História do Jornalismo By Suzana Tavares / Share 0 Tweet Warning: array_rand(): Array is empty in /home/opensador/public_html/wp-content/themes/performag/inc/helpers/views.php on line 280 Notice: Undefined index: in /home/opensador/public_html/wp-content/themes/performag/inc/helpers/views.php on line 281 O surgimento da imprensa negra se deu em São Paulo. Devido a uma relevante manifestação de identidade étnica, o povo negro começa a pleteiar sua integração na sociedade brasileira. Estas manifestações foram cruciais na luta ideológica anti-racista. Conheceremos os nomes dos principais periódicos que marcaram a trajetória do negro brasileiro na luta pela cidadania: referimo-nos à chamada imprensa negra paulista, cujo primeiro jornal intitula-se O Menelick e começa a circular em 1915. Fenômeno dos mais significativos para se analisar o comportamento e a ideologia desse segmento negro urbano, os jornais editados por negros paulistas sucedem-se até 1963, quando é fechado o Correio d’Ébano. Os negros paulistas, sentindo a necessidade de um movimento de identidade étnica, e enfrentando as barreiras de uma imprensa branca (Grande Imprensa) impermeável aos anseios e reivindicações da comunidade, recorreram à solução mais viável, que era fundar uma imprensa alternativa, na qual os seus desejos, as denúncias contra o racismo, bem como a sua vida associativa, cultural e social ganhassem visibilidade O Menelick conseguiu grande prestígio na comunidade negra, difundindo aquilo que os seus redatores achavam mais interessantes para a vida social e cultural dos negros. Após o primeiro, outros se sucederam na seguinte ordem: A Rua e O Xauter, 1916; O Alfinete, 1918; O Bandeirante, 1919; A Liberdade, 1919; A Sentinela, 1920; O Kosmos, 1922; O Getulino, 1923; O Clarim da Alvorada e Elite, 1924; Auriverde, O Patrocínio e O Progresso, 1928; Chibata, 1932; A Evolução e A Voz da Raça, 1933; O Clarim, O Estímulo, A Raça e Tribuna Negra, 1935; A Alvorada, 1936; Senzala, 1946; Mundo Novo, 1950; O Novo Horizonte, 1954; Notícias de Ébano, 1957; O Mutirão, 1958; Hífen e Niger, 1960; Nosso Jornal, 1961; e Correio d’Ébano, 1963. A obstinação desses grupos negros em manterem um espaço ideológico e informativo independente, bem como a sua consciência étnica, determinou a sua continuidade, embora intermitente. Por outro lado, esses jornais também serviram de veículo organizacional dos negros. As discussões que se tratavam nas suas páginas, a colocação permanente dos problemas específicos da comunidade, as denúncias contra o racismo e a violência através de fatos concretos. Essa movimentação resultou fundassem o maior movimento político negro no Brasil: a Frente Negra Brasileira, criada pelo movimento negro de São Paulo. Os dois jornais mais importantes foram O Clarim da Alvorada e A Voz da Raça, que segundo Clóvis Moura (1992), tiveram papel saliente e significativo no despertar da consciência étnica do negro paulista. "Os periódicos municiaram a comunidade de dados e informações preciosos para que o negro se auto-identificasse na sua negritude. O segundo acontecimento importante nesta afirmação racial foi a criação do órgão da Frente Negra Brasileira, movimento que marcou profundamente a consciência do negro, e elevou o nível de tomada de sua identidade étnica", (Moura, 1992). De acordo com o historiador José Antônio dos Santos (2005) em seu artigo "Imprensa negra: a voz e a vez da raça na história dos trabalhadores brasileiros", muitos daqueles que haviam criado a Frente Negra Brasileira em 16 de setembro de 1931, contrariados com a feição carola e fascista que ela assumia, romperam e fundaram a sociedade político-social denominada Frente Negra Brasileira Socialista. Ao contrário da Frente original, de caráter católico e assistencialista, a nova Frente, adjetivada de socialista, tinha como objetivo assumir um papel político mais propositivo e de enfrentamento na solução dos conflitos do mundo do trabalho bandeirante. Santos explica que "naquela sociedade, os europeus haviam sistematicamente substituído os trabalhadores descendentes da senzala, o que levava o Povo Negro a firmar posições e criar mecanismos institucionais para defender os seus interesses", (Santos 2005, p.9) A mobilização política e o reforço da identidade negra, principalmente, a partir da década de1920, se deram por dentro dos pressupostos da nacionalidade, harmonia e igualdade racial, ou seja, a ideologia dominante serviu também como elemento ou suporte estratégico para a defesa dos direitos civis e afirmação étnica. Não foi à toa que a Frente Negra Brasileira teve mais de vinte núcleos locais e filiais espalhadas por todo o país, enquanto a Frente Socialista deixou pouco registro.