Democracia à espanhola


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Para um brasileiro que chega à Espanha pela primeira vez, são muitas as coisas novas e diferentes que encontrará. Algumas podem confundir a nossa cabeça provocando um pequeno choque cultural. Entre muitas outras relacionadas com o comportamento, eu destacaria uma que considero importantíssima e que poderia servir de exemplo para nós.

Para um brasileiro que chega à Espanha pela primeira vez, são muitas as coisas novas e diferentes que encontrará. Algumas podem confundir a nossa cabeça provocando um pequeno choque cultural. Entre muitas outras relacionadas com o comportamento, eu destacaria uma que considero importantíssima e que poderia servir de exemplo para o nós.

A primeira vez que vi um debate no Parlamento espanhol, fiquei boquiaberto com a forma em que se desenvolvem. O Presidente, então Felipe González, era fuzilado com ataques da oposição que não media as palavras, usando uma entonação agressiva e direta. Algo que eu nunca tinha visto no Brasil, acostumado a ver como no nosso país a autoridade máxima era quase intocável e os debates no Congresso, soporíferos e com pouca intenção. Claro, o nosso regime político concede toda a autoridade ao presidente, deixando o parlamento em segundo plano. É normal num sistema presidencialista. A Espanha é uma Monarquia Parlamentaria onde o Rei tem um papel nulo na política e o Parlamento, ou seja, os representantes do povo, têm o poder. O Presidente tem que dar explicações aos deputados como se fosse um estudante de 10 anos justificando-se ante seus pais. No começo do debate eu pensava: "- … esse deputado vai ser preso! Como é que o cara diz todas estas coisas (sem ofensas pessoais) ao presidente e não acontece nada? … daqui a pouco vão cortar a transmissão, porque parece que o presidente está perdendo,,," e coisas assim passavam pela minha cabeça.

Enfim, a conclusão que eu tirei disso é que na Espanha o povo realmente é quem governa. Aqui a democracia é uma realidade. O voto não é obrigatório, mesmo assim, todo mundo vota. O voto é um direito e um dever moral para quem tem conhecimento da sua utilidade, nunca uma obrigação. Famílias inteiras saem de casa para votar, perfeitamente conscientes da transcendência da sua escolha.

Na Espanha não existem decretos, só o Rei pode decretar, mas está impedido pela constituição de interferir na política. O Rei é somente o chefe do Estado, o presidente é somente o chefe do governo e o parlamento é a instituição que decide o destino do país.

É claro que como em todos os países, também tem mentirosos, corruptos e ladrões. Inclusive costumam dizer que "quando alguém não sabe fazer nada, entra na política". Mas a sensação que a gente tem, e que se corresponde com a realidade, é que a voz do povo tem eco e reverbera no Congresso. Mas tudo isso, na verdade tem uma explicação: o povo tem consciência política e responsabilidade para decidir o seu destino. Também é verdade que essa consciência se deve a uma evolução cultural que caminha junto à evolução social, à melhora do ensino, da saúde e da qualidade de vida. Eu acho normal que uma pessoa que não tem o que comer, não sabe ler e escrever e não tem acesso à informação, não se preocupe pelo que ocorre no Congresso. E mais quando a experiência já demonstrou a inutilidade dos seus representantes e a volatilidade das suas promessas. É fácil para um lobo da política, aproveitar-se desta situação e conseguir algumas centenas de votos honestamente comprados com um pouco de leite ou um filé.

Esta é umas das coisas mais interessantes que eu aprendi na Espanha: que os políticos estão à serviço da nação e dos seus cidadãos, e não o contrario. E isto me faz chegar à conclusão de que se algo temos que aprender é que o Brasil, para chegar a esse ponto, primeiro tem que dar educação e saúde para o povo, ou melhor, às crianças, para que desta forma dentro de trinta anos todos os cidadãos brasileiros tenham critério e consciência para poder exercer os seus direitos de forma responsável. Enquanto isso não acontecer, estaremos à mercê dos predadores políticos que seguirão à caça e captura do voto dos ignorantes, os quais em sua inocência seguirão sem perceber o perigo.

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Carlos Venturelli