espaço dedicada a Obama, a outra metade a McCain. Uma funcionária da loja logo nos reconheceu como brasileiros. Simpática, contou que estava há 17 anos nos Estados Unidos e ainda exibia inconfundível sotaque carioca.

O aeroporto internacional da capital norte-americana dá a impressão de um quê de improvisação. Parece ter sido ampliado algumas vezes, com partes que não formam um todo homogêneo. Descobrimos que existia um outro terminal em lado oposto; para chegar lá, passamos por uma porta que parecia a entrada de um elevador. Dentro, um salão de vidro enorme dá visão a aeronaves estacionadas. Quando a porta se fecha, a sala começa a andar, pilotada por um operador; logo cruzamos outro desses caixotes, vindo do sentido oposto e apoiado sobre enormes rodas de trator, a uns cinco metros do solo. Em um estilo próximo ao de um gigantesco Hummer, aquele era o maior utilitário esportivo que eu veria nos próximos dias.

Do outro lado, uma galeria bem maior de lojas, com maiores qualidade e diversidade. Entre enormes bandeiras penduradas no alto da estrutura, reconheci a do Brasil. Não deixou de me chamar a atenção, pois não havia mais que trinta bandeiras ali.

Fomos para o portão designado para nosso vôo. De repente, do portão seguinte, uma mulher enorme começou a berrar a plenos pulmões o número do nosso vôo e o destino. Nada de avisos em displays; tudo toscamente improvisado, como por vezes pensamos que acontece apenas no Brasil…

Embarcamos no avião, um Embraer. Curiosamente, eu que adoro aviões nunca tinha voado em um avião brasileiro – “the Brazilian built Embraer”, como lembrou o comissário durante as instruções de segurança. O EMB175 é algo apertado, com quatro assentos por fileira, mas sobre rápido e com decisão. Com o relógio avançado em mais uma hora, partimos para um vôo muito calmo, com destaque para a cortesia e bom humor dos comissários da pequena Shuttle America: que contraste ante seus colegas carrancudos da United!

Malas recuperadas, terra firme, abraços. Trinta despertas horas depois que tomei um táxi rumo a Cumbica, são nove horas da noite de sábado. O negócio é ir logo para a casa de meus amigos, tomar banho, dormir e estar descansado e disposto. Afinal, nos próximos dias, a América me espera!

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Ricardo Montero