Ver para ver (e/ ou ? e/ ou hein_sim)


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O ponto de interrogação é um de exclamação torto. A pergunta o é porque busca uma resposta. É impossível dizer como as coisas realmente são porque elas são como realmente são.

"[…] temos a cada momento a mesma prova que teríamos da existência de um Deus se O tivéssemos visto criando o mundo em seu início" [Perry Miller citando Jonathan Edwards]

 

 

“As roupas no chão./ O cobertor retirado./ A nudez está coberta pelo desejo./ No coito, coberta ainda, de prazer./ Somente depois a nudez fica despida.” [Nudez Aparecida, joao~grando]

 

 

"Chegou-se a discutir qual a metade mais bela./ Nenhuma das duas era totalmente bela./ E carecia optar. Cada um optou conforme/ seu capricho, sua ilusão, sua miopia." [Verdade, Carlos Drummond de Andrade]

 

 

“Nada é impressionante posto que exista." [joao~grando]

 

“Tudo é impressionante posto que exista.” [joao~grando]

 


A moda está sempre a descobrir (verbo próximo ao verbo inventar, como já havia apontado Borges, antes de eu ter percebido tal relação e depois de a palavra ter-se desmembrado do radical primitivo comum) uma nova maneira de deixar as mulheres bonitas. Os homens também, mas falemos das mulheres, pois a palavra bonita é mais bonita que a palavra bonito.

 

 

 

Tal qual a arte sempre se reinventa e reinventa uma maneira de aplicar suas criatividades (ao ritmo da seta de Zenão). Sempre lirismo, sempre criatividade, porque não talento atrás de cada manifestação artística verdadeira, seja a época, escola, mídia etc.: nunca falta filosofia, sempre sobra volúpia. De volta ao assunto (voltando ao assunto): elas, as que impuseram suas belezas e também as que deixaram à disposição da moda a mesma, estiveram sempre bonitas: com os cabelos curtos e calças centro-pê dos 80’, os vestidões nos 50’, os pêlos não tratados da idade da pedra lascada, os redtags com meias de futebol na pré-adolescência burguesa dos anos 90.

 

 

 

Em arte a história da evolução é uma história de mudança e não de melhora (o que torna a palavra evolução relativa, ou tão somente uma designação para continuidade, ou menos que isso relação ou simplesmente história). E isso é um conceito até meio datado, pois hoje é obsoleta a questão de ruptura por si só [formalismo moderno] já que não é mais a arte por si só (não será o foco aqui, então sem maiores aprofundamentos). As roupas de hoje não são melhores tampouco mais bonitas que as de tempos atrás. São mais propícias para este tempo, refletem-no melhor.

 

 

Se imaginarmos aleatoriamente um século, saberemos que nele as vestes cumpriam muito bem sua função intrínseca no nome de vestir e tornar atraente uma mulher (pensemos em como as moças de hoje podem ficar irresistíveis num vestido à século XIV num baile à fantasia), além, claro, de ser um índice de tal tempo e colaborar com as características de tal tempo: as roupas da idade média colaboravam para reprimir a promiscuidade com a religião, e passar a força desta àquela, potencializando a surpresa que toda a nudez tem, como se a empurrasse com uma mola que no fim cede e intensifica a força para a direção contrária; assim como as de hoje são ferramentas para fomentar uma personalidade: naquele tempo eram uma espécie de moralismo para vestir (e despir), hoje são como orkuts para vestir.

 

 

No centro disso (ou abaixo, por dentro, intrínseco…) sempre esteve a nudez, como a menor boneca de uma boneca russa, que aos poucos se aproxima da superfície, ora por motivos atmosféricos (como uma moça que num dia frio a guarda sobre camadas de diferentes modelitos que se vão revelando conforme a temperatura sobe), ora por intimidade (roupa inteira> somente calça jeans> camisola> underwear> nada> paredes internas – e um prato cheio para os espertões usarem “temperatura” num outro sentido que não atmosférico).

 

 

Uma vez a então ex do Guga (Gustavo kuerten) posou para a Playboy e ele, num tom de desprezo meio simulado, disse que já não precisaria ver a revista pois já havia visto tudo aquilo ali (a mulher e seu corpo, no caso).

 

 

No, no, no: a nudez tem sempre seu mistério. A lembrança, imaginação ou o que quer que seja de responsabilidade exclusiva da cabeça é insuficiente, incompetente ou falsificador. Do contrário poderíamos imaginar um cheiro e um gosto sem precisar senti-los, ou dispensar os iPods e ouvir música com o pensamento. A visão não é diferente. Precisamos ver para ver, imaginar ou lembrar não basta.

 

Nem mesmo a nossa própria nudez é inteiramente sabida (porque há tantas fotos tiradas no espelho do próprio corpo do fotógrafo?). Ainda que nos esteja sempre disponível, até mesmo a nossa exige certas consultas eventuais para nos tirar dúvidas. Porque em certa medida o corpo humano levanta uma bandeira da subjetividade visual, que se difere de qualquer outro objeto, mesmo dos que reclamem quase as mesmas formas de serem vistos, como as esculturas realistas, ou mesmo os que se enquadram mais facilmente numa representação matemática, como uma casa de Tadao Ando (porque o corpo se recobre de uma rede complexa de conceitos – mesmo a nudez poucas vezes é realmente nua).

 

(Isso tudo com uma nova nota de não aprofundamento, já que a questão é também a poluição que uma imagem tem no pensamento, devido à convergência que ele é: a imagem é misturada a sons, idéias abstratas, cores aleatórias entre tantas outras coisas; e ao fazer parte da convergência se converge, e vira então também som, também abstrata, assim como qualquer coisa que passe pelo cérebro tem sua versão visual guardada em nossas cabeças.)

 

 

A Marisa Orth versão cala_a_boca_Magda decepcionou um pouco na Playboy porque não contava mais com a saia. A solução do mistério provocado por ela de saia não era ela sem saia – a solução anula o mistério. O mistério não estava nela sem saia, o mistério é o caminho entre ela com e sem saia. É a própria tensão, a própria incerteza desta encruzilhada. Do que o cérebro presencia através da visão e do que complementa com a imaginação (e os neurônios estimulando e estimulados pelos hormônios – enfim, a rede complexa de conceitos).

 

 

Relativamente à arte e sua crítica, Thierry de Duve disse “A verdadeira problemática a propósito da traduzibilidade acaba por ser a intraduzibilidade. A boa crítica de arte de tendência teórica deve alcançar duas metas contraditórias ao mesmo tempo: buscar a elucidação teórica e respeitar o enigma da obra, a sua resistência à linguagem da teoria, sua alteridade. […] minha meta não é violar o segredo da obra, e sim circunscrevê-la em uma firme rede de tangentes que a façam surgir bem lá no meio, como se numa clareira, e, mesmo assim, escura como nunca.”

 

 

heinO ponto de interrogação é um de exclamação torto. Depois de um pouco de fisioterapia ele se conserta e torna-se uma exclamação – uma resposta certa. A pergunta o é porque busca uma resposta. É impossível dizer como as coisas realmente são porque elas são como realmente são (um ponto final, uno, simples, imparcial, o que é).

Os ateus em geral (ou alguns) dizem ser impossível acreditar em Deus devido aos avanços científicos. Às vezes me parece que os avanços científicos é que justamente provam Deus (se nos livrarmos dos conceitos de deus e de suas simbologias – ou seja, deixarmos de vermos metáforas como realidade), aliás, eu já discuti isso até uma saudável exaustão através dos comentários neste texto.

 

 

Os físicos vêm desde Einstein, ou antes, tentando elaborar uma teoria que explique tudo. Mas me parece que a dúvida permanece. Nesta busca, os físicos falam em descobrir a verdade, ou a Verdade, que seja. E muitas vezes a turma parece haver chegado mui perto, quase podendo dizer: “descobrimos a verdade, publiquem!”: primeiro foi a teoria das cordas, a questão das 10 ou 11 dimensões e agora (ou talvez não mais tão agora) a teoria M. – e os cientistas continuam levando um laço, levando uma tunda do Big Bang, do início de tudo, do nada, pois há quase um consenso em notar que a coisa não poderia ter acontecido logicamente, pois a situação imediatamente anterior ao Big Bang devia ser diferentíssima do que se tornou: tem-se a constatação de que foi um sopro até agora inexplicável. Por mais que avancemos, as perguntas básicas permanecem as mesmas. Quando uma verdade parece estar finalmente se firmando, suas paredes não fazem mais sentido e é preciso reconstruí-las.

 

 

A Verdade parece não querer se revelar por completo. E, além disso, parece cobrar um preço alto de quem a procura, exigindo um óculo grosso em cada olho aflito, uma ansiedade ubíqua, anotações urgentes, a elucidação da pequenez diante de tudo sem o desprendimento equivalente. E os deslumbramentos sentidos são nada mais que cócegas sentidas, do que pequenas brincadeiras que ela, a Verdade, parecem fazer: são apenas breves instantes de iluminação (alcançados sei lá por raciocínio, por meditação, por emoção, por prazer, pelo absurdo). (o orgasmo é uma desistência e não uma resposta, é um brinde pela luta, uma amostra de um estado inalcançável.)

 

 

Ela (e talvez ela seja Ele) tem sempre seu mistério.

 

 

Mas como fica a questão prática para além de haver um deus conhecido ou um deus desconhecido ou uma volúpia da qual não se possa escapar com um gozo?

Então não valeria a pena buscar a resposta, se ela efetivamente não existe?

 

O atleta torna-se “perfeito” buscando a perfeição, afastando-se o máximo que pode de sua imperfeição e pelo lógico caminho aproximando-se do que lhe é impossível, pois ele jamais será perfeito (s/ aspas): a perfeição é um conceito específico.

 

 

Os meios justificam-se.

 

 

Quem venceria uma luta, Tyson ou Ali? Tyson ou Fedor Emilianenko? Um tigre ou um leão? Hulk ou Superman? Como seriam os Simpsons na vida real? A resposta não existe (por isso existe a pergunta): o que vale é o exercício causado por indagar. Lutar é preciso. Dos rebentos da luta pelo avanço científico, mesmo que ainda não tenhamos (e nem nunca consigamos) descobrir a Verdade, surgiram coisas como os fogões e os notebooks, a bomba atômica e, se estendermos a todas as atividades que parecem buscar alguma coisa, podemos dizer que surgiram também a música Claire de Lune, os gols de Pelé, o lápis etc.

 

 

Lutar é um ato de coragem, uma relação íntima com o desconhecido, com a descoberta.

 

 

Descobrir(-se) é preciso. Fazendo minhas (e adaptando) as palavras do de Duve, o conhecimento traça caminhos, mas não dá respostas. As dicas de como conquistar uma mulher (ou um homem, se você for mulher ou um homem que gosta de homens, para evitar que termos de semântica usualmente sobrecomuns tornem a coisa aqui patriarcal), para além de serem divertidas, não são úteis, não são mais úteis que o jeito de cada um ser – ser o que se é. Os conselhos para como se sair bem em uma entrevista idem. As listas de 100 melhores filmes (bato sempre nesta tecla) idem. As coisas que eu digo que são bonitas idem. Este texto idem (enfim, já deu para pegar o espírito…). O conhecimento pode nos guiar, mas há um espaço da inocência, da ingenuidade, do instinto: da descoberta.

 

 

Precisamos ver para ver.

 

 

 

p.s. e/ou *: encerraria este texto com uma pequena reflexão a respeito do par ideal, da mulher nota 1.000 ou príncipe encantado das pessoas por aí afora (que é mais um exemplo da turma do idem do parágrafo acima do acima). Mas lhes ofereço o vídeo em que já falei disso: não existe perfeição a priori – eis o link (se aprender como inserir vídeo – talvez seja um simples embeb no código-fonte, mas falarei com o chefe antes).

filmizinho_tapado_style, porque era TÃO SOMENTE UM TESTE ou um TEXTO – e sem maiores justificativas.


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João Grando