Um pouco de luz By Ricardo Montero / Share 0 Tweet A lomografia virou assunto entre os descolados. Para alguns, um movimento artístico; para outros, apenas modismo. Mas no que consiste a lomografia, e quais as suas semelhanças e diferenças em relação à prática fotográfica comum? A história da lomografia começa em 1982, quando o Ministério da Indústria e da Defesa Soviético encarregou a empresa Lomo, baseada em Leningrado (atual São Peterburgo), de produzir em massa máquinas… A história da lomografia começa em 1982, quando o Ministério da Indústria e da Defesa Soviético encarregou a empresa Lomo, baseada em Leningrado (atual São Peterburgo), de produzir em massa máquinas fotográficas simples, resistentes e baratas. Baseada na japonesa Cosina CX, a Lomo LC-A era uma câmera compacta muito fácil de usar. Seu mecanismo mantinha o diafragma automaticamente aberto pelo tempo necessário para se obter a exposição, o que permitia longas exposições em condições de pouca luminosidade. Esta curiosa câmera começou a se tornar objeto de culto em todo o mundo a partir de 1991, quando os estudantes austríacos Mathias Fielg e Wolfgang Stranzinger conheceram a pequena LC-A e começaram a utilizá-la em situações cotidianas, sem preocupação com o enquadramento. Inicialmente restrito à vanguarda vienense, o movimento artístico criado em torno da pequena Lomo LC-A passou a ter difusão internacional a partir da formação da Sociedade Lomográfica, cujo primeiro grande evento foi uma mostra simultânea em Nova York e Moscou de milhares de lomografias dispostas em murais. Mas enfim, o que caracteriza uma lomografia? A lomografia enfatiza a espontaneidade da fotografia tirada ao acaso, em detrimento da técnica formal. Para obter imagens que se diferenciem da fotografia tradicional, lomografistas valem-se de um approach voyeurístico com tudo o que possa ser fotografado, exposições múltiplas, cores saturadas (obtidas por processamento cruzado dos negativos), erros de foco ou exposição (muitas vezes propositais) e até mesmo de equipamentos de baixa qualidade (como as câmeras de médio formato chinesas Diana e Holga, com objetivas famosas pela falta de foco e corpos que de tão mal-feitos apresentam frestas que acabam velando os filmes). A difusão (para alguns, moda) da lomografia também deve ser creditada ao agressivo e eficiente marketing da Sociedade Lomográfica, que envolve a programação de eventos em vários países, frases de efeito – como o lema “não pense, apenas clique” – e a comercialização não apenas de Lomos, mas também de Dianas e Holgas, modelos fora-de-linha da Polaroid e mesmo novos equipamentos desenvolvidos para o público lomografista (por exemplo, modelos com lente olho-de-peixe, para instantâneos múltiplos etc.). Com a finalidade de apagar do lomógrafo qualquer resquício de sua educação fotográfica, a Sociedade Holográfica elaborou as “10 regras de ouro da lomografia”: Leve a sua câmera aonde você for. Use sua câmera a qualquer hora, dia ou noite. A Lomografia não interfere na sua vida, ela é parte dela. Experimente fotografar a partir da cintura (isto é, sem enquadrar com os olhos). Aproxime-se o máximo que puder de seu objeto de desejo lomográfico Não pense. Seja rápido. Você não precisa saber antes o que fotografou. E nem (saber) depois. Não se preocupe com as regras. Difícil dissociar a lomografia da palavra “moda”. Recentemente, nota da revista Veja São Paulo falou sobre “a nova mania dos descolados paulistanos”, que organizaram, “numa loja dos Jardins, o vernissage de uma exposição de cliques feitos com a câmera diferentona, nascida na antiga União Soviética, cujas imagens saem divididas em gomos verticais ou horizontais”. Entre os lomógrafos presentes na exposição, os estilistas Alexandre Herchcovitch e Dudu Bertholini, a modelo Carol Trentini e o DJ Johnny Luxo. Está interessado em ser um lomógrafo e não dispõe das câmeras comercializadas pela Sociedade Lomográfica? Sem problemas. Afinal, se desprezarmos os aspectos comerciais do movimento (lembre-se, eles vendem câmeras) e nos ativermos exclusivamente na “atitude”, poderemos praticar a lomografia usando qualquer equipamento suficientemente pequeno. Se substituirmos as câmeras analógicas lomográficas pelas diminutas câmeras digitais de hoje, teremos duas grandes vantagens: a praticidade e economia de não se depender da revelação de negativos, e a possibilidade de uso de manipulação digital de imagens, rompendo a barreira dos limitados efeitos da lomografia analógica. Que os lomógrafos puristas não me crucifiquem, pois estou apenas aplicando a décima regra de ouro da Sociedade Lomográfica. Créditos das fotos, retiradas do site da Sociedade Lomográfica Internacional: 1 – Casper Tvede Jacobsen; 2 – Denis Yakovlev; 3 – Peter Krenn; 4 – Ondrej Bok; 5 – Reyes Sanchez.