Toponímia: o estudo dos nomes de lugar


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Você já parou para pensar que os nomes de lugares se repetem em todo o mundo? Tipo "Long Beach" e "Praia Grande"? Já teve a curiosidade de saber por que a sua rua tem o nome que ela tem? Sabia que tem até uma ciência que estuda isso?

Bom dia! Você que está matabichando aí provavelmente está me lendo em algum lugar desse imenso Brasil, e provavelmente já se perguntou por que nosso país se chama assim. Seria por causa do pau-brasil? Você também já deve ter imaginado por que a sua cidade tem esse nome (não talvez se você mora em São Paulo ou Salvador, mas talvez sim, se você mora em Badibassiti – SP). Ou então o nome do seu bairro. Ou a rua da sua casa. Estamos sempre rodeados de nomes de lugares muito intrigantes. E o mais interessante é que eles provavelmente têm um motivo para estarem aí. Qual seria?
Pois é, saibam vocês que existe até uma ciência que estuda isso: chama-se Toponímia, o estudo dos nomes próprios de lugares. E ela é parte da Onomástica, o estudo dos nomes próprios em geral, mas isso fica para outro matabicho. Por enquanto, vamos observar algumas coisas interessantes a respeito dos nomes de lugar.

Primeiramente, vocês já notaram como os nomes de lugar se repetem pelo mundo? Por exemplo, acidentes geográficos com nomes de cor são muitíssimo comuns. Basta lembrar do Rio Amarelo, na China, do Mar Vermelho (aquele do filme com o Charlton Heston), do Mar Negro, do Rio Negro (deve ter pelo menos uns três desses pelo Brasil), do Rio Preto (outros quatro…), do Rio Pardo, da Lagoa Azul (aquela do filme…); saindo da água e indo para a pedra, tem o Monte Branco (já ouvi falar de pelo menos dois aí pelo mundo), a Montanha Azul (na Pennsylvania), a Montanha Vermelha (no Alabama) etc.
Outro grupo de nomes comum tem relação com as dimensões. É só lembrar da Praia Grande e da Long Beach, da Ilha Comprida e da Long Island, do Rio Grande (aquele em Minas, já viu?), do Rio Grande (aquele que você tem que atravessar nadando pra entrar nos EUA), das Terras Altas da Escócia (de onde vêm os imortais) etc.
Daria para falar de outros casos ainda, mas já deu para vocês perceberem: em muitos casos, a motivação para nomear os lugares é a mesma no mundo inteiro. Isso revela certos padrões comuns a todas as culturas, que têm implicações psicológicas, antropológicas, sociológicas e outras lógicas…

Em segundo lugar, e isso é uma das coisas que torna a Toponímia tão fascinante, é que o nome de lugar tem a incrível propriedade de resistir ao tempo. Ou seja, muitas vezes nós empregamos nomes que se referem a estágios de língua arcaicos ou pelo menos muito antigos. Quer ver um exemplo não tão antigo, mas bem ilustrativo? Há um importante rio que banha a cidade de São Paulo chamado Rio Pinheiros. Muitos de vocês (se é que meus leitores são muitos…) já passaram por ele ou já o viram em fotos. Mas duvido que alguém tenha visto pinheiros por ali… Está vendo? O nome ficou mesmo depois que a motivação para ele desapareceu. (Claro, havia pinheiros às margens daquele rio. Só não sei em que século…)
No caso do Brasil, a proliferação de nomes de origem indígena revela muito bem isso: não sabemos mais quem deu esses nomes, não sabemos o motivo, não falamos mais as línguas indígenas, mas Itapecerica, Tietê, Pernambuco, Paraíba, Paraná, Cuiabá, Roraima e Peruíbe continuam por aí. Em outras partes do mundo também se observa o mesmo: na América do Norte, vários nomes de lugares têm origem nas línguas indígenas de lá (Mississípi, Missouri, Kansas, Quebec e por aí vai). Na Europa, muitos nomes de lugares são nomes dados por povos que lá viviam antes mesmo da conquista dos romanos: o rio Dordonha, na França, e o rio Douro, na Península Ibérica, apresentam uma raiz *dur, que é pré-céltica, apenas para citar uns exemplos.

Para terminar o matabicho, algumas curiosidades em relação a alguns nomes:

Pernambuco: no idioma tupi, significa "recife", evidentemente por causa dos muitos recifes que tem ali naquele litoral. A motivação é a mesma do nome da capital Recife.

América: homenagem ao navegante Américo Vespúcio, o primeiro europeu que se tocou que as Américas eram outros continentes, e não ilhas ou parte da Índia.

África: os romanos deram o nome de África à região que hoje é a Tunísia, provavelmente porque ali vivia um povo chamado "Afri".

Portugal: essa história é interessante. Essa raiz "gal-" tem a ver com o povo celta, um povo que conquistou boa parte da Europa antes dos romanos. Eles devem ter vindo do Leste e foram parar bem longe, até a Grã-Bretanha e a região oeste da Península Ibérica. Para vocês terem uma idéia, a raiz "gal-" está em: "Gália", nome que os antigos romanos davam a uma região que atualmente engloba a França, Bélgica, partes da Suíça, Holanda etc.; "Galiza", região do noroeste da Espanha (quem nasce ali é "galego"); "gálatas", aquele povo cristão pra quem Paulo escreveu uma epístola, e que viviam no Oriente Médio; "Gales", aquele país no oeste da Grã-Bretanha; etc. Essa raiz celta chegou até uma região na foz do Rio Douro, que hoje se chama "Vila Nova de Gaia", mas que naquela época se chamava "Cale" (tá aí a raiz celta). De um lado da foz do rio, fica Cale; do outro, fica a cidade do Porto. Porto de um lado, Cale do outro = Portucale = Portugal.

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Bruno Maroneze