Sherlock Holmes de Guy Ritchie


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Meu adorado século 19 e seus montes de roupa… As ruas fedorentas e lamacentas da capital do mundo, dentro do reino onde o sol nunca se punha. Aquelas mentes ainda ferventes de pensamento iluminista, mas já conduzindo corpos exaustos e viciados, e almas paranóicas e depressivas. A minha adorada Londres em seu apogeu fétido e maquinário, xenofóbica e violenta aparece ali diante dos meus olhos pasmos sob as unhas de Guy Ritchie, muito bem modernamente pensada.

Nesse cenário impecável, um dos personagens mais queridos e conhecidos do mundo, Sherlock Holmes, encarnado por aquele homem já tão íntimo das sombras: Robert Downey Jr. Seu amigo-irmão Watson vem moldado por um quase irreconhecível Jude Law! Uma boa dupla, uma excelente química!

Não entro em discussões sobre fidelidade quando o assunto é filme adaptado da literatura. Mas sei que a referência é inevitável, portanto só direi que, a meu ver, Sherlock Holmes não deixa de ser o detetive racional e esperto das estórias de Conan Doyle nessa versão de Ritchie. De maneira alguma! Downey Jr convence no sotaque RP, no olhar inteligente, na eloqüência e na arrogância. Contudo, imprime um ar vagabundo diferente de outras interpretações e bastante charmoso.

Parece ser marca já de Ritchie que seus protagonistas sejam assim maltrapilhos e atraentes, bagaceiros mesmo, assim como a grande escola escocesa da kinetic câmera. Por falar nisso, os efeitos especiais são fascinantes e imagino que as estórias de aventura das literaturas de todo mundo, assim como as dos deuses e heróis do Olimpo e da Bíblia estavam somente esperando a tecnologia cinematográfica chegar a esse ponto para serem contadas com tanta precisão!

A narrativa escolhida por Ritchie e os roteiristas dá uma outra nuance a Holmes. Não posso afirmar que mais condizente com a “realidade” das estórias de Doyle, mas pelo menos mais inteligível pra nós, deste século. Mostrar Holmes como um ser londrino altamente refinado e que nunca aparece desalinhado mesmo com a afirmação de ser viciado em cocaína injetável e ópio, talvez parecesse no mínimo entediante para as cabecinhas já doutrinadas de espectadores de cinema. A podridão do Sherlock de Downey Jr nos fala mais de perto de uma maneira quase “sindical” (barbudinho rebelde e genial em tempos ditatoriais) e esse contraste com o Watson de Law, que é conscientemente cúmplice e crítico de Holmes, nos faz pensar que se eles fossem de verdade… Poderiam ser assim mesmo!

 

O humor inglês, rápido e irônico, e as interjeições onomatopéicas como “humpf” “hu” do sotaque londrino estão bem marcadas, assim como a típica misoginia deste povo. A espiã (?) Adler, uma namoradinha de Holmes, tem papel importante no filme, mas foi aqui que Ritchie talvez tenha “falhado”… Adler aparece somente em uma das estórias de Conan Doyle e de relance. A tentativa de Ritchie em ser politicamente correto com relação aos gêneros me pareceu forçada e não consigo decidir se por causa do mal acabamento da personagem ou pela falta de talento (não de beleza) da atriz, ou quem sabe as duas coisas… Ou seja, uma peça totalmente descartável, bem diferente da noiva de Watson.

A trilha sonora mais perto de algo que soe como “tribal” me remete mais rapidamente a minha Londres de ideal Romântico, mas de dogmas Vitorianos. As saídas escondidas dos prédios, a fog (ah, minha fiel companheira, a fog londrina!) e as sociedades secretas e as teorias conspiratórias estão todas lá compondo o mosaico daquilo que seria um pouco o futuro de todos nós, aqui no Ocidente. E nas mãos do mesmo Guy Ritchie de sempre. Aliás, que bom que ele “voltou”!

 

 

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Ana Al Izdihar