Que sujeito é esse que procura o fisioterapeuta?


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HeráclitoNos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos, [pois] tudo flui e nada permanece igual [e é] ao mudar que as coisas encontram repouso1 (Heráclito, o Obscuro, 500 a.C.)
Transcender a dualidade mente e corpo na fisioterapia é possível? 

Heráclito talvez tenha sido um dos primeiros fenomenólogos da filosofia a propor que as aparências não escondem o existente, apenas confirmam-no, para os despertos um mundo único e comum é uma verdade.

Na história da filosofia como um todo e posteriormente na história da psicologia vem-se delineando uma história das práticas e das representações do corpo. Um corpo cada vez mais fluídico, mutável, não divisível, temporal, psicossomático, sujeito. Transcendendo a contraposição da dualidade “mente e corpo” ou “corpo e alma”, parafraseando Heráclito, respondemos pelo olhar existencial: É o rio, margens ou águas? É isso e nada disso. É a mesma resposta para a pergunta: o homem é sua mente ou seu corpo? É seu corpo e sua mente, nem um nem outro e tudo isso. Um corpo que historicamente e ao seu tempo vem sendo higienizado, definido, dissecado, transplantado, perfurado, reeducado, reorganizado, reabilitado, massageado, rearticulado, tatuado, deformado, representado, interpretado, sofrendo as mais diversas intervenções para significar, para fazer sentido. Hoje alçado à condição fenomenal, agente ativo na produção da experiência, e virtual, um campo de possibilidades que se volta para um ambiente que ele mesmo constrói (Maurice Merleau-Ponty)2; ou ainda como resultado de tempo e espaço (M. Foucault)3, corpo usado como símbolo (ex: hipertrofia no fisiculturismo ou no excesso de exercícios), corpo usado pela ideologia dominante (Karl Marx)4, e finalmente, um corpo-para-outro (Jean-Paul Sartre)5.

É com este corpo-sujeito que a fisioterapia se depara e, se esta não se propõe a pensar este homem, será que haveria um espaço nela para olhar este paciente? Haveria espaço para o terapeuta, no físico que é esta terapia, olhar um corpo cuja essência é sua historicidade afetivo-emocional, social, política e cultural? Haveria maneabilidade para este corpo-sujeito, visto não ser este que o paciente apresenta ao fisioterapeuta, mas sim um corpo objeto, um organismo a ser recuperado, reabilitado, reorganizado, reinserido em suas funções?

Nos próximos textos pretendo dar continuidade a estas questões junto ao psicólogo Levi Leonel em seus conhecimentos em Foucault, Merleau-Ponty, Jean-Paul Sartre e outros.

1Filósofo pré-socrático citado em comunicação pessoal de Levi Leonel.
2Em sua obra Fenomenologia da percepção São Paulo: Martins Fontes, 1999.
3Em sua obra História da Sexualidade São Paulo: Graal Vol. 2, 1984.
4Em sua obra O Capital.
5Em sua obra O ser e o nada – Ensaio de Ontologia Fenomenológica Petrópolis-RJ: Editora Vozes, 2002, 11ª edição.

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Vanusa Barboza