O bem-vindo apoio ao Som&Luz


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Quem vem lá? Quem vem lá profanar minha ondulante pradaria? Estrela, gritos de dor cristalizados pelo infinito vazio desta celeste cobertura. Testemunhas dos dolorosos massacres daqueles dias em que a insegurança e o ódio arrancaram-me do dorso a melhor comunidade que em mim germinou.

Assim começa o belíssimo espetáculo Som&Luz nas ruínas da Catedral de São Miguel, região missioneira do Rio Grande Sul. Quem é de lá conhece a sensação de assistir o som&luz, principalmente se viu o espetáculo quando criança. O roteiro é sempre o mesmo: Chegar à tardinha no parque, de preferência com toda a família, matar o tempo passeando pelas ruínas esperando anoitecer, ouvir histórias sobre “a cobra grande de São Miguel”, que nos longínquos tempos dos jesuítas tocava o sino com o rabo e devorava as criancinhas (história que invariavelmente os adultos sempre lembram de contar para as criancinhas) e, quando já está tudo escuro e o silêncio é supulcral, ouvir aquele estrondo no céu, perguntando ameaçadoramente quem vem lá, quem são aqueles estranhos (nós!) que vêm ali, debaixo de estrelas, profanar aquelas terras como há muitos anos fizeram espanhóis e portugueses, por força de seus acordos vis.
 
É uma sensação única assistir a este lindo espetáculo que tem como personagens a terra, a catedral – interpretada na voz de Fernanda Montenegro – e os espíritos dos heróis e vilões que ali viveram e lutaram, mataram e dominaram. É parada obrigatória. Quem ouvir Sepé Tiarajú, líder dos Guaranis dizendo uma vez “Esta terra já tem dono. Deus e São Miguel a entregaram aos animais que a tem povoado. Portanto, general assalariado, ajoelha de dor e beija os cascos do meu cavalo…” não esquece nunca mais.
 
Mas porque estou falando sobre o Som&Luz? Explico: hoje pela manhã li na Zero Hora que o espetáculo que há mais de trinta anos atrai e encanta os turistas da região missioneira do estado (minha terrinha…) receberá uma injeção de verbas do BNDES, tendo em vistas o aumento de circulação de pessoas previsto pela Copa. De tanto problema que já causa essa Copa, despejos e remoções, alguma coisa boa havia de trazer. É mais que bem vindo o apoio à cultura do estado e da região, que não é por falta de coisa bonita que não atrai mais gente.
 
Deixo para vocês abaixo, a continuidade dos versos que abrem o Som&Luz, um pedacinho da história do nosso povo.

TERRA: Quem vem lá? Quem vem lá profanar minha ondulante pradaria? Estrela, gritos de dor cristalizados pelo infinito vazio desta celeste cobertura. Testemunhas dos dolorosos massacres daquelas dias em que a insegurança e o ódio arrancaram-me do dorso a melhor comunidade que em mim germinou. Ah estrelas, vento irmão, afastai o novo intruso.

RUÍNAS: Um momento vos pedimos, calmo leito sôbre o qual repousamos há tanto tempo, fecunda terra que manteve e tornou fortes nossos bravos construtores.
 
Amiga terra, berço e sepultura, nós ruínas desgastadas, estaremos dentro em breve confundidas com o lodo em vosso ventre. Antes, porém, atendei!
 
Permite que estes estranhos que voltam a passear aqui, sem a mesma graça, é claro, dos antigos guaranis, saibam o que foi feito àquele povo tão belo.
 
Que os estranhos aqui presentes, pelos motivos mais diversos do mais leviano ao mais penetrante, dividam conosco a mágoa universal de ter assistido a um massacre no qual o inimigo colonialista, por cobiça, raiva e inveja moralista, matou com tiro de lança o legítimo habitante destes campos, os braços construtores desta igreja.
 
Libertai, serena terra, o espírito de um povo cuja história épica encerra verdades que servem de novo.
 
Os estranhos ora atentos com seus olhos assustados, podem ser talvez isentos da culpa dos crimes aqui consumados. Mas já que vieram aqui, devem ouvir nos ventos a verdade que encerrais: como foram arrasados vossos filhos, nossos pais, os tranquilos Guaranis….
 
(trecho do contexto do Espetáculo Som e Luz – IPHAN)
 
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Diângeli Soares