Pai, não os perdoem, porque eles sabem o que fazem


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Quando o diabo vai morar na casa de Deus e faz cair em tentação padres educadores…

O longo silêncio está sendo quebrado. Casos e mais casos de abuso e violência sexual, praticados em internatos e escolas na Alemanha, têm abalado as bases da Igreja Católica e são notícia de destaque, quase toda semana na imprensa. Até agora são mais de 100 casos de abuso sexual e maus tratos registrados nas escolas da Ordem dos Jesuítas, desde 1950. Talvez, estes registros sejam apenas a ponta do iceberg.

 

 

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Foto: Solange Ayres

 

A maioria dos abusos, denunciados pela imprensa, foram cometidos nas escolas e internatos sob a responsabilidade da Igreja Católica. Padres que, aproveitando da confiança que os pais depositaram neles e da autoridade que têm, abusaram sexualmente de jovens e crianças, além de terem impingido castigos físicos e humilhações, obrigando jovens a realizarem trabalhos forçados.

No passado…

Dos 3.000 mil “internatos”, existentes na Alemanha, nos anos 50 havia lugar para mais 200.000 crianças, 80% delas estavam sob a coordenação/direção da Igreja Católica e se dedicavam à “educação” de crianças e jovens. A metade destas crianças permanecia lá de 2 a 4 anos. Muitas passavam toda a sua infância fechados e somente aos 21 anos podiam sair, ou melhor, se libertarem dos suplícios lá vividos. Hoje se sabe que quase meio milhão de adultos alemães, entre 45 e 70 anos viveu parte de sua infância sob a perversa ordem renascentista transportada para o século XX e exercitada nas instituições católicas de ensino : “rezar e trabalhar”. Assim o trabalho como castigo era unido à pedagogia educacional, legitimada pela filosofia da Igreja de ”purgação dos pecados” através do sofrimento físico. Hoje a Igreja daqui se distancia desta filosofia, mas ela foi praticada por décadas.

Purgando os pecados

E se não bastasse os casos de abusos sexuais, a Igreja também é acusada de explorar economicamente os seus pupilos. Em muitos internatos os jovens tinham que trabalhar de manhã à noite, de domingo a domingo. Como mão-de-obra barata labutavam, senão gratuita, nas cozinhas, nas oficinas, nas lavanderias do internato, nas serrarias, nas fábricas, serviço de jardinagem; em hotéis de propriedade da Igreja ou de amigos dela. As meninas em especial como empregadas nas casas de médicos e juristas.

Quem sabe que penas sofreram estas crianças e jovens nas instituições religiosas? Por décadas e décadas os agressores permaneceram protegidos pelos muros da moral católica, enclausurados entres as paredes dos conventos, internatos. Uma grande parte das vítimas eram crianças que já teriam sofrido violência de algum nível no seio de suas famílias. E justamente essas crianças, que buscavam apoio, proteção nos abrigos católicos, tornavam-se as vítimas mais fáceis para os seus opressores. Muitos dos abusos foram cometidos ha mais de 25, 30 anos.

Assim nos anos 1960 e 1970 o castigo físico era prática comum, no contexto sociedade autoritária alemã. Não foi diferente na Antigüidade, Idade Média e em grande parte do século XX a punição física era um dos componentes do ato de educar. A filosofia da obediência frente às autoridades foi extremamente reforçada, transportada para o cotidiano dos tempos do Nacional Socialismo. Assim a prática da aplicação de penas físicas era tolerada sem ser questionada. Além de bater com a régua na palma da mão, ou bater com vara de bambu no traseiro, ou bater na cabeça, ou retirada de cabelo do nariz, curtos chutes no pé dos alunos desobedientes a desmoralização e intimidação completavam os componentes da “educacao”.

Do outro lado do muro…

Porém o mais interessante é que justamente os moradores do outro lado do muro, os comunistas foram os primeiros a tomarem iniciativa em relação a por fim à violência física contra crianças. Na extinta Alemanha Oriental, em 1949, se proibiu aplicar castigos físicos nas escolas e, somente em 1973 esta proibição chegou ás escolas da então Alemanha Ocidental. No ano 2000, em toda a Alemanha, foi promulgada lei que proíbe a aplicação de castigos físicos pelos pais, em seus filhos como forma de educar,

E no ventilador da imprensa…

Poderíamos dizer que as crianças e jovens que estudavam nos conventos, internatos e escolas viveram o inferno aqui mesmo na terra. Em janeiro deste ano, os pecados dos padres caíram na imprensa e passaram a ser denunciados sistematicamente. Até agora dos 27 bispados da Alemanha, 18 estão sendo denunciados.

Em 29 de janeiro, em uma entrevista coletiva, no caso do Canisius Kollegs de Berlin 7 casos de maus tratos em alunos foram citados. Foram dados nomes aos bois: dois padres que estavam envolvidos nos casos de abuso contra alunos. A polícia tomou a frente do caso e já está investigando. Já no ano de 1981 foram levantadas suspeitas de maus tratos contra alunos, no mesmo colégio, mas na época, como em todas as outros, nenhuma providência foi tomada. Somente no ano de 1991 é que a ordem dos Jesuitas, acusada dos maus tratos praticados dez anos antes foi oficialmente informada. E pasmem somente em 29 de janeiro de 2009 que o bispado de Berlin deu a entender que houve mesmo maus tratos contra alunos em instituições educacionais ligadas à Igreja Católica.

Um após outro os escândalos se alastram até o bispado de Hildesheim: dois ex-membros da Congregação dos Jesuítas, que ocupavam postos de padres, entre 1982 e 2003, são acusados de abusos sexuais. No entanto, o bispo Josef Homeyer confessou que não ter levado a sério as denúncias.

Em 7 de fevereiro, próximo passado, a própria Ordem dos Jesuítas abriu inquérito interno para apurar cerca de 30 casos de maus tratos e molestamento sexual contra antigos alunos, registrados na escola Canisius-kollegs em Berlin, Acrescenta-se a estes, mais dois casos da Escola Jesuíta Hamburg e St. Blasien da cidade de Bonn. Quando o escândalo estava na imprensa o cardeal de Berlin Georg Sterzinsky advertiu que as acusações poderiam colocar todos os padres que trabalham na educação sob suspeita e ao mesmo tempo concordava que há um déficit no esclarecimento dos casos.

No coral dos “Domspatzen”, da cidade Regensburg, na Bavária, também houve casos de abusos contra jovens. Nos anos 1960 os casos foram conhecidos e os dois diretores do coro, que faleceram em 1984, foram na época, considerados culpados pela justiça. Os abusos se estenderam até os anos de 1990. O irmão do Papa, o reverendo Georg Ratzinger foi diretor do coral de 1964 a 1994. Dele, até agora, nenhuma palavra.

E diante das cameras confessou o padre Johannes Baues, o administrador do Convento de Ettal, admitindo que em 1980 “espancou” alunos. Ele bateu com a mão e com vara. Depois da declaração pediu que o perdoassem. Ele permanece com suas atividades normais no convento.

A revista Spigel noticiou em fevereiro, deste ano, casos de abusos sexuais em dois Orfanatos da Escola Salesiana Dom Bosco em Augsbug, em Berlim, em Hessen, Baden Wüttenberg e na Bavária. Há casos datados dos anos de 1940 e somente agora vêm à tona. O grande problema disto tudo é que os culpados já faleceram.

 

E até hoje o movimento “Wir sind Kirche”ou “Nos Somos Igreja” espera uma resposta do Papa Bento, que nos anos entre 1977 até 1982, era então bispo de Munique. Ele na época concordou com a aprovação do Grêmio de bispos, que autorizou a transferência de um padre da cidade de Essen para a cidade de Munique, que tinha cometido abuso sexual em criança. Mais tarde o mesmo padre caiu em tentação, e reincidente, abusou de outra criança.

Aqueles que tiveram coragem, desfiaram os seus suplícios para imprensa em entrevistas. Um deles contou que foi obrigado a masturbar o padre por anos.

Ah! As freiras também!

E quem pensa que somente padres eram os autores de crimes contra as crianças se enganam. Freiras também cometeram abusos sexuais. Nos depoimentos, uma das vítimas conta o sofrimento vivido no programa “Monalisa”. Ela foi abusada por uma freira de 60 anos na época. A então aluna do internato teve seus órgãos genitais, “tocados” inúmeras vezes, pela referida freira, o que acontecia, particularmente na hora do banho, mas ela fazia também “investidas noturnas”. E se não bastasse o abuso sexual, sem nenhuma explicação aquela criança era espancada, pela mesma freira que a “visitava” durante a noite. Segundo palavras da própria vítima, os espancamentos eram uma forma utilizada para intimidar e impedir futuras denúncias.

 

Sodoma e Gomorra* em tempos de internet

E no Convento Beneditino de Ettal alunos foram brutalmente espancados, molestados sexualmente. Dez padres estão sendo acusados por ex-alunos de prática de abuso sexual, tortura física e psicológica. Muitos pais, somente agora, souberam dos casos de violência na instituição pela imprensa. E pasmem… Havia padres que baixavam… filmes pornôs da internet e ainda, publicavam fotos de seus alunos seminus em site de homosexual na internet. Depois que a imprensa divulgou o fato, o convento e seus responsáveis estão sendo investigados pela polícia e os padres afastados de suas atividades.

Mea culpa

Temas, até agora tabus para a Igreja como pedofilia, homossexualismo, celibato, são hoje, discutidos diariamente na imprensa alemã. No início da divulgação dos casos, a Igreja age na defensiva, tentando minimizar as denúncias, até que quando a pressão da sociedade obriga o Bispado vir a público e se explicar. No debate a conclusão é que até agora a Igreja agiu conivente, com os casos, simplesmente fechou os olhos para os fatos. Os padres eram somente suspensos de suas atividades ou transferidos para outras unidades da Igreja.

Ao final da Conferência dos Bispos da Alemanha em Freiburg, sul da Alemanha, em fevereiro de 2010, parece que a Igreja reconheceu a gravidade da situação e finalmente pretende agir concretamente nos casos de abusos. Será? Ao final foi organizado um “hotline”, um atendimento anonimo, por telefone em toda a República, com pessoal qualificado nas dioceses, que trabalharão conjuntamente com a justiça nos casos de denúncia de abusos nas Instituições de Ensino da Igreja.

É bom lembrar que somente através das denúncias corajosas das vítimas e o apoio do “Wir sind Kirche”, “Nós somos Igreja”, um movimento das bases da igreja, é que os podres vieram à tona e o Alto Clero resolveu tomar, agora, as devidas providências e apurar casos.

“Pai, afasta de mim este cálice de vinho…”

E se e ao furar o sinal,

o velho sinal vermelho habitual

e surpreender uma… Bispa alcoolizada no volante

pense na Igreja,

reze pela Igreja *

Se a Igreja já estava em baixa, com esses casos e fatos acima a situação tende a piorar, pois os problemas não atingem somente os católicos. Para azar dos pecados, ou seria da pecadora? A respeitadíssima Bispa Margot Käßmann, 51, teóloga e pastora, eleita para o mais alto cargo da Igreja Evangélica Luterana de Hannover, depois de ultrapassar o sinal vermelho foi parada pelos policiais. O exame feito indicou que ela tinha… 1,54 de álcool no sangue. Ela bebeu mais que um cálice de vinho na hora da celebração, ela virou a garrafa inteira. Após o incidente ela renunciou ao cargo, terá a carteira de motorista retida por 10 meses e pagará uma multa referente a um salário (dela). Nem preciso tecer mais sobre as desastrosas consequências dos acontecimentos acima. O índice de aprovação da Igreja está em queda livre.

Rezem e rezem

E as declarações do Papa sobre os últimas denúncias de pedofilia nos Eua: “É preciso rezar mais”.

Ja, ja…

Leiam mais sobre o tema… A metamorfose da Igreja

 

* “Calice” Letra da música de Chico Buarque de Holanda

* Sodoma e Gomorra: Cidades bíblicas citadas do Antigo Testamento, símbolos de todos os excessos e pecados carnais.

* Paródia da música de Caetano, “Haiti”

Arquivos consultados:

Praktische Pädagogik in den Sechziger Jahren/ Práticas pedagógicas nos anos sessenta

KirchenVolksbrief zum Besuch von Papst Benedikt XVI in Bayern/ Carta aberta ao Papa Bento XVI em visita a Bavária.

Heimerziehung in der Nachkrieszeit – ein schwieriges Kapitel kirchlicher Zeitgeschichte/ Kerstin Gäfgen/ Educacao no pós guerra, um capítulo difícil na história da Igreja.

Wir sind Kirche

 

Foto: Solange Ayres

Cristo na cruz, fotografado na cidade de Rüdesheim, às margens do Rio Reno, Alemanha.

 

 

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Solange Ayres