Fundamentos By Henrique Cruz / Share 0 Tweet Atendendo ao interesse expressado pelos leitores dO Pensador Selvagem, quero completar e esclarecer melhor a minha informação anterior sobre a numeração romana. Todas as vezes que lemos uma numeração romana, automaticamente e sem nos darmos conta, “traduzimos” a sua linguagem específica para a nossa linguagem decimal. Lemos os números romanos como se fossem números decimais. Devemos ter sempre presente que os romanos lidavam apenas com símbolos, simples ou compostos, e que fora disso não tinham mais nada. Assim para eles seria incompreensível a simbologia MIM que para nós pode significar o número decimal 1999. Tirar uma unidade de mil é fácil para uma criança que aprendeu as operações aritméticas dos números decimais, mas para os romanos que desconheciam inteiramente a numeração decimal era algo sem significado. Mas vamos ao que interessa. Os primeiros símbolos dos romanos surgiram por volta do século 3 e a sua numeração teve uma larga aceitação dos povos do Mediterrâneo. Não só devido ao poder e à influência dos romanos, mas também por ser de regras simples e fáceis de memorizar. O início da numeração foi obscuro, de tentativas não sistematizadas. Os historiadores dizem que os romanos apreciavam os hieróglifos egípcios e por isso escolheram o símbolo V para o número 5 por parecer uma palma da mão aberta com os seus cinco dedos. O símbolo X veio logo em seguida de duas palmas das mãos juntas, dois V um em cima do outro em posições opostas. Além destes dois símbolos, os romanos criaram o 100 e o 1000, cujos símbolos foram, muito após outras alternativas, definidos como C e M originados das palavras latinas centum e mille. Com apenas quatro símbolos e com a operação mais simples que existe, a soma, estava montada a numeração romana. Mas ela continuou a ser empregada passando pela Idade Média até aos nossos dias e nesse tão longo período, teve uma evolução que consistiu na definição completa das suas regras. A primeira dificuldade foi a de atingir números cada vez maiores que só podiam ser obtidos repetindo, pelo menos, quatro vezes o mesmo símbolo. IIII para 4, XIIII para 14, CCCC para 400 e MMMM para 4000. Por isso foram criados entre 10 e 100 e entre 100 e 1000 os números intermediários L (50) e D (500) destinados a reduzir a extensão da composição. O objetivo destes novos símbolos era só esse, não serviam para qualquer outra finalidade. Mas mesmo assim as extensões ainda continuavam grandes demais e portanto no final da Idade Média foi sistematizado o princípio da subtração, que já era conhecido porém utilizado de forma aleatória. Vejamos um exemplo. O que para os romanos seria mais fácil de ler, era a composição MDCCCCLXXXXVIIII para 1999. Uma leitura corrida contínua de símbolos sem qualquer embaraço. No entanto, para evitar os quádruplos dos símbolos e portanto conseguir uma redução da extensão da composição, foram introduzidos os seguintes símbolos compostos, (entre parênteses os correspondentes valores decimais): IV (4), IX (9), XL (40), XC (90), CD (400) e CM (900). Com isso a composição para 1999 ficou reduzida para MCMXCIX. A sua leitura correta deve considerar as seguintes divisões: M | CM | XC | IX. E ainda mais. O princípio da subtração passou a estar sujeito às seguintes duas regras: 1ª regra – Os símbolos V, L e D não devem ser usados como números a serem subtraidos; 2ª regra – Somente um símbolo de I, X e L pode ser colocado antes do símbolo maior do qual faz parte. É com esta sistematização final que hoje utilizamos a numeração romana. Vários historiadores estudaram a evolução da numeração romana, mas a do historiador alemão Theodor Mommsen, (1817-1903), é geralmente considerada a mais completa. É isso aí.