Papo sério: adolescentes e a dança

Cinemas, shoppings e boates são, incontestavelmente, os locais mais frequentados por adolescentes nos últimos tempos. Há uma verdadeira lacuna na formação cultural do brasileiro. Quando criança ele pode até ir ao teatro, mas logo se desvincula deste para ingressar no perfil dos adolescentes em geral, e só retorna aos espetáculos na vida adulta – e olhe lá.

Desde que começei essa coluna, venho batendo incessantemente numa mesma tecla: a da necessidade de disseminação da dança. Apresentei em artigos anteriores algumas das formas que nós – bailarinos e coreógrafos – utilizamos para tornar mais real essa aproximação público/dança. Mas neste eu gostaria de falar um pouco sobre o público que encontramos, ou deveríamos encontrar, nos teatros.

Pois bem, estava eu lendo – folheando, na verdade – um livro (Dançando na Escola) e uma frase muito me chamou a atenção: "Ao contrário da grande maioria dos adultos de hoje que aprenderam a se comunicar com o mundo por meio da cultura do livro, ou seja, pelo processo do pensamento lógico e racional sobre o mundo, as gerações jovens experimentam e compreendem-no primordialmente por meio das sensações[…]".

Partindo do pressuposto que eu concordo com a citação acima, uma questão me veio à cabeça imediatamente: se os jovens compreendem o mundo por meio das sensações, por que cargas d’água essa distância com a dança e seus espetáculos?

Fazendo uma média, percebi que a faixa etária do público que tem o costume de assistir a espetáculos varia dos 20 aos 50 anos. Daí você me diz: "mas o que há de errado nisso?". Digo a você, caro leitor, a partir do dado acima percebo uma ausência de crianças, adolescentes e pessoas idosas, você não?

A dança contemporânea é a que mais privilegia o uso das sensações por parte do público e de quem a pratica. Sendo assim os teatros e apresentações deveriam estar lotados de adolescentes, não acham? A falta desse tipo de espectador muito me surpreende justamente pelo fato de este ser um público em potencial.

Adolescentes e jovens sempre buscam imagem e movimento em suas atividades de lazer, e a dança contemporânea tem tudo isso e um pouco mais para oferecer. Ela tem uma interação diferenciada com o espectador, visto que ela busca atingi-lo dispertando suas sensações mais fortes. E, além disso, ela busca utilizar novas tecnologias e linguagens para atingir os adolescentes.

O grande problema é justamente concorrer com boates e afins. A cultura de ir ao teatro se perdeu há muito tempo. A gente até encontra muita gente que faz aula de dança, porém – voltando a um dos artigos anteriores -, essas aulas, e escolas, não promovem uma real conexão entre dança e realidade. O desenvolvimento de um senso crítico artístico fica altamente lesado, ao passo que isso prejudica ainda mais essa cultura de ir ao teatro.

Parece um ciclo impossível de se escapar, não é? Bom, nem tanto, eu diria. Existem alguns projetos sociais e iniciativas privadas que pretendem estimular a apreciação estética e a análise crítica, além das aulas práticas de dança. São poucos, mas existem. E é de mais projetos como esse que o Brasil precisa para atrair um público maior e mais crítico.

Au revoir.

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Sara Gobbi