Da pedra à nuvem

Akhenaten e Nefertiti

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O que sabemos da arte rupestre, da arte do paleolítico? Quase nada.

Podemos, e tentamos, inferir alguma coisa cruzando arqueologia, antropologia, paleontologia, psicologia, sociologia, teoria da arte, história, intuição, e o que mais dispusermos, e, no entanto, jamais sairemos do campo das especulações. Temos os desenhos nas paredes, as estatuetas, os artefatos e silêncio. Não o suportamos e tratamos de preenchê-lo. E jamais saberemos se estamos certos ou errados.

Podemos contrastar essa escassez de informações com a arte egípcia, caso o leitor não se incomode demasiado com o enorme salto no tempo e no espaço. Mas a comparação servirá ao propósito deste texto.

Ainda que bastante recuada no tempo, a civilização egípcia nos legou uma extraordinária quantidade de informações, em texto e imagem (ambos imbricados). Uns 3500 anos de história. Sabemos a razão de sua arte, o modo como faziam e quem fazia. Claro, há lacunas, mas tratamos de uma arte cujos artefatos mais antigos datam de 3200 a.C.

Sabemos muito da arte e da civilização egípcia porque seus monumentos e documentos estão gravados na pedra. Há o fator climático que é muito importante e jamais desprezível, mas as imagens e os textos estão gravados na pedra, e isso faz a diferença.

Podemos definir a nossa História como uma progressiva fragilização do suporte da informação. Da matéria ao imaterial. Da pedra à nuvem. Entre uma e outra, passamos pelo barro, pela madeira, pelo tecido, pelo papel. Passamos do analógico ao digital, e os textos e imagens transmutam-se em bits, em zeros e uns, e passam a ser armazenados em fitas magnéticas, em discos de plásticos, até se desmaterializarem completamente na nuvem digital (cloud computing). As informações tornam-se imateriais, porém acessíveis de maneira quase absoluta. Esse é o ganho que obtemos.

Entretanto, avancemos no tempo. Uns 5000 anos, talvez. O que saberão de nós no ano 7018?

Teremos feito o transporte das nossas informações, de suporte em suporte, de servidor para servidor, de HD para HD, durante todo esse período? Imaginemos que um dia, por mais que isso nos pareça impossível (especialmente para os seus fanáticos, que são muitos), que a Apple não exista mais, que tenha falido. Os servidores que armazenavam os dados do iCloud terão se tornado espólio, e serão vendidos sabe-se lá para quem. Estarão espalhados, sucateados. Como, então, recuperar os dados que ali estavam armazenados? Há que se ser muito otimista para imaginar que num período de tempo muito longo seremos capazes de manter intactas as informações que hoje nos parecem tão importantes. Nossos suportes para a informação são fantásticos: extremamente acessíveis e com capacidade gigantesca de armazenamento. São muito frágeis, no entanto.

E essa fragilidade me faz supor que, no ano de 7018, nossa arte e nossa cultura serão tão incompreensíveis quanto a arte da caverna de Chauvet. Cruzarão arqueologia, história, psicologia, e o que mais tiverem ao seu dispor para inferir algo da civilização dos anos 2000s. Nossa cacofonia tão característica terá se tornado silêncio.

Continuarão conhecendo Ramsés, Nefertiti e Akhenaten, mas nunca saberão de Trump, Lula ou Temer.

About the author

Marcos Schmidt

Marcos Schmidt é designer gráfico e ilustrador. Vive e trabalha na irremediável cidade de São Paulo.