A descoberta da América, parte 4: de carro em Los Angeles


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Quando nosso avião decolou, mal passava das seis da manhã no Texas. Em nossa viagem para a Califórnia, a aeronave acompanhou, grosso modo, a borda da fronteira com o México. A rota desse vôo é particularmente bonita: enormes extensões de deserto e um ou outro sinal da presença do homem aqui e acolá. Entre as raras cidades, poucas estradas, algumas montanhas e o sol inclemente. Lindo de se ver, mesmo a dez mil metros de altitude.

Após três horas de vôo, chegamos à Califórnia pouco depois das sete. As duas horas a menos do fuso horário californiano nos ajudariam a aproveitar melhor nosso primeiro dia na costa do Pacífico. Como nem tudo é perfeito, a névoa encobria a grande Los Angeles e não pudemos ver a cidade ou mesmo o Pacífico; quando saímos das nuvens, já estávamos quase em terra.

Causa algum espanto no Aeroporto Internacional de Los Angeles a esteira de bagagem, a poucos passos da saída do aeroporto e sem qualquer controle de acesso ou saída. Muito fácil para um gatuno roubar uma bagagem – o que, pelo visto, não é muito comum ali.

Já havia feito a reserva do carro no Brasil. Do lado de fora do terminal, ônibus de diferentes locadoras levam os clientes para os respectivos pátios, enormes e localizados em bairro contíguo ao aeroporto. Na recepção da locadora, serviço rápido e eficiente: em cinco minutos eu já havia sido encaminhado para “escolher meu carro” no estacionamento.

“Escolher o carro?” Melhor explicando, funciona assim: existem diferentes categorias de veículos, designadas por letras ou números. Resolvida a pouca burocracia, bastava ir ao pátio e escolher um veículo que estivesse em uma das vagas da categoria escolhida. No nosso caso, era um carro “tipo 6” – ou seja, um sedan grande, em termos de automóvel um expoente do antigo american way of life. Antigo? Sim, pois hoje as preferências nacionais são os trucks (pickups grandes, quase caminhõezinhos) e SUVs (sport utility vehicles, utilitários esportivos montados sobre o chassi desses “trucks”).

Convém comentar sobre a escolha do veículo. Podemos agrupar os carros disponíveis em quatro grandes categorias: automóveis de passeio, minivans, utilitários esportivos e veículos exóticos. Salvo raras exceções, todos esses carros possuem câmbio automático, direção hidráulica e ar condicionado. Os exóticos – normalmente carros importados, de luxo ou esportivos – tem diária caríssima e costumam ter quilometragem diária limitada. Entre os utilitários esportivos, opções de vários tamanhos, algumas delas com opção de tração integral. Minivans costumam ser um pouco mais caras que carros de passeio, sendo indicadas para famílias numerosas. Entre os carros de passeio, muitas as opções: desde pequenos hatches de quatro cilindros até enormes sedans de luxo, passando ainda por alguns cupês e conversíveis de preço acessível.

Um conversível na ensolarada Califórnia é sempre a primeira idéia que vem à mente. Opção logo descartada, por uma série de fatores: falta de espaço interno, porta-malas exíguo, segurança passiva pior que a de um carro fechado. A questão do espaço interno e do porta-malas fez com que o atraente Ford Mustang fosse descartado. Definitivamente, odiaria andar de minivan; e um SUV, ao menos para mim, não faz o menor sentido em estradas asfaltadas como as que iríamos enfrentar. Até mesmo por eliminação, sobravam os sedans.

Idealmente, queria um sedan grande – full size, como dizem lá – com motor de ao menos seis cilindros e tração traseira. De preferência um dos modelos grandes da Chrysler-Dodge (muito conceituados, montados sobre plataforma Mercedes-Benz), ou o Pontiac G8 (carro similar ao novo Chevrolet Omega vendido no Brasil), ou ainda o recente Chevrolet Malibu, todos com excelentes referências da imprensa especializada. Por incrível que pareça, a diferença de preço entre um sedan grande e um hatch pequeno é irrisória; um motivo a mais para achar que um carro grande é o melhor negócio.

Pois bem. Difícil explicar minha decepção ao reservar um Dodge Charger e achar no pátio, sob o código “tipo 6”, apenas um Jeep Liberty (um SUV) e um Mercury Grand Marquis (um sedan feio de doer, estilo carro de polícia de série de TV). Verdade que no fundo do terreno, em uma área separada, havia um Charger vermelhíssimo esperando para ser lavado. Achei conveniente esperar: iria ficar com algum daqueles carros pelos próximos onze dias!

A decepção durou uns poucos minutos. Logo estacionaram uma recém-lavada Dodge Magnum branca, que é uma imensa perua – station wagon – montada sobre a mesma plataforma do Dodge Charger que eu tanto desejava. Praticamente pulei para dentro do carro assim que o vi e logo o batizei de “grande baleia branca” – singela homenagem ao homônimo Cadillac branco utilizado por Hunter S. Thompson em seu hilário relato “Medo e Delírio em Las Vegas”.

Por sorte, nossa Dodge Magnum era de uma versão intermediária e contava com alguns equipamentos extras: motor V6 de 3,5 litros e 250 cavalos (e não 2,7 litros de 190 cavalos do modelo básico), comando elétrico para o banco do motorista, mais um excelente rádio por satélite Syrius. Tudo isso por meros U$250, ou seja: menos de U$23 por dia. Dá até raiva em lembrar do Celta absolutamente espartano que aluguei em Salvador, com o único extra do ar condicionado, por uma diária de quase R$100!

Um dos motivos do valor baixíssimo da locação foi a opção de não comprarmos quaisquer dos seguros oferecidos pela locadora. O motivo: nas locações por períodos de até trinta dias pagas com cartão de crédito Gold ou Platinum, o próprio cartão de crédito oferece um seguro de graça. Para quem for seguir esta dica, convém contatar a administradora do cartão ainda no Brasil para verificar as exatas condições do seguro.

Outro extra que poderia encarecer o seguro: locação de GPS, acessório indispensável – tanto mais em Los Angeles. A locação do GPS custa em média U$10 por dia. Melhor comprar um GPS e depois trazê-lo para o Brasil (um GPS automotivo, como o Garmin que comprei, custa na faixa de U$160).

Tanque cheio, ganhamos as ruas de Los Angeles, ainda que por pouco tempo: LA fica para o final da aventura, pois o primeiro destino da “baleia branca” é Las Vegas. Assim como Thompson, eu cruzaria o deserto “acompanhado de meu advogado” ( no caso dele, “Dr. Gonzo”, e no meu caso, meu sogro). Porém, eu cruzaria o Mojave acompanhado da preciosa companhia da minha esposa, e sem qualquer resquício de drogas no carro. Dentro de minhas possibilidades, era o mais próximo que eu poderia chegar em relação à original viagem do genial porralouca que foi Hunter S. Thompson.

A saga continua… No próximo capítulo!

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Ricardo Montero