Flores vivas para Harold & Maude


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“Harold and Maude” (em português “Ensina-me a viver”) é um clássico dos anos 70, obviamente de sucesso perpetuado até nossos dias. Todo cinéfilo que se preze já assistiu, o cinéfilo “wannabe” tem de ver. E os que nem são tão fanáticos por cinema também podem se aventurar, pois é garantido uma mensagem de vida, ou no mínimo um suspiro e um riso.

O diretor Hal Ashby, um dos meus favoritos (fez um dos filmes que estão na minha lista dos “melhores de todos os tempos” – Muito além do jardim), praticamente inventou a categoria “comédia romântica” com este filme. Seu humor ácido está presente, mas a doçura aliada à intensidade dos intérpretes nos emociona e não de um jeito piegas. É tocante, mas não te sufoca. Te faz pensar, mas não te dá um sermão. Te conquista, mas te liberta.

Harold é um jovem rico, bem criado por uma mãe bem intencionada, mas que não consegue passar a alegria de vida que ela sente para o filho. Harold parece sofrer de uma suposta falta de atenção da mãe. E desenvolveu um gosto mórbido em presenciar funerais e destruições, além de fingir suicídios para tentar impressionar a mãe.

Maude é uma mulher de quase 80 anos que aprendeu a tirar as melhores coisas da vida, se entregando totalmente e se desapegando do que não interessa. Encontra Harold nos funerais e começam uma amizade que vira amor verdadeiro. Se casam, mas Harold não sabe a cartada final de Maude, sempre cheia de surpresas…

Na primeira vez que Maude puxa papo com Harold em um funeral ela diz: “flores negras, são flores mortas. Quem manda flores mortas a um funeral?” Seu ponto de vista sempre colorido e alegre das coisas vai contaminando Harold, que sempre se veste formalmente e de cores escuras. Cada frase de Maude é um ensinamento para ele – assim como para o espectador – e poderia fazer parte de um (bom) livro de meditações diárias.

Enquanto a relação de Harold com a mãe vai se deteriorando, com Maude ele vai se despindo de seu soturnismo e encontra uma outra perspectiva das coisas. Maude na sua sábia adquirida inocência vai questionando suavemente as crenças negativas de Harold, sem ofendê-lo e assim fazendo-o ver o quanto ele está sendo infantil e esquecendo de realmente viver.

Mas sabe? É tudo muito sutil, você conclui essas coisas, o filme na verdade não fala isso claramente. É um recurso que cada dia que passa o cinema popular vai perdendo. Muitos filmes hoje em dia tem a “boa intenção” de passar uma mensagem bonita e reflexiva, mas acaba por mastigar demais isso nos diálogos. E não são somente nos filmes americanos mais pop que isso acontece, viu? É uma tendência mundial. Por isso “Harold and Maude” é também especial, já que é acessível, numa linguagem popular, cômica, mas não nivela-se por baixo.

Os diálogos entre Harold and Maude são dignos de uma inversão de Krishna e Parvati! A cada observação de Harold um comentário louco, porém cheio de intrincadas significações sai da boca de Maude, como as flores que ela adora. Nada é pessoal, nada é técnico, é só a maneira como ela vê o mundo. Por exemplo, há um momento em que podemos ver a rigidez de Harold no apego das coisas e o contrário em Maude, quando ela comenta: “Tente algo novo todos os dias, pois vivemos para descobrir que nada é definitivo”. E ele responde: “Você parece fazer parecer como se fosse (definitivo)”.

Maude pergunta a Harold como ele gosta de se divertir além de ir a funerais. E ele a leva num desmanche de casas e carros. Ela não o critica, vai com ele e faz um piquenique com ele ali mesmo. E depois ela o leva pra ver o que ela gosta de fazer: ver plantas desabrocharem! As flores, as árvores, os brotos, a transformação da vida a fascina! Enquanto que a morte atrai a Harold.

Harold casa-se com a morte, já que Maude está no limite para encontrar o ceifeiro. Mas é no momento em que ele vê a morte de verdade – e não as que ele inventava para mãe e via nos funerais – é que ele realmente se liberta para a vida que o espera, não mais que um segundo para atrasos!

Tudo é muito bonito neste filme: a suavidade e a ironia esperta com que o tema é tratado. O charme de um filme retrô, com um figurino lindíssimo que acompanha o tema e a personalidade dos personagens. As cores em Maude e na sua casa; e a figura longuilínea de Harold, vestido de preto contrastando com paredes brancas são deveras imagens muito marcantes. E um detalhe muito bonito é que Harold, enquanto muda atittude diante da vida, vai clareando as cores de sua roupa. E o clima em volta dele também. De chuva a sol.

E para não aprontar mais spoilers do que já fiz aqui (mesmo assim vale a pena ver este filme indispensável) termino esta breve resenha com um diálogo dos amantes, a quem ofereço flores de apreciação:

Harold: Maude, você reza?

Maude: Não. Me comunico.

Harold: Com Deus?

Maude: Não. Com a vida…

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Ana Al Izdihar